Capítulo 18

245 23 3
                                    

Dulce terminou de guardar as compras e fez dois sanduíches de peito de peru.

Acrescentou uma porção de batatas fritas em cada prato, e somente então se lembrou de que Christopher não comia alimentos sólidos.

- Bebida protéica... - pensou em voz alta, olhando ao redor.

Vasculhou a geladeira e encontrou dois frascos com a etiqueta "Para Christopher."

Suspendeu um deles contra a luz e avaliou o líquido vermelho-acobreado. Parecia ser uma espécie de xarope de cereja misturado com calda de chocolate. Ela se debateu sobre o que fazer. Sebastian estava no clube, e Christopher não se lembraria de como preparar a bebida.

Ponderou que, já que era uma solução protéica, na certa estaria pronta para ser consumida. Ela despejou o líquido espesso no copo, e o cheiro de cobre enferrujado, levemente adocicado, penetrou em suas narinas.

- Argh... - gemeu com desgosto, seguindo para biblioteca com a bandeja do jantar.

Christopher a esperava numa das confortáveis poltronas ao lado da lareira. Quando ela entrou, levantou-se prontamente para apanhar a bandeja e colocá-la sobre a escrivaninha.

Dulce se apressou em pegar seu prato, receando que ele se esquecesse da alergia e ficasse tentado a comer o lanche, muito mais apetitoso do que aquele líquido repugnante.

- Você está me punindo por ter de preparar sua refeição?

Dulce levou um momento para perceber que ele se referia ao copo com a bebida.

- Sebastian disse que você é alérgico a alimentos sólidos. Ele deixou dois frascos com seu nome na geladeira, e imaginei que é o que você normalmente ingere.

Christopher perscrutou o copo antes de lançar um olhar divertido para ela.

- Tem certeza de que não está tentando me envenenar por eu ter sido um grosseirão miserável desde que você chegou?

- Você nunca foi um grosseirão miserável! - ela afirmou, sorrindo com a escolha das palavras.

Ele sorriu, visivelmente agradado. Levou o copo à boca e tomou um gole hesitante.

- Até que não é mal - comentou, passando a língua pelos lábios. - Ficaria melhor se estivesse quente. Quer experimentar?

- Oh, não, obrigada! Ficarei com meu sanduíche.

Christopher se sentou ao lado dela no sofá, e a presença poderosa a envolveu.

- O jantar está do seu agrado?

Ela o encarou, e Christopher fez um gesto indicando o sanduíche esquecido na mão dela.

- Oh... - ela balbuciou com um riso tímido. - Sim, está ótimo.

Dulce fixou os olhos cor de âmbar resplandecendo na luz das chamas da lareira.

Poderia se perder naqueles olhos.

Ela endireitou a coluna e se obrigou a terminar de comer, o que se tornava cada vez mais difícil com aquele olhar irresistível acariciando-a como se fossem dedos sobre sua pele.

Christopher retirou o prato vazio das mãos dela e colocou-o sobre a mesa de centro.

- Dulce, nós vamos esperar pelo casamento para consumarmos nossa união - ele murmurou com pesar. - É o que você quer, e o mais certo a fazer.

O coração dela pulsou mais forte no peito.

- Obrigada por compreender, Christopher

- Por que está tão nervosa?

Ela riu e ergueu os ombros, gaguejando uma resposta qualquer. Aqueles dois irmãos pareciam ter poderes telepáticos!

- Venha cá...

Christopher a puxou para mais perto e passou o braço possessivo sobre seus ombros.

Dulce ficou estática por alguns momentos, receando que até mesmo o contato inocente pudesse ser estimulante para ele.

No entanto, a mão se manteve imóvel sobre o braço dela. Aos poucos, Dulce relaxou e passou a usufruir a agradável sensação de calor e segurança proporcionada pela proximidade.

- Fale sobre sua vida, Dulce - ele pediu com sincero interesse.

- O que você quer saber?

Ela tentou ganhar tempo, refletindo sobre como adaptar o presente para que ele não percebesse a discrepância com a época que julgava estar.

- Quero saber tudo. Claro, se você se sentir à vontade para me contar.

Dulce suspirou. Mesmo tensa com a delicadeza da situação, ela estava absolutamente encantada com o cavalheirismo de Christopher. Como seria bom se realmente estivessem vivendo na era vitoriana! Era impossível encontrar um homem como ele nos dias atuais.

Memórias De Um Vampiro - Adaptada - Vondy. Onde histórias criam vida. Descubra agora