Capítulo 9

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Ele o encontrou na biblioteca, uma ampla sala cheia de livros e CDs, o lugar favorito de Christopher no apartamento. Estava sentado numa cadeira com ás pernas cruzadas, completamente relaxado.

- Aí está você! - Christopher saudou com um sorriso caloroso, e fez um gesto na direção dos dois copos de uísque sobre a mesa. - Achei que devíamos celebrar.

Sebastian pestanejou. Não se lembrava da última vez que vira aquele sorriso, certamente nunca depois que Christopher se transformara numa criatura das trevas. E, o mais estranho, estava celebrando?!

- Duce está tomando o desjejum?

- Sim. Ela está bem.

- Ótimo. - Christopher se levantou e seguiu na direção da imensa lareira que ocupava uma das paredes. Atiçou as brasas e voltou para perto do irmão. - Ela não é adorável?

- Dulce? Sim, ela é especial.

Sebastian o avaliou discretamente; Por que se comportava com tanta formalidade?

E de onde vinha aquele acento britânico tão pronunciado? Os dois haviam perdido o sotaque por completo ao longo das décadas.

Christopher apanhou um copo e voltou para perto da lareira, apoiando o braço sobre o mantel. Tomou um gole do líquido dourado e suspirou.

- Estou satisfeito com o matrimônio, devo dizer. Quando papai me disse que havia arranjado meu casamento com uma americana, fiquei muito aborrecido.

Sebastian se lembrava, embora o incidente tivesse acontecido quase duzentos anos atrás. Seria por isso que Christopher falava e agia de forma tão estranha? De alguma forma, acreditava que voltara ao século XIX em plena Inglaterra?

- Eu imaginava uma mulher empurrando um arado pelos campos o dia todo...

Sebastian levou alguns segundos para compreender do que ele estava falando.

- Uma mulher sem classe, uma selvagem, na verdade. Mas, em respeito aos nossos pais, eu teria me casado com ela mesmo assim.

Sebastian quase riu alto. O irmão, na certa, guardava algum registro anêmico da noiva americana destinada a ele duzentos anos atrás. Não se lembrava do nome dela...

Bertha, se não estava enganado. Aquela, sim, era uma quase selvagem sem nenhuma atração. De fato, desejou ter se lembrado dela muito tempo antes. Quando Christopher se lamentasse por ser um vampiro, o que era freqüente, poderia remetê-lo ao passado e fazê-lo pensar como seria viver e morrer nos braços de Bertha.

O que o fez lembrar-se do mistério sobre Dulce. Quem era ela, e o que acontecera naquele beco na noite anterior? Ela não sabia, e era óbvio que Christopher tampouco tinha a menor pista. Ele parecia enfeitiçado e feliz por estar de volta à velha Inglaterra.

Sebastian se concentrou na conversa. Não parecia haver nada fisicamente errado com o irmão. Até o ferimento no pescoço havia se restaurado por completo. No entanto, por que agia daquela forma? Ele era racional demais para perder a sanidade.

- Onde estão Christian e Elizabeth? Quero que conheçam Dulce. Eles vão adorá-la!

De repente, a situação não pareceu mais ser tão divertida para Sebastian. De alguma forma, ele havia se esquecido dos fatos de dois séculos passados e de toda dor que ficara para trás. A morte de Elizabeth, o ódio de Christian pelos irmãos, especialmente por Christopher. Lilah.

Como pudera se esquecer? A perda de Elizabeth devastara Christopher. Ele seguira em frente, mas nunca mais fora o mesmo. Não era justo que tivesse de reviver a dor de perdê-la mais uma vez.

De súbito, Sebastian interrompeu o curso das reflexões. Se Christopher não se lembrava da morte de Elizabeth nem do ódio de Christian, obviamente havia se esquecido de que era um vampiro.

- Sebastian, você está a uma milha de distância! Você me ouviu? Onde estão Elizabeth e Christian?

- Eles estão... Eles foram para o campo - Sebastian respondeu apressadamente. Qual era mesmo o nome daquele velho lugar?

- Estão em Rothmere?

- Sim, isso mesmo. Christian levou Elizabeth para festa na propriedade da amiga dela, lembra?

Christopher franziu a testa, obviamente tentando se lembrar.

- Elizabeth vive cheia de compromissos. Não consigo saber de tudo que ela faz.

Sebastian tomou um gole do uísque. Aquilo era muito estranho. Jamais poderia imaginar que um vampiro pudesse ter amnésia, e tudo indicava que era o mal de Christopher.

Memórias De Um Vampiro - Adaptada - Vondy. Onde histórias criam vida. Descubra agora