Silêncio - Não deixe que vejam

𝙿𝚁𝙾𝙻𝙾𝙶𝙾 - 𝙽𝙰𝚁𝚁𝙰𝙳𝙾𝚁

AH, A VIZINHANÇA Azul de Becker Hills, um lugar pacato e extremamente bom de se viver; com belas paisagens, escolas excelentes, pessoas de coração bondoso e famílias extremamente unidas. A vizinhança perfeita para se encontrar amizades verdadeiras e fidelidade. Tudo é extremamente belo em uma primeira olhada; contudo, as construções em tons azulados e as cercas de madeira extremamente brancas escondem os segredos obscuros de seus moradores.

Dentre as famílias altamente disfuncionais que vivem de aparências, está a família Magnussen que, talvez, seja a mais disfuncional de todas as famílias da vizinhança. A família é composta por quatro membros, o pai, a mãe — dos quais decidi, por bem, não revelar os nomes; Lucas, o filho mais velho e Amélia, a filha mais nova.

Os habitantes da bela vizinhança conhecem os Magnussen como a família de aço, pois nada, nem ninguém, parece ser capaz de apagar o sorriso de seus rostos... contudo, vamos por partes, para que vocês, caros espectadores, sejam capazes de melhor vislumbrar o caos que cerca a medíocre família. Sua estabilidade emocional não passa de uma fachada que esconde toda a dor, tristeza e transtorno que os envolvem.

Comecemos pelo mais simples; o patriarca trai a matriarca, não estou dizendo que tal fato é novidade, pois não o é. Ele sempre a traiu, desde o início de seu relacionamento e, é como as avós costumam dizer: pau que nasce torto, morre torto, em uma clara metáfora para "você não será capaz de consertar aquilo que começa estragado". A mulher de longos cabelos em tom louro escuro deveria ter se atentado a isto, deveria ter dado ouvidos à sua família que, desde o princípio, fora contra o relacionamento.

O homem de fios negros, que beira seus quarenta anos, sempre a pôs para baixo, nunca mediu esforços para deixar claro o quão gorda ela estava, ou que fulana tinha peitos mais "apetitosos" e cicrana tinha uma linda bunda. Ele costumava lhe dizer que, para consertar seu rosto, seriam necessárias várias cirurgias plásticas; de fato, o envenenamento foi tamanho que hoje, vinte anos depois de casados, a matriarca está irreconhecível, aparenta-se mais com uma boneca de plástico do que com um ser humano propriamente dito... e não, caros espectadores, toda essa plástica não fez com que seu marido lhe fosse fiel, para ser sincero, as cirurgias surtiram o efeito contrário, tendo em vista que ele passou a traí-la com maior frequência depois das mesmas.

No intuito de fugir da dor causada pela traição e pelas mudanças em seu corpo, a mulher de trinta e nove anos se esconde atrás de frascos de bebidas; o que nos leva ao momento atual, no qual uma garota desesperada olha para a mãe que está estirada ao chão rodeada de vômito e cacos de vidro que, outrora, formavam uma garrafa de whisky extremamente cara.

Seu pai não está em casa, ele raramente fica por lá, está sempre inventando desculpas, entrevistas de emprego, reuniões com acionistas, reuniões com os funcionários... viagens de negócios. Essas são as piores, suas camisas voltaram com marcas de batom e exalando perfume feminino em todas as vezes nas quais ele alegou estar fazendo uma viagem de negócios. Era demasiadamente nítido o fato de que ele estava a mentir.

Lucas também não se encontra, muito provavelmente está em uma das famigeradas festas que costuma frequentar, assim mesmo, no meio da semana. Desde que desistiu de fazer um curso superior e de que seu pai lhe acusou de ser um desgosto para a família, o garoto de dezenove anos mudou da água para o vinagre; sim, vinagre, pois vinho ainda possui um teor adocicado e Lucas Gideon Magnussen se tornou amargo.

Amélia se lembra vagamente de como as coisas costumavam ser antes da chegada do estopim causado pela negação de seu irmão a ir para uma faculdade. Depois deste dia as coisas parecem estar a desmoronar cada vez mais rápido, é como se a família toda estivesse dentro de um trem bala, com freios quebrados e prestes a colidir contra uma parede maciça.

A garota de cabelos platinados costumava ser extremamente próxima de seu irmão mais velho, ainda que uma distância de quatro anos os separasse e que cada um tivesse seu próprio círculo de amizade, eles sempre faziam questão de passar um tempo juntos, jogando RPG's de mesa, videogames, assistindo a filmes e séries; lendo ou simplesmente conversando sobre a vida e os seus sonhos. Porém, na situação atual, os irmãos mal se olham, mal se cumprimentam, quem dirá rir como costumavam fazer.

Ela se sente perdida, é como se fosse uma estranha em sua própria família, como se todos tivessem mudado e ela tivesse permanecido a mesma... bem, quase a mesma, a Amélia de dois anos atrás não se masturbaria pensando na melhor amiga.

Sua cabeça é meneada repetidas vezes, no intuito de se livrar dos pensamentos que a inundam para que, desta forma, fosse capaz de focar no que realmente importa: achar uma solução para a situação na qual a matriarca se encontra. Os lábios são mordiscados repetidas vezes enquanto os olhos azuis procuram pelo telefone fixo da casa, recentemente todos os móveis foram mudados de lugar e a jovem está sem celular, pois este encontra-se carregando no quarto; sua única opção para chamar ajuda é buscar o telefone residencial e fazê-lo na maneira antiga.

Após encontrar o telefone, cogitou ligar para seu pai, porém não tem certeza de que ele será de muita valia, é quase certo que a matriarca havia caído na bebedeira depois de descobrir sobre mais uma traição. Essa era a única coisa que a fazia beber tanto: descobrir sobre a traição do marido. Optou, sabiamente, por ligar para o hospital da cidade vizinha, hospital no qual seu tio, por parte de mãe, é médico residente. Foi instruída por seu pai a ligar para lá quando sua mãe tivesse se imergido em situações que pudessem acabar com a boa imagem da família... aquele hospital era bem discreto com a identidade de seus pacientes e ninguém lá, além de seu tio, conhecia a matriarca.

A ambulância não tardou a chegar e logo mãe e filha estavam rumando ao hospital.

HEY MEU POVO QUE COME PÃO COM OVO!

Qual é a boa?

Eu sei, eu sei, já havia postado uma história com este título e os mesmos personagens e sim, se trata do mesmo enredo, porém amadurecido.

Me contem o que acharam do capitulo, por obséquio.