— NANDO BECKETT —
Bufo, indignado comigo mesmo. Física era e sempre foi o meu inferno. Não acredito que essa maldita matéria me acompanhou até na faculdade. Achei que eu estaria livre, mas pelo visto... quebrei a cara, para variar...
— Lei da atração? — Eddy questionou, olhando meu livro aberto, atrás de mim. — Em que ano você está? Ensino fundamental? — Zombou, seguindo para a cama e pegando um dos seus enormes livros que ele nunca deixa de lado.
— Olha, eu não entendi nada do que a professora passou. Parecia está falando grego. Então estou estudando o básico para entender o avançado, ok? — Rebato, impaciente com sua prepotência. Ele suspirou, me olhando com sua expressão indiferente e monótona.
— Vai precisar muito mais do que um dia para entender somente o básico. — Ditou, como se fosse óbvio.
— Você nem estuda e já sabe todas as matérias, até antes mesmo dos professores passarem. Então por que eu não conseguiria?! — Questiono, irritado. Ele riu, negando.
— Você acha que eu não estudo? É claro que agora eu não preciso dá meu sangue em muitas questões, mas eu não nasci sabendo. — Ditou, seriamente. O encaro, agora curioso.
— E quem te ensinou? — Ele riu sem humor, abrindo novamente seu livro e pondo os fones de ouvido.
— A vida. — Foi tudo que disse, voltando a ignorar minha presença. Eu esperava ouvir sobre seus pais ou algum parente, mas aquela resposta despertou minha curiosidade. Eddy era tão misterioso, e nas reuniões de pais eu nunca o via, consequentemente, eu não sabia quem era a família dele. Isso desde o fundamental. Eu sempre ia com os meus pais, e Eddy nunca estava presente.
Muitos diziam que ele tinha fobia social, por isso era tão isolado. Mas ele apresentava trabalhos e projetos como se fosse um professor de verdade. Seus trabalhos eram sempre impecáveis, tanto na escola quanto na faculdade. Mas em quesito de amigos e convívio social... era muito raro vê-lo conversando com alguém. Eu só vejo ele dialogando com professores sobre assuntos das aulas, e nem é por questões de dúvida, mas justamente pelo professor chamar Eddy para questionar sobre alguns pontos ou elogiar algum trabalho.
Ele sempre foi sozinho e isso me intriga de uma maneira absurda. Até mesmo aqueles que sofrem bullying, ou que são os “excluídos” da turma, têm um ou dois amigos que sempre estão por perto. Mas Eddy não. Ele era sozinho e era admirado por sua beleza e inteligência. Alguns poderiam até odiá-lo, mas nunca ninguém levantou um dedo sequer para confrontá-lo.
Céus...! Estou ficando louco!
— Eddy... — Chamo, vendo ele me olhar com descaso, como sempre. — Pode me ajudar com essa matéria? — Peço, em um tom calmo.
— Não sou tutor. — Ditou, voltando seu olhar para o livro.
— É melhor. — Rebato, vendo ele me encarar de uma forma indecifrável. — Por favor... — insisto, vendo ele suspirar, revirando os olhos e deixando o livro de lado, vindo em minha direção e puxando uma cadeira para o meu lado. Sorri, agradecido.
— Não vou pegar leve com você. — Ditou, em um tom sério.
— Sim, senhor. — Brinco, sorrindo levemente. Ele olhou a matéria por cima, passando algumas páginas.
— Isso qualquer criança sabe. Atração e repulsão. Cargas positivas se repelem, cargas opostas se atraem. — Ditou, sucinto.
— Eu acredito nisso. — Murmuro, o encarando. Ele me olhou, parecendo entender meu comentário.
— Exercício. — Disse, baixo, o que me deixou confuso.
— Hã?
— Exercícios. Cinco questões. Faça. — Ordenou, apontando para o livro.
— Mas eu não entendi quase nada. — Eddy suspirou, se ajeitando na cadeira.
— Quando você está construindo uma casa, a base a parte mais simples de todo o trabalho. O que vai render seu esforço, é o levantamento da casa. Da mesma forma são os estudos. A teoria sempre será uma base. Você estuda um ponto de determinado assunto e faz questões sobre ela. Só assim saberá se realmente aprendeu.
— Mas eu preciso estudar o conteúdo todo antes, não? — Ele negou de imediato, pegando uma caneta.
— Não. Na teoria você sempre vai achar que é fácil demais, que você entende tudo. A prática é a hora da verdade, por isso muitos fogem dela. Cada assunto de determinada matéria têm incontáveis pontos dentro dele, e cada um desses pontos têm um assunto diferente, mas que se conectam. Então, você estuda um ponto e faz exercícios sobre ele. Só quando você realmente aprender e desenvolver a prática com facilidade, é que você pode partir para o segundo ponto e assim sucessivamente. Entendeu? Isso, é um método de quem sabe realmente estudar, e não simplesmente ficar enrolando com resumos enormes que não te levarão a lugar algum, muito menos entender a matéria em si. Só vai está perdendo tempo. — Sorri, abismado.
— Você devia ser professor da faculdade e não aluno. — Falo, vendo ele sorri descontraído. Aquilo me prendeu. Era tão raro vê-lo sorrindo. Na verdade, acho que só vi uma única vez, no fundamental. Nunca me esqueci daquele momento. Na verdade, nunca esqueci qualquer momento que envolvesse ele. Tudo ainda estava fresco em minha memória.
— O que está esperando para começar? — Eddy questionou, me tirando dos meus devaneios. Sorri, assentindo.
— Tudo bem. — Pego um lápis, começando a ler a primeira questão, enquanto Eddy tirava todas as minhas dúvidas, que não eram poucas, sobre todos os pontos e até mesmo nas questões.
Foi o melhor dia de estudos da minha vida.
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Doutor Gelo - (Romance Gay)
Conto"- Ele era tão imprevisível... e talvez, só talvez, seja o motivo da minha extrema obsessão por ele." "- Não preciso de ninguém ao meu lado. Pessoas são tóxicas por natureza, e o mínimo que quero é distância. Nada vai mudar isso."