— NANDO BECKETT —
Entramos na sala do diretor, que já nos aguardava com uma cara nada boa.
— Por acaso eu preciso repetir as regras da instituição para que vocês compreendam? — O diretor questionou, rígido.
— Foi só um beijo. Nada demais. — Falo, e ele rapidamente me olha.
— Só um beijo?! E se a inspetora não tivesse entrado?! Continuaria sendo só um beijo?! — Exclamou, e então olhou para Eddy. — E você...? Está querendo chamar atenção? Já não basta os comentários que rolam na instituição?! E você me arruma mais essa, Edward?! — Questionou, irritado. Eddy estreitou o olhar, cruzando os braços.
— Ouça... até onde essa discussão vai? Eu tenho matéria para estudar e um horário a seguir. — Falou, indiferente. Aquele seu jeito frio havia retornado, e talvez em dobro quando olhava para o diretor.
— Está menosprezando a gravidade da situação? Acha que isso aqui é o quê? Um motel para vocês fazerem o que bem querem?! — O diretor questionou, irritado.
— Alunos transam todos os dias e você não faz absolutamente nada. Somos bons alunos e isso foi apenas um deslize. — Eddy falou, e o diretor riu, desacreditado.
— Você só me decepciona, Edward... — Murmurou, me deixando confuso.
— Como decepciona?! Ele é o melhor aluno da universidade inteira. Só por causa de um beijo vai rebaixá-lo?! — Questiono e Eddy suspira, se levantando.
— Não perca seu tempo, Fernando. Para ele nada nunca vai está bom o suficiente. Vamos embora. — Eddy ditou, puxando meu braço.
— Espere aí, eu não terminei! — O diretor exclamou e Eddy o encarou rapidamente.
— O que pretende fazer?! Nos separar? Se fizer isso, eu garanto que vai ter muito mais problemas do que um simples beijo, Sr. Diretor. — Eddy ditou, frio, o que me fez arregalar os olhos. Antes que o diretor falasse algo, Eddy me puxou para fora dali, voltando para o nosso quarto.
— Ok... o que foi isso?! — Questiono, espantado. Eddy se sentou na cama, suspirando.
— É problema meu, Fernando. Você não vai ser prejudicado. — Falou, me deixando mais confuso ainda.
— Eddy, não estou preocupado com isso, mas com você. É o melhor aluno da universidade, por que ele agiu com você daquela forma? — Questiono e Eddy suspira, incomodado.
— Boa noite, Fernando. — Ditou, me virando as costas e se cobrindo com o edredom, o que me fez suspirar, resolvendo não insistir mais e ir dormir.
. . . .
— Agora vai me explicar? — Questiono, encontrando Eddy na biblioteca. Ele não havia ido para o refeitório hoje, então só tinha um lugar que ele sempre ia, que era a biblioteca.
— Isso não é assunto seu, Fernando! — Exclamou, impaciente.
— Agora é porque eu também estou envolvido nisso! — Falo, me sentando ao seu lado. Eddy suspirou, incomodado, tentando me ignorar, mas tiro o livro das suas mãos e ele finalmente me olha.
— Fernando, não me faça perder a paciência com você! — Ditou, irritado.
— Eu não estou nem aí! Você vai ter que me explicar isso e não vou deixar você sair enquanto não me dizer o que está acontecendo. Porque, no mínimo, estaríamos nesse momento em quartos separados, chamariam meus pais e eu poderia até perder meu curso por causa disso. No entanto, nada aconteceu. Eddy, por favor... Não confia em mim? — Ele me olhou, respirando fundo.
— Aquele homem é o meu pai, satisfeito?! — Ditou, me deixando petrificado.
— O quê...? Mas... como nunca me disse isso?
— Ele finge não ter filhos e eu finjo não ter pai. Simples. — Falou, ácido. Suspiro, pensando bem antes de dizer qualquer coisa. Era um assunto delicado e que me fez perceber que eu não sabia nada sobre a vida de Eddy.
— Eddy... desculpa insistir, mas... o que houve entre vocês para agirem dessa forma? — Questiono e Eddy suspira, claramente incomodado com aquele assunto.
— Ele me odeia por N motivos. — Ditou, e eu o encaro, não conseguindo entender.
— Como te odiaria? Eddy... você é o filho que todo pai sonha ter. Bom, ao menos meu pai iria te idolatrar. — Comento e ele ri sem humor.
— Nada do que eu faço é bom o suficiente para ele. Sempre foi assim. E aos 11 anos ele me expulsou de casa, quando... eu me assumi gay. Enfim... — Falou, me deixando sem palavras. Eddy passou por tanta coisa, e mesmo assim todos acreditam que a vida dele é perfeita. Isso é tão confuso que eu não sei nem o que dizer, o que pensar...
— E... como você viveu depois disso? — Ele deu de ombros, suspirando.
— Morando sozinho, tendo ajuda da minha avó. Graças a ela, nunca passei necessidade. Depois que ela morreu, deixou tudo para mim, como um meio de suprir tudo que passei. Meu pai... ficou furioso, mas não pôde fazer nada. Ele depende de mim. — Explicou, em um tom baixo.
— Mesmo depois de tudo... você ainda o ajuda? — Questiono e ele me encara.
— Continua sendo meu pai. Só eu sei como é a dor de ser abandonado. E por mais que ele mereça, não sou vingativo. Isso só vai piorar as coisas.
— Por isso ele não fez nada contra você...? — Questiono, e ele pondera.
— A faculdade está em meu nome, porque era da minha avó. Então, ele não pode fazer muita coisa. De qualquer forma, cansei desse assunto. Tenho aula e você também. — Ditou, se levantando. Mas antes que ele saísse da biblioteca o puxo pelo braço, o abraçando fortemente, notando ele ficar surpreso. — Fernando! Só porque sou dono da faculdade, não significa que gosto de quebrar regras! Me solte! — Exclamou.
— Desculpa... eu não sabia que você passava por tudo isso sozinho. Você sabe que pode contar comigo sempre, não sabe? — Falo, o olhando nos olhos.
— Eu tenho que ir para a aula... — Ditou, saindo da biblioteca.
Algo me diz que ele passou muito mais do que isso...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Doutor Gelo - (Romance Gay)
Conto"- Ele era tão imprevisível... e talvez, só talvez, seja o motivo da minha extrema obsessão por ele." "- Não preciso de ninguém ao meu lado. Pessoas são tóxicas por natureza, e o mínimo que quero é distância. Nada vai mudar isso."