RECONCILIAÇÃO?

2.4K 309 68
                                    

— NANDO BECKETT —

Suspiro, tentando me concentrar na leitura do livro enquanto ouvia uma Playlist de músicas internacionais. Eu não estava a fim de falar com ninguém, meu mal humor estava nítido e amanhã eu teria prova, para aumentar a minha “felicidade”.

Estava no Campus, sentado no gramado e encostado na grande árvore, escondido da inspetora, já que eu tinha uma latinha de cerveja em mãos, na busca de que a bebida me acalmasse.

Como hoje não teria aulas para mim, aproveitei para tentar estudar, e usar a prova como desculpa para não falar com ninguém. Estava no meu pior humor, então, estava fazendo um favor para as pessoas.

— Geralmente, eu que fico aqui. — Alguém falou, retirando meus fones de ouvido. Olho para frente, vendo Eddy, com um livro em mãos. Não era o livro que necessitava ler para as provas. Era um livro qualquer, que ele lia por prazer. Ele nunca estuda?! Como tira boas notas?!

— Não tem seu nome aqui! — Rebato, irritado, tentando voltar a estudar, ou fingir que não estava nem aí para ele. Aquela imagem dele com aquela garota não saía da minha cabeça.

— Ora, veja só... tenta me estrupar e você que fica irritado? Garoto infantil. — Resmungou, com desdém. Suspiro, fechando o livro e me levantando, o encarando impaciente.

— O que quer que eu faça?! Me ajoelhe? Peça perdão? Aliás, não fui até o fim, então não tem o porquê ficar jogando na minha cara o tempo todo! — Tento sair, mas ele segura meu braço, me empurrando contra a árvore facilmente. Pela primeira vez, ele expressava uma certa raiva.

— Você realmente não entende, não é Fernando?! Eu sinceramente odeio infantilidade, e você é o exemplo perfeito disso. Cresça, Fernando. E então você me procura. — Ditou, pegando minha cerveja, a derramando e jogando fora, me olhando indiferente. — E de nada. — insinuou, apontando com a cabeça para a inspetora, que estava andando pelo Campus. Eddy saiu, me deixando sozinho novamente.

Bufo, agora completamente confuso. O que ele quis dizer? “e depois me procura”... Isso quer dizer que ele me perdoaria? Bem, se não fosse isso, ele não teria me procurado, ou foi só uma coincidência? Ahgr! Isso vai me enlouquecer!

De qualquer forma, ele tinha razão. Eu já não sou mais um adolescente. Eu precisava deixar de lado os problemas pequenos e realmente pensar no meu futuro, no que eu quero me tornar.

Suspiro profundamente, retornando ao meu quarto, me sentando na cadeira, colocando o livro sobre a escrivaninha e ligando o computador. Até o momento eu estava fazendo um curso geral, mas não sabia ao certo o que eu queria ser, no que eu teria orgulho em dizer que estava formado.

Sei que meu pai, em especial, adoraria me ver no exército ou na advocacia, mas nenhuma dessas áreas realmente me interessa. Já bastou a escola militar para saber que isso não é minha praia.

Pesquiso sobre algumas áreas, anotando em meu bloco de notas os que eu possivelmente faria, ou pensaria no caso. Até que um anúncio no site me chamou a atenção.

“Inscrições abertas para voluntários que desejam ensinar crianças de classe baixa, de 1 à 19 anos de idade”

Professor...

Sorri, abrindo o anúncio e entendendo melhor como iria funcionar isso. Nunca passou pela minha cabeça trabalhar com crianças ou adolescentes e muito menos ensinar, afinal, eu não sou um exemplo de aluno.

Abro outra aba de pesquisa, agora procurando saber mais sobre a área de Pedagogia, pesquisando as áreas dentro dela e seu papel na profissão.

Respiro fundo, enlaçando meus dedos à frente da minha boca, pensando e repensando na ideia. Eu poderia tentar...

Sem pensar duas vezes, faço minha inscrição no anúncio, e marco Pedagogia como meu objetivo principal. Podia ser interessante e eu estava animado com essa ideia.

Pego meu celular, ligando para minha mãe. Eu queria dá essa notícia, afinal eu estava extremamente feliz com a ideia. Meu humor mudou repentinamente com isso.

— Oi, filho! Aconteceu algo? — Minha mãe atendeu, com seu tom doce de sempre.

— Aconteceu. Eu já sei no que eu quero me especializar.

— Jura?! Que notícia maravilhosa, meu amor! E no que é?

— Eu quero ser professor! Vou mudar meu curso para Pedagogia. — Informo, animado. Mas minha mãe ficou em silêncio por um bom tempo, até chequei para ver se a ligação não tinha caído. —Mãe?

— Ah... mas... tem certeza? Nando, isso não tem nada a ver com você. Pedagogia é coisa de mulher...

— O que está dizendo, mãe?! Eu tenho vários professores homens e eles são excelentes. — Falo, desacreditado. Não imaginaria que a reação da minha mãe seria essa.

— E a maioria deve ser gay! — Rebateu, com certo nojo, o que me fez suspirar. Eu estava descobrindo um lado da minha mãe na qual eu não conhecia.

— Nem todos. E se forem?! Algum problema?!

— Hey, olha o tom, Nando! Eu só estou comentando. Não pega bem, e você... não combina com isso. Suas notas estão horríveis, como quer ensinar alguém se nem mesmo tira notas boas?! Sabe muito bem que seu pai não vai aprovar.

— Achei que ficaria feliz com a ideia de ter um filho professor. Mas mesmo que não goste, eu só liguei para informar minha decisão, e eu não vou voltar atrás. — Falo, encerrando a ligação, um pouco abatido, mas não menos empolgado. Pela primeira vez eu realmente queria fazer algo na minha vida, e só porque uma ou outra pessoa não gostou, não quer dizer que vou desistir.

Eu tenho que agradar a mim, não aos demais.

Suspiro, me levantando e me assustando ao ver Eddy parado, de braços cruzados e me olhando com um sorriso curto.

— Você... está aí há muito tempo? — Questiono, um pouco envergonhado.

— Não muito, mas tempo suficiente para ouvir que quer ser professor.

— Olha, se veio zombar de mim, pode ir...

— Eu apoio. — Me cortou, chamando minha atenção.

— Você apoia? — Questiono, confuso. Ele assentiu, ajeitando seus óculos de grau e cruzando os braços.

— Você pode ser o que você quiser, Fernando. Desde que ame fazer, saiba fazer e queira fazer. — Falou, o que me fez sorri meio sem jeito.

— Eu vou me empenhar... Eu prometo. — Falo, vendo ele sorri mais uma vez.

— Se fizer isso... pode me pagar um jantar. — Ditou, me pegando extremamente de surpresa.

— Quê?! E-eu... — Ele apenas sorriu, balançando a cabeça e me virando às costas, saindo do quarto.

Sorri, desacreditado, voltando às pressas para a escrivaninha e preparando meu material necessário para os estudos.

Dessa vez eu vou fazer direito!

Doutor Gelo - (Romance Gay) Onde histórias criam vida. Descubra agora