OUTRA PERSPECTIVA

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— NANDO BECKETT —

Então o senhor deseja mudar o curso para Pedagogia, Sr. Beckett? — A coordenação questionou, transmitindo o áudio de voz pelo Tablet. Analiso bem antes as opções de curso e qual seria meus materiais de estudo.

— Isso. O mais rápido que puder. — Respondo, sentado em minha cama e com uma caixa particularmente grande que chegou há poucos minutos para mim. Uma encomenda rápida que fiz e estava realmente ansioso para ver se tudo estava certinho. Mas antes, eu precisava garantir minha mudança de curso.

Muito bem, Sr. Beckett. Conseguimos arrumar uma vaga na área de Pedagogia. É só assinar os devidos documentos na sala do seu diretor e poderá começar suas novas aulas na semana que vem. — Recebo a resposta em poucos minutos. Fiquei feliz por essa administração digital ser realmente veloz e atender as dúvidas dos alunos em pouco tempo.

— Obrigado. Mas eu preciso continuar frequentando as aulas esta semana? — Questiono, enviando o áudio em seguida, e enquanto a coordenação não me respondia, abri o site da universidade, exibindo a matriz curricular de Pedagogia. Era um vasto acervo de estudos e que eu realmente estava animado para começar.

Então, Sr. Beckett, como está em semana de provas, peço que frequente as aulas e termine as provas, para garantir que não terá nenhuma complicação na mudança de curso. — Assenti, pensativo. Tudo bem, as provas não estavam me assustando tanto quanto antes.

— Sem problemas. Obrigado. — Respondo, fechando a aba de conversas e anotando em um bloco de notas a matriz curricular de Pedagogia.

Nunca pensei que um dia eu ia achar necessário usar uma agenda.

Mas eu queria estar por dentro de tudo que envolvesse minha nova área, isso inclui aulas, datas de provas e trabalhos e o que eu iria estudar na aula naquele dia.

Nunca pensei que me tornaria esse tipo de pessoa, mas bem... eu me tornei. E estou gostando.

Guardo o Tablet, me ajeitando na cama e abrindo a caixa, vendo livros de séries iniciais e do fundamental. Depois daquele anúncio pedindo voluntários eu estava em dúvida se iria tentar com crianças ou com adolescentes.

Certamente, crianças são muito mais fáceis de lidar do que adolescentes, mas como o meu eu não tão antigo adolescente rebelde vivia até pouco tempo dentro de mim, posso dizer que entendo a cabeça deles, e de como eu queria que os professores agissem comigo, mas eles não agiam, então, acho que já tenho minha decisão.

Me levanto da cama, procurando meu celular abandonado em algum lugar do quarto, até que finalmente o encontro e digito o número posto no anúncio, na qual eu anotei em um papel.

Comunidade Elite, em que posso ajudá-lo? — Uma mulher atendeu, e logo pude ouvir vozes de crianças ao fundo.

— Bom dia, eu me chamo Fernando Beckett, um dos voluntários para professor.

Ah, bom dia, Sr. Beckett. Algum problema com o site?

— Não, não. Nenhum. É que no anúncio eles pedem para ligar nesse número e decidir a faixa etária dos alunos que escolher para ensinar. — Explico, um tanto quanto nervoso.

Exatamente. E o que senhor decidiu?

— É... só uma dúvida antes... Eu ainda não iniciei meu curso de Pedagogia, mas realmente me interessei com o anúncio e gostaria de poder ajudar. Tem algum problema?

É normal ter essa dúvida. Nas instituições municipais e estaduais, enfim, é necessário sim uma formação docente, mas aqui são crianças e adolescentes que não têm condições de irem a uma escola de verdade, então unimos uma equipe, alguns com formações necessárias para administração, mas em relação ao corpo docente estamos atrás de voluntários que possa mostrar a essas crianças e adolescentes um futuro brilhante. E que elas podem conseguir tudo que desejar, basta querer. Então, se tiver formação é ótimo, mas se não tiver, tudo bem também. Estamos realmente precisando de voluntários. — Sorri, suspirando profundamente.

— Certo, obrigado. Bem... eu quero trabalhar com a turma da 9° série. — Decido, ajeitando os livros sob a escrivaninha.

— Oh, sério? — A mulher questionou, surpresa.

— Por quê? Algum problema? — Ouço ela suspirar, passando alguns segundos em silêncio.

É uma turma complicada... Muitos voluntários desistiram desta turma.

— Esse é o problema. Os professores desistem. Por favor, confirme minha decisão. — Falo, convicto.

— Tudo bem. Quantos anos o senhor tem mesmo?

— 22.

— Novinho. Parabéns pela atitude. Qual sua disposição de horário?

— À noite.

Tudo certo, Sr. Beckett. Pode começar quando quiser. — Confiro minhas anotações bagunçadas no bloco de notas, conferindo o que eu tinha para essa semana. Realmente seria uma semana agitada.

— Pode ser na próxima semana?

— Claro. Avisarei a coordenação que já temos um voluntário para o 9° ano para a próxima semana, correto?

— Correto.

Muito obrigada pela colaboração, Sr. Beckett. Tenha um bom dia.

— Igualmente. — Encerro a ligação, suspirando.

Em poucos minutos, vejo Eddy entrando no quarto, com um livro aberto em mãos e seguindo direto para sua cama, se sentando na mesma e continuando sua leitura, ignorando minha presença. Eu não entendo esse ser humano.

Mas de qualquer forma, deixei ele quieto. Não queria incomodá-lo e deixá-lo irritado comigo.

— Nando! — Me assusto ao ver Piper entrando no quarto, pulando em meus braços. Notei Eddy me olhar de relance, logo voltando o olhar para sua leitura. Merda!

— O que está fazendo aqui, Piper?! Sabe muito bem que é proibido entrar nos dormitórios dos meninos. — Falo, vendo ela suspirar, cruzando os braços.

— Sua mãe me contou que vai mudar de curso. Que história é essa?! Para professor ainda mais?! Nando, você enlouqueceu?! — Fecho os olhos, respirando fundo.

— Piper...

— O quê?

Eu quero terminar com você.

Doutor Gelo - (Romance Gay) Onde histórias criam vida. Descubra agora