— NANDO BECKETT —
— Ah, então você veio ensinar aqui? — Eddy questionou, finalmente sorrindo discretamente, assim que chegamos à escola.
— Conhece?
— Já fiz algumas doações de alimentos e materiais para a escola. A diretora é uma grande amiga minha. — Falou, me deixando surpreso.
— Você é bom em ensinar. Por que não os ensina? — Eddy sorriu, me encarando.
— Meu curso é medicina. Eu gosto de curar pessoas.
— Mas você me ensinou. E muito bem.
— E te curei da sua burrice. — Rebateu, me deixando chocado.
— Idiota prepotente! — Xingo, mas continuo sorrindo.
— Vamos logo. — Entramos na escola, e de cara pude reconhecer a baderna dos meus alunos dentro da sala. Hoje era uma professora que daria aula para eles, se não me engano.
— Você está ensinando o nono ano, não? — Eddy comentou, um tanto quanto surpreso.
— Sim. E não me julgue. Não sou eu que estou dando aula agora. — Falo e ele sorri.
— Mas pode ajudar a coitada da professora a controlar esses adolescentes, que muito me lembram você no fundamental. — Comentou, e eu ri.
— E eles são incríveis! — Falo, seguindo para a sala junto com Eddy, batendo na porta e entrando na sala. Vendo os alunos subindo nas cadeiras, jogando bolinhas de papel para todos os lados e zombando da professora, que estava claramente sem voz de tanto gritar.
— Ei! Que baderna é essa?! — Exclamo, em alto e bom tom, chamando a atenção de todos, que pararam as brincadeiras, me olhando surpresos.
— Professor! Deus te mandou, não foi?! Essa aula é muito chata! — Gabriel exclamou, e todos gritaram, concordando. Suspiro, olhando para a professora.
— Posso? — Questiono e ela assente, massageando a cabeça e bebendo um pouco de água.
— Por favor.
Caminho pela sala, me encostando na mesa do professor, cruzando os braços e os observando.
— Achei que tínhamos um trato. Eu ajudo vocês e vocês me ajudam. Mas o que adianta? Se eu saio por aquela porta exaltando vocês, dizendo o quanto são maravilhosos e que eu amo estar aqui com vocês, se quando eu volto e trago alguém para conhecê-los, somos recebidos dessa forma? Lá fora eu ouvia os gritos de vocês, desrespeitando a professora. Estou realmente decepcionado. Não esperava isso de vocês. — Falo, vendo todos se calarem, de cabeça baixa.
— Professor, por que não nos dá agora? Esses outros são chatos e nós enchem de atividade. — Gabriel reclamou.
— Porque eu também sou aluno como vocês. Eu também estudo. E eu os entendo, de verdade. Sei o quanto é difícil não receber assistência e só ouvir a cada dia que você não tem futuro. Mas eu tive um ótimo professor... — Declaro, olhando para Eddy, que estava na porta, sorrindo. — Ele... me fez ter outra visão de mundo, e me deu gás para querer ler mais, estudar mais... E desde o primeiro dia que vim aqui, eu estou tentando ser esse incentivo para vocês. Mas está funcionando? Ou vocês só concordam comigo no dia da aula e da boca para fora? — Eles novamente se calaram, talvez envergonhados. — Será que agora, a professora pode dá aula a vocês sem precisar gritar ou sair daqui morrendo de dor de cabeça por conta da bagunça e dos gritos que estavam causando?
— Sim, professor... — Murmuraram, baixinho.
— Ótimo. Professora, pode continuar sua aula. — Falo, já fazendo menção de sair, mas ela segurou meu braço, sorrindo fracamente.
— Pode ficar aqui? Por via das dúvidas. — Pediu, e eu assenti, sorrindo.
— Não se preocupe. Não vou sair daqui. — Ela sorriu, assentindo e continuando sua aula.
Caminho para perto da porta, me encostando na parede e cruzando os braços, observando cada um ali, em silêncio e ouvindo a professora.
— Ok, você me surpreendeu. — Eddy sussurrou, baixinho, para não atrapalhar a aula. Sorri, o olhando.
— Isso foi bom? Eles estavam fazendo a maior bagunça quando chegamos. — Falo, rindo baixinho.
— Mas olha agora... Todos estão quietos, prestando atenção na professora. Eles respeitam você, Fernando. É bonito ver essa relação entre aluno e... professor. — Comentou, e eu o olho, sorrindo largamente. Para a minha surpresa, ele retribuiu.
— Hmmmmm!!! — Os alunos cantarolaram, rindo, o que chamou minha atenção, e logo entendi que era por nossa causa.
— Ei! Ei! A aula não acabou. — Falo um tanto quanto envergonhado.
— Tão namorando! Tão namorando! — Cantarolaram, batendo palmas e rindo. Reviro os olhos.
— Se continuarem com isso, eu vou embora. — Falo e eles logo se calam, mas os sorrisinhos e murmúrios continuavam. Olho para Eddy, que apenas sorria de modo genuíno, suspirando. — Desculpa por isso... — Murmuro, e Eddy apenas balança a cabeça.
— Tudo bem. São adolescentes. Hormônios à flor da pele. — Ditou, sorrindo.
— Bem, algumas coisas nunca mudam então... — Brinco e ele me cutuca de leve, o que me fez ri.
— Você não perde uma, né?
— Definitivamente não.
Após o término da aula, todos gritaram, comemorando e passando por mim, cantarolando a mesma brincadeirinha que me deixou sem graça.
— Meus bls estão se tornando realidade! — Uma das alunas comentou, e as outras saíram rindo.
— Eles não perdem uma... — Murmuro, suspirando.
— E você também não. Por isso se entendem tanto. — Eddy comentou, sorrindo e saindo. O acompanho rapidamente, me despedindo dos alunos e saindo da escola.
— Posso? — Questiono, já na rua movimentada, tanto por automóveis quanto por pedestres, lhe estendendo a mão. Eddy me olhou, pensativo.
— Qual a razão?
— Não existe razão. É um resultado ilógico. — Rebato, vendo Eddy sorri, desacreditado.
— Pensou rápido.
— E então? — Questiono, ainda com a mão estendida. Ele suspirou, olhando em volta. Pessoas iam e viam pelo calçadão, mas isso pareceu ser o de menos. Eddy sorriu, vencido, segurando minha mão, enlaçando nossos dedos.
E assim fomos caminhando, ignorando qualquer olhar repreensílivo ou de desgosto.
Ninguém tinha nada a ver com a nossa vida.
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Doutor Gelo - (Romance Gay)
Nouvelles"- Ele era tão imprevisível... e talvez, só talvez, seja o motivo da minha extrema obsessão por ele." "- Não preciso de ninguém ao meu lado. Pessoas são tóxicas por natureza, e o mínimo que quero é distância. Nada vai mudar isso."