Primeira Má Impressão

CAPÍTULO XIV - PARTE I

Nunca fui boa em lembrar de datas, já esqueci até mesmo do meu aniversário por mais estúpido e maluco que pareça, então fiquei surpresa quando o McCain, em uma das nossas manhãs debaixo do chuveiro, contou que pelos seus cálculos falta pouco para completarmos dois meses desde o nosso primeiro beijo. Você não sente o tempo passar ou o peso das responsabilidades enquanto está vivendo, gostando de alguém e se divertindo de uma maneira nunca feita antes. Fazia anos que não passava uma tarde no píer 39 de São Francisco, comer lagosta em uma restaurante pequeno e tão familiar, visitar a sombria Alcatraz, muito menos correr ao longo da Alamo Square, onde foi o cenário exterior da casa da série queridinha Full House (Três é Demais!). Minha rotina que nos últimos meses tem sido de casa para o trabalho, do trabalho para casa, se modificou completamente em pouco tempo. Contudo, não fora uma mudança forçada, acabou acontecendo naturalmente.

Reservei um tempo para cumprir a promessa de visitar meus pais, foram horas recebendo olhares curiosos vindos da Dona Gene toda a vez que o meu celular sinalizou que recebeu mensagem e meu pai me paparicou o tempo inteiro. Como Blane não pôde comparecer, as atenções foram todas minhas. Mamãe tentou me fazer confessar que o barulho que ouviu no nosso último telefonema não era da televisão, mas continuei na minha pequena mentira. Nessa mesma noite, Nathan também matou a saudade dos pais e ao contrário da minha situação, ocorreu tranquilamente, sem desconfianças e muita comilança como de costume.

Devo admitir que fui em busca de umas receitas novas para agradar o advogado quando pretende dormir na minha casa e mesmo com os defeitos de uma refeição feita por alguém que é 0 no quesito culinária, ele aprova tudo que coloco na sua frente. Se estivesse muito ruim, teria falado com toda a certeza e com carinho recomendaria pegar o telefone para pedir comida chinesa. Aproveitamos alguns dias sem compromisso a noite para maratonar alguns filmes e séries que adicionamos na lista da minha conta no Netflix.

Outra promessa que cumprimos foi de sair com o casal Adams, nos encontramos em um restaurante que Nathan considera um dos melhores da cidade. Foi uma noite divertida, serviu para eles estreitarem os laços e rirmos um bocado, além de Dan declarar de forma direta que o procurará para assuntos profissionais. O marido da minha melhor amiga já formou planos para torná-lo advogado da sua empresa e eu não poderia estar mais feliz, afinal, é um bom negócio para ambos. Nem preciso dizer que o meu acompanhante obrigou todo mundo a guardar as carteiras na hora de pagar e arcou com as despesas, mantendo o ego orgulhoso em meio aos protestos. Ele consegue ser tão teimoso quanto eu.

Nesse final de semana meu plano inicial era não ter plano nenhum, depois de uma semana atolada de trabalho e pouco tempo para descanso, é o meu desejo principal. Todavia, na sexta-feira, sentada no sofá da minha sala assistindo um pouco de TV, esperando o advogado chegar com sanduíches do Subway que serão o nosso jantar, recebi uma mensagem do meu irmão que mudou todos os meus não-objetivos.

"Oi, mana gata! Você e o seu gato tem planos para amanhã?"

Seu gato, seu homem ou seu advogado. Blane usa todos esses termos, exceto o nome do cunhado em nossas conversas por whatsapp, incluindo no grupo. O idiota do Nathan se diverte com isso e ainda se envolve no diálogo dizendo que o meu gato acabou de chegar.

"Oi, irmão boboca! Planejamos uma noite de muita nudez e sexo, porquê?"

Apesar de não ser o tipo de irmão que sente ciúmes da irmã caçula, que prefere ignorar que já faz sexo, mencionar o fato e inconsequentemente gerar uma imagem mental minha, é uma boa vingança por ser tão petulante. Consigo até imaginar a careta que fez ao ler a mensagem, enquanto Susan ri do conteúdo dela. Meu celular voltou a vibrar e gargalhei ao ler: