09. Casualidades

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Depois de cinco horas de palestra finalmente estava indo para casa. Cansada de assistir aos mesmos vídeos motivadores sobre intervenções cirúrgicas saudáveis.

O hospital universitário ainda estava lotado quando peguei minha Ferrari preta e dirigi a toda velocidade em direção ao meu apartamento.

Eu era a cirurgiã geral de um dos maiores hospitais de São Paulo, as palestras eram uma renda extra, além da empresa do meu pai que me rendeu bons retroativos ao longo dos anos e, no fim, um bom testamento. Mas o dinheiro não era uma satisfação, era uma conquista e deveria ser merecida.

Pego o celular enquanto segurava no volante com uma das mãos, a chuva de fim de tarde começa a descer em pingos e assim que ligo o carro ela caí ameaçando um novo dilúvio, observo que na minha mão esquerda eu ainda tinha o anel de namoro com Julie, um anel de prata com uma caveira no topo, tiro do meu dedo enquanto o sinal de trânsito estava vermelho no engarrafamento, havia uma inscrição nele: Evil Queen & Juliet Poison, nossos nicknames.

Havia uma mensagem no meu celular, jogo o anel no banco do carona, era uma mensagem de Mistress Poison, uma Domme que comandava uma casa BDSM no centro de São Paulo, e uma amiga de décadas. Era óbvio que o clichê de Christian Grey de que todo Dominador tem que ser podre de rico e cercado de problemas mentais era falso, apesar de que - infelizmente - metade da população brasileira tem sim algum tipo de doença psicossomática.

Evil, querida! Espero que esteja pronta para o Comfident Hell às três da tarde de amanhã! Você me disse que iria, não se esqueça que os ganhadores estarão presentes.

Merda. Eu tinha me esquecido completamente. O Comfident Hell* era um evento de BDSM que premiava os Dominadores, switchers e submissos anualmente caso quisessem participar dos jogos. A mensagem de Mistress Poison me lembrou que eu tinha de falar com Diana, minha submissa fixa há mais de dois anos sobre os próximos eventos que iríamos participar, era apenas por diversão mas eu gostava de manter minhas submissas sempre pré - dispostas para que desfrutassem de sua própria sexualidade com respeito a si mesmas.

Evil Queen, espero que venha nos ver em breve. Era Samantha, uma switcher com a qual eu havia feito uma sessão avulsa com ela e o marido dela, Petter, que queria ser submisso. Desde então a estava mentorando como Domme.

Acelero com o carro mas algo me faz dar uma freada brusca. Um rastro de cabelos esvoaçantes passando perto demais de mim, quase como um sinal divino, eu quase tinha atropelado uma mulher.

Mas eu reconheceria aquela mulher em qualquer lugar independente do tempo ou do espaço. Era Juliett.

Ela estava mais velha, mas ainda era ela. Usava um vestido preto com um decote exagerado nos seios e saltos vermelhos esbarrando entre os carros tentando atravessar. Ela chega ao outro lado e então parece sentir a minha presença. Seus olhos se cravam nos meus pelo vidro do carro e ela parece ficar furiosa mas mesmo tentando esconder posso notar que ela cora levemente.

Juliet não vê o carro seguinte que freia bruscamente para não atropelar a garota louca que continuava parada no meio da rua enquanto chovia violentamente.

— você ficou louca? — ela tem a audácia de caminhar até mim, furiosa. Sorrio, lembrando o quanto ela era geniosa.

— Não fui eu que atravessei sem olhar para os lados! — rebato.

— Ah, poupe - me, tenho mais o que fazer — ela se vira, indo embora, batendo os pés mas seguro em seus braços a impedindo.

— Me solta! — ela sussurra, sem medo algum de mim.

— Sabe bem que não é assim que deveria se falar comigo. — rebato, calmamente.

— Como então eu deveria falar com você? — ela sibila, destilando ódio.

— para você é senhora, Mistress ou Rainha, Juliet, nada abaixo disso! — falo calmamente e ela urra de ódio.

— Não sou mais sua submissa Fernanda, não lhe devo mais respeito! Fora do BDSM somos eu e você, não há Hierarquia! — Julie responde, afiada como sempre.

Então eu me aproximo dela. Eu não tolerava seu lado brat e independentemente do tempo, ela havia sido minha. Não ambicionava o ideal de posse, mas ela tinha de entender que mesmo após o tempo, eu ainda a amava. Entao eu me aproximo dela e a beijo.

— ficou louca! — Juliet se afasta, cuspindo no chão. — Fernanda eu te odeio!

— não era isso o que você dizia há alguns anos atrás! — rebato.

— Não foi culpa minha Juliet você escolheu isso! Fugiu de mim! — digo, furiosa. Aquilo não estava indo para lugar nenhum.

— Eu não fugi de nada! Você me traiu! — Juliet rebate, sua voz cheia de dor e mágoa. Quando eu a havia traído?

As pessoas começam a aparecer na rua, atentas a nossa discussão, sorrio falsamente e a seguro pelos braços a abraçando.

— Entra comigo no carro, antes que comecem a gravar nossa discussão e isso vá parar na internet — sussurro em seu ouvido fingindo sorrir. Ela podia ver nos meus olhos. Ambas estávamos muito além de putas uma com a outra.

— Não pense que isso acaba aqui — ela entra no banco do carona e coloca o cinto de segurança.

Dirijo em silêncio boa parte do tempo. Respirando fundo, os dedos das mãos apertavam o volante com tanta força que podia ver os nós ficando brancos.

— Juliet eu nunca traí você. — acrescento calmamente enquanto ela bufa e liga o rádio.

— Nunca? Eu vi suas mensagens com sua amada Mistress Witch! — ela grita. Sua voz marcada pela raiva, sibilando e debochando.

Witch? A Amanda?

— ficou louca? Nunca tive nada com ela, ela é minha irmã Domme! Não há uma gota de submissão em nós duas, jamais teríamos nada! Entramos juntas no BDSM e auxiliamos umas as outras quando éramos iniciantes! — sussurro, desta vez mais calma entendendo o porquê Juliet havia me abandonado.

Enlaces de uma PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora