Origem

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Origem
Quinta-feira, 23:21
Casa dos Kim's

- Central? Acabamos de identificar um sobrevivente! Provavelmente é o filho das vítimas, ainda uma criança! - o policial dizia cada palavra de forma apressada em meio ao barulho das sirenes e luzes.

Os vizinhos passaram a observar pelas janelas a casa dos Kim's, com ambulância e viaturas estacionadas no gramado e muitos policiais entrando e saindo. Naquela noite duas macas com corpos assassinados saíram da casa dos Kim's, ninguém entendeu bem como aquela família tranquila perdeu toda a vida. Quer dizer, quase toda a vida.

Kim Jungwoo era o sobrevivente, o filho de 8 anos do casal assassinado. A polícia relatou que marido e mulher foram mortos a tiros enquanto dormiam, a arma de fogo utilizada nunca foi encontrada e como principal suspeito estavam os agiotas que cobravam pelas dívidas de jogo do pai da família. A polícia chegou no local depois de 30 minutos por uma denúncia da vizinhança que ouviu os barulhos altos de tiro e se assustou. Também foi relatado um sobrevivente, o filho do casal foi encontrado escondido dentro do guarda-roupa, estava apavorado e não conseguiu responder a quase nenhuma das perguntas da entrevista para o caso. Porém os oficiais concluíram que o garoto acordou com o barulho de tiros do quarto ao lado e se escondeu dentro do guarda-roupa, provavelmente o assassino chegou a ir até o quarto da criança já que a porta estava aberta quando os oficiais invadiram a casa. Não havia sinais de arrombamento na casa.
O caso foi fechado mesmo sem ser concluído, sem uma resposta ou culpado capturado. E Jungwoo, após ter passado por algumas consultas psicológicas, precisou ser deixado em um dos orfanatos católicos de Seul: Lar Para Bons Garotos.

Essa criança se tornou calada, nunca respondia nada sobre seus pais e preferia ficar sozinho.

- Seja bem vindo ao nosso lar, todos os outros garotos aqui são seus irmãos. A Madre superior sempre poderá atender a qualquer dúvida que você tiver! - dizia a freira entregando um travesseiro com cobertor e o uniforme do orfanato - Sei que pode estar assustado agora, mas logo ficará melhor se você rezar por uma nova família. Tenho certeza que ficará pouco tempo conosco!

Ela mostrou grande parte do orfanato, onde ficava a cantina, a pequena capela, a biblioteca e sala de estudos, o pátio gramado e por fim o dormitório. Jungwoo não se sentia animado com nada, era a sua casa onde ele queria morar, não gostava da ideia de ter um lar com vários outros garotos que o encaram feio. Era patético como tudo se virou de cabeça para baixo.
Mas não reclamava para ninguém, passava seus dias sozinho e tendo a si mesmo como amigo. As freiras sempre mostravam Jungwoo para os casais que visitavam o orfanato, diziam que sua melhor qualidade era a pureza, e ele sorria para os estranhos e se sentia envergonhado.

Quem são eles? Não conheço nenhum deles. Não são meus pais.

O que mais gostava de fazer naquele lugar era se sentar no balanço pouco amarelo e muito enferrujado que tinha no pátio gramado, se balançava ali enquanto os outros garotos jogavam futebol no campinho ao lado. Os órfãos diziam que ele era um garoto triste e esquisito, que sempre vivia se enfiando nos matos do orfanato e pegando os crisântemos brancos que a freira Madalena plantava no jardim.

Realmente, foi difícil no início. Apavorante.

Jungwoo aos 9 anos foi adotado por uma nova família, no total passou por duas anteriores. Sua primeira adoção deveria ter sido a única, o casal disposto era gentil e prestativo, queriam ter filhos e infelizmente a esposa era infértil. O desejo de construir uma família os levou até o lar adotivo católico onde Jungwoo, aos 8 anos, morava há alguns meses, a criança de olhos bonitos e inocentes sempre chamou a atenção.
Foi adotado e depois de 3 meses devolvido ao orfanato. O motivo? a esposa relatou que a criança era gentil e doce, porém muito calado e que logo algumas atitudes fugiram do controle do casal.
Tão repentino, as freiras ficaram assustadas e boatos se espalharam rapidamente, tanto que até as crianças ficaram sabendo.

Como poderia Jungwoo ser devolvido ao orfanato? tão bonito e gentil? nunca apresentou uma atitude que levasse alguém a rejeita-lo.

Na segunda família, era apenas uma paciente mulher solteira. Ela queria uma criança, era o que ela disse para a Madre superior do orfanato. Talvez, para algumas mulheres, o instinto materno seja ser algo importante a ser seguido. Jungwoo foi adotado por ela e permaneceu por lá o resto do ano, dizem no orfanato que o primeiro feriado com a nova família é sempre muito importante, mas parece que o menino estragou o feriado da mãe solteira, já que ela o devolveu para o orfanato também em 3 meses.
Depois disso, as freiras não recomendavam mais Jungwoo como uma criança apta a ser adotada, sempre que um casal novo chegava e lhe botava os olhos, já que era quase impossível não o notar, elas diziam "talvez essa criança não seja a sua melhor opção".

Jungwoo deixou de ser uma opção.


- Almoço! Vão todos almoçar! - uma das freiras anunciou alto perto dos garotos na biblioteca, junto com o som dos sinos da igreja.

A maioria dos garotos saíram apressados após terem se levantado e já Jungwoo veio sendo puxado pelo braço por uma das freiras, o livro que carregava - O apocalipse - caiu no chão e a mulher mais velha se irritou mais ainda.

- Vá agora almoçar! Não quero te ver aqui nessa biblioteca de novo por um bom tempo! Anda, saia! - soltou o garoto.

Jungwoo saiu em passos rápidos para a cantina, os fios cobrindo os olhos lhe atrapalhavam e a pressa para pegar um bom pão também.
Ele não tinha um lugar fixo nas mesas da cantina, apenas se sentava onde os garotos cochichavam menos. Dessa vez pegou sua bandeja de comida e sentou em uma mesa afastada, junto de alguns órfãos mais velhos.
Na mesa de frente a dele, haviam alguns garotos que jogavam futebol todas as tardes, e não demorou muito para fofocarem.

- É ele ali não é? Aquele bochechudinho - cochichou um deles.

- Acho que sim, qual o nome dele mesmo? - um garoto baixinho perguntou enquanto encarava o "assunto" da mesa.

- É Jungwoo rejeitado! - o mais velho ali falou um pouco alto e confiante, que fez o dono do nome se encolher na outra mesa e evitar contato visual. As risadas altas se espalharam com facilidade.

Aquilo chamou a atenção de um dos recém chegados no orfanato, Huang Xuxi tinha os olhos grandes e redondos cheios de curiosidade para tudo. Mas naquele momento não quis ser curioso, ficou com pena do outro menino e desejou que ele pudesse logo encontrar a família certa.

- Ele não nasceu para ter família.. - aquela frase era sempre tão repetida.

Xuxi não entendia como tudo chegou naquele ponto, Jungwoo parecia inofensivo e legal. Das vezes em que reparou ele andando pelos corredores do orfanato sempre tinha pétalas brancas de alguma flor no cabelo, e Huang ria em reação, era bonitinho. Queria por perto alguém que o fizesse rir, parecia o tipo de amizade que queria ter.

Continua...

Quarto 12 || LuwooOnde histórias criam vida. Descubra agora