Primeira Amizade

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Os tamancos pretos um pouco apertados nos pés de Camélia, "a freira mau humorada" como pensava Jungwoo, pisavam de modo brusco nos pisos velhos e de cor cinza do orfanato católico, em sua mão direita segurava firmemente o braço miúdo de Jungwoo, quase o arrastando e tirando do chão enquanto xingava palavras sujas que certamente Jesus não citava na bíblia. Ela estava indo deixa-lo no quartinho do castigo, todos os garotos do orfanato tinham medo de lá, já que.. resumindo, era um dos quartos do porão, tão mal feito que nem a eletricidade chegava até lá em baixo e as freiras contavam que antigamente prendiam ali ,sem alimento ou água, os pecadores que desafiavam a palavra santa. Jungwoo pecou em que?

Mas naquele corredor não estavam só eles, bem atrás do grande relógio de cuco estava Xuxi, agachado no chão e encostado na madeira velha do relógio em que vez ou outra se atrevia a esticar a cabeça e olhar a freira e o outro garoto indo em direção as escadas do porão. Xuxi pensou sozinho se era certo judiar de crianças. Ele também tinha medo do quarto do castigo, muito.

Camélia desceu os degraus soltando raiva pelos olhos e quando chegaram lá acendeu a luz fraca do corredor sujo do porão, e então Jungwoo viu pela primeira vez aquelas 12 portas de madeira que dão para quartos pequenos, ou selas, chame como quiser. Ele permanecia calado, não sabia ao certo o que fez de errado, mas o silencio era a única coisa que conseguia dizer, já que a garganta parecia entupida pelo choro rejeitado. Não chorou, porém fraquejou quando sentiu a dor de ser jogado no chão úmido do último quarto entre os 12, o quarto do castigo. Escuro, molhado e frio, sem nenhum móvel, apenas um vaso sanitário sem tampa e uma janela pequena de vidro verde. Quando a freira fechou a porta de madeira e a trancou, a criança viu pelo buraco da fechadura as chaves sendo penduradas em um prego na parede, depois disso ficou sozinho. Ou supos isso, afinal não sabia se havia outras pessoas nos outros quartos.

Pra ele, muito tempo se passou, já que não tinha muito a se fazer lá dentro. Mas não se sentiu com medo, Jungwoo queria ser corajoso.

- Jungwoo? está aqui? - a voz infantil ressoou e acordou o garoto preso - Quer dizer.. esse é seu nome? - ressoou novamente de um jeito inseguro - Eu ouvi os garotos falando de você no almoço.. Jungwoo?

Jungwoo apertou os olhos em um piscar, se sentiu confuso com o que estava acontecendo, tinha outra criança presa ali também??.

- Meu nome é Xuxi, acho que nunca conversamos antes uh.. - coçou sua nuca de maneira apavorada - Vi a freira Camélia te deixando aqui mais cedo.. desculpe não vir antes, é que esse lugar é.. ruim, mas não estou com medo não! Vim te resgatar! - falou mais alto e confiante.

Quem era esse garoto? realmente entrou aqui no porão sozinho? foram pensamentos de Jungwoo.

- Ah.. oi? sim, meu nome é Jungwoo, não te conheço - preferiu dizer baixinho. - Vai me ajudar? eu vi as chaves das portas penduradas na parede.

Xuxi olhou para as paredes escuras do lugar e decidiu se aproximar da porta de onde ouvia a voz infantil do garotinho, tentou abri-la e realmente estava trancada. Pelo lado de dentro, o mais novo deixou a cabeça encostada na porta de madeira para ouvir o que acontecia. Logo, o moreno pode avistar as chaves penduradas na parede por um prego, pegou e sorriu em animação. Era um ótimo salvador.

- Eu peguei! - falou tão alto que o preso ali se assustou - Qual é a chave da sua porta? - chacoalhou as chaves.

- Não sei.. e-eu não vi qual foi a chave - novamente sentiu vontade de chorar.

Xuxi notou que havia números em cada uma das chaves, por sorte já tinha aprendido muitos números, pensou. Ao olhar para a porta a sua frente viu o número 12 escrito com muito desgaste.

Quarto 12 || LuwooOnde histórias criam vida. Descubra agora