Reencontro

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Reencontro
Sexta-feira, 06:30
Apartamento J.W


As cortinas se balançavam de um lado para o outro, vez ou outra se entrelaçando como um destino bonito, mas não duravam muito. O vento da manhã estava frio, como rotina, e conforme invadia o apartamento bem organizado e em tons claros o apito da chaleira gritava alto, o que confundia entre o vento assoprando ou apenas o aviso de chá pronto. Fazia os ouvidos de Jungwoo doerem.

O corpo, agora bem estruturado e alto, do rapaz se mexeu rápido entre os corredores e conseguiu alcançar logo a irritante chaleira. Segurou firme o cabo e desligou o fogo, em seguida apenas suspirou igualmente. Há manhãs que tendem a mostrar tranquilidade e não é o caso desta.
Deixando ainda esfriar, ele terminou de colocar a camisa por dentro da calça e pensou se deveria olhar novamente sua aparência no espelho. Quando se trata de sair em público, Jungwoo desejava estar apresentável.

Sentado diante da mesa redonda do café, tomou o chá para se esquentar e recolheu a carteira com identidade (Lee Jung-Woo, 21 anos) e seus documentos para dirigir. Na verdade, nunca gostou de pilotar. Por isso, todos os dias úteis deixava seu apartamento e o carro para ir de ônibus até a Universidade Pública de Seul, já que nada daquilo parecia ser seu, eram apenas frutos de seu pai adotivo.

- É Lee Dongsik, seu dinheiro me sufoca as vezes - sussurrou sozinho vendo o ônibus parar bem em frente, trazendo junto o vento gelado da velocidade.

Mesmo na infância, aprendeu que depois de ser rejeitado por duas famílias existe algo a ser mudado. E infelizmente, era seu comportamento. Mas tudo bem, Jungwoo mantinha seu pequeno pensamento de que, sempre será, bom em esconder e dissimular.
Quando traçou seus pés em direção ao Bloco D da Universidade, sua nuca se arrepiou ao que sentiu alguém mexendo em seus fios ruivos por trás. Virou o rosto para visualizar o cretino, porque qualquer um que toca assim sem avisar deve ser um cretino, e só podia ter uma reação: revirar os olhos. Já deveria saber quem era, rotineiramente é sempre assim.

- Doyoung por que você insiste nisso? - as sobrancelhas de Jungwoo franziram para acompanhar o olhar pesado que direcionava ao outro jovem mais velho.

- E você já não sabe? - respondeu e voltou a falar antes que o ruivo pudesse interromper - Quando eu vejo algo e meus sentidos dizem para eu tocar, então eu toco - deu seu melhor sorriso de dentes pequenos ainda acariciando o cabelo alheio.

- Porém você precisa de autorização - segurou o pulso do mais velho e o abaixou para se livrar da carícia.

Doyoung não respondeu nada, o humor do ruivo sempre fora assim, costumava dizer que ele retrai quase tudo e se introvertia, mas é isso o que tornava tudo interessante em Jungwoo. Ambos caminharam juntos para o pátio, embora tinham cursos diferentes os blocos deles eram um ao lado do outro e o tanto de vezes em que se viam ou se esbarravam por algumas vezes era o motivo de terem criado um laço juntos, amigos de bloco como diria Doyoung. Mas o motivo do mais novo ter se aproximado de alguém em seu ambiente de estudo não é muito convincente para a maioria, Jungwoo não era próximo de ninguém da turma 6 de Artes Visuais, a sua no caso.

- Você lavou o cabelo hoje? É por isso que tá' tão macio? - o garoto de cabelos pretos provocou novamente enquanto deslizava a palma nos fios ruivos.

- Sou paciente, então não adianta ser atrevido assim - resmungou.

Antes de irem cada um para seu bloco, esquerda e direita, o moreno puxou sua mochila escura de um dos ombros e abriu o zíper do espaço maior, de lá tirou uma embalagem transparente com vários pãezinhos doces, vindos da confeitaria de sua mãe. Era sempre assim, toda semana ele pedia a mãe para separar alguns pães doces pela manhã, dizia que era para alguém de humor difícil e que o doce era o remédio, a confeitaria era perto do apartamento que divide com um veterano chamado Yuta, então nunca chegou a ser um incomodo passar por lá uma vez por semana e ver o mais novo sem jeito por receber a comida era algo que viciante. Kim Dongyoung não entendia ao máximo Jungwoo, mas se atraía pela sua singularidade. E em contrapartida, o ruivo quando esbarrou de maneira dolorida no ombro dele pensou "novamente você", porque a palavra que define esse moreno desde sempre é insistência, e mesmo que Doyoung andasse pelos corredores mascando um chiclete de melancia - que á quilômetros era possível sentir o aroma - vestindo calça jeans surrada junto de um casaco maior que si e cantarolando sempre algo sussurrado, que normalmente soa atraente em sua voz, nada disso fazia com que Jungwoo soubesse quem ele realmente era, nenhum rótulo os afastou, preferiram chegar perto e conferir com os próprios olhos. Talvez o moreno tivesse trombado de propósito naquele dia.

Quarto 12 || LuwooOnde histórias criam vida. Descubra agora