Sob o sol

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"Sobre as nossas cabeças o sol

Sobre as nossas cabeças a luz

Sob as nossas mãos a criação

Sobre tudo o que mais for do coração

Luz da fé que guia os fiéis

Pelo deserto sem água e sem pão

Faz de pedras um rio brotar

Faz do céu chover forte o maná

Quebra o vaso de barro do teu coração

Com o melhor vinho do teu amor

Pois quer a lei que ele se perca no chão

E floresça o deserto ao teus pés..."



Dormiram lado a lado mais uma vez no enorme tapete bem trabalhado, e foi assim nos dias que se seguiram.

Zayn lhe mostrou como curtia o couro e lhe fez um cantil com a pele do animal que havia caçado, caminharam pelas dunas e o homem rústico acostumado com as mazelas do deserto, lhe mostrou como conseguir fazer a água brotar da areia de uma maneira muito específica e cada vez ela ficava mais fascinada.

Era uma vida simples, humilde, mas tinha seu encanto.

Lhe mostrou também como decantar os rejeitos e deixa-la própria para o consumo. À tarde, após comerem, Sakura lhe ensinou como pronunciar seu nome de maneira correta, era engraçado vê-lo tentar e quando chegou perto ela bateu palmas satisfeita fazendo-o sorrir.

Era um homem de sorriso fácil.

Logo se mostrou interessado em aprender outras palavras de sua língua, a rosada prontamente o ensinou o que podia...

Então, ao entardecer, enquanto saboreavam tâmaras, uvas, figos e ameixas secas com açúcar da região, algo que Sakura adorou admitindo ser aquela uma de suas mais novas iguarias favoritas, se sentiu à vontade para finalmente fazer aquela pergunta.

-Limadha tuqim hna? (Porque você fica aqui?)

Ele terminou de mastigar a tâmara que tinha na boca e após limpar os lábios de uma forma que deixou Sakura presa aos movimentos da língua e mandíbula bem feita, respondeu.

-alnafiu aldhdhatii... (Auto exílio)

Ao notar que a rosada entendera pouco do que havia dito, ele se ajoelhou e se aproximou mais dela, então suspirou e começou a narrar os fatos que levaram sua vida a serem do jeito que era.

Lhe contou de forma calma e pausada, por vezes parando para olhar um ponto qualquer no ambiente, por vezes erguendo os olhos para captar uma lembrança distante...que Dohã já fora um lugar próspero e bonito, um refúgio para os caminhantes do deserto, mas que após Faruk entrar no poder, toda a beleza e riqueza se foram. Muitos tentaram lutar contra a opressão, seus pais foram alguns deles, mas devido ao apoio de regiões vizinhas Faruk conquistou um exército poderoso e eles apenas poeira e sangue. Dohã não era rica apenas em belezas naturais, havia riqueza debaixo de seu solo também, e isso era o que mais interessava tanto para Faruk quanto para outros lugares. O povo passava fome, era subjugado enquanto o velho a anos no poder vivia regado a luxo. Se mantinha no comando na base do medo.

Zayn não concordava com isso, era apenas uma criança pequena quando seus pais foram mortos pelos golpes da espada pungente do ditador, ele jurou que enquanto estivesse vivo não deixaria o governo em paz e faria de tudo para derrubar a opressão pela qual passavam. Devido a isso ele e todos que faziam parte de qualquer revolta eram cassados. Zayn era proibido de adentrar na cidade pois se o vissem seu fim era certo.

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