Olhares não mentem

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Era a realização de um sonho estar em Dohã!
Finalmente poderia ser a médica que sempre desejou, poderia ser tudo aquilo que em sua terra lhe era privado de alguma forma.
Mesmo assim, mesmo com toda alegria que habitava em seu interior aquilo a incomodava.
Quando chegou em casa aquele dia foi disposta a compartilhar a descoberta com a irmã, mas os acontecimentos seguintes a fizeram se calar.
Todos sabiam que eles haviam sido colegas de equipe, isso era fato. Que haviam lutado na guerra e que o antigo time 7 foi uma lenda em Konoha, formaram os novos sennins da Folha então por algum motivo não estranhou encontrar fotos ali.
Tirando o fato de seu pai ir àquele lugar dentro da Vila para fazer absolutamente nada a princípio, talvez nada mais lhe causaria estranhamento.
O Uchiha era um homem soturno, reservado e guardava muito para si mesmo, isso ela sabia.
Os pais nunca se abrem totalmente para os filhos. Então, ao andar pelo porão escuro e afundar mais a mão na caixa antiga e com cheiro de mofo puxou o retrato.
Diferente das outras fotografias, naquela só havia os dois.
A surpresa quase a fez soltar um som audível.
Eram trajes cerimoniais?
Após passar a manga da blusa sobre o vidro manchado pelo tempo o trouxe para mais perto, mesmo com a quase total falta de luz ali dentro reconheceria seu pai em qualquer lugar.
Estava anos mais jovem e ao seu lado a garota de cabelos cor de rosa.
Levou a mão aos lábios mas num rompante enfiou o porta-retratos no mesmo lugar onde estava e fechou a caixa dando três passos para trás.
O que aquilo significava afinal?
Seu pai havido sido incisivo dizendo que não tinha tido laços na vila, mas aquilo mostrava claramente outra coisa.
Precisava ir para casa, precisava pensar...
Precisava refletir no que aquela fotografia significava antes de qualquer coisa para aí sim saber o que devia fazer.
Se devia fazer...
Fechou o lugar tentando o deixar do mesmo modo que encontrou, pelo jeito que estava não era visitado a décadas, nada ali tinha zelo ou cuidado. Subiu as escadas e passou pela mesma janela antes emperrada pela qual entrou.
Quando chegou em casa toda sua vida mudou.
A mulher da fotografia ao lado de seu pai era praticamente a mesma que estava diante de si.
As roupas podiam ser completamente distintas, os cabelos mais longos, a maquiagem mais marcante, mas os traços eram os mesmos.
E tudo foi uma sucessão de acontecimentos quando simplesmente tomou a iniciativa e se apresentou a ela, afinal, estava em sua casa, seu país, estudaria na Universidade criada por ela, indiretamente devia tudo aquilo àquela mulher.
Era muito distinta e foi polida em seus cumprimentos até se retirar.
Sua atenção se voltou para o Uchiha quando ele simplesmente saiu pedindo licença, parecendo...parecendo...
Perturbado!
E nada costumava tirar seu pai de seu eixo.


Toda àquela viagem seria seu sonho se realizando, mas a todo o momento a realidade era estampada bem diante de seus olhos.
Eles se amavam, não havia espaço para ela ali.
Era incrível como ninguém havia percebido ainda, as trocas de olhares entre os dois, os sorrisos mudos, os buchichos...
Se pudesse arrancaria seu coração e o deixaria pela estrada, seria fria e insensível, mas como o faria com a pessoa responsável por ela estar ali?! Pelas portas de seus desejos mais profundos terem sido abertas por ele?
Como simplesmente se deixa de amar uma pessoa?
Cada toque que ele desferia a ela, cada palavra, cara sorriso eram como mil facas adentrando em seu coração.
E mesmo com Sarumi afirmando que nada as afastaria, já se sentia distante, pois mesmo jamais fazendo algo que afetasse sua irmã, existia algo entre elas.
Não lhe contou sobre a fotografia, não lhe contou sobre o segredo do pai.

Sarumi estava distante, estava diferente, estava feliz e distraída, vivendo um grande amor.




Tentou relevar tudo aquilo, era uma oportunidade única a que estava tendo, quando sua mãe adentrou no quarto que dividia com sua irmã no grande palácio, a mesma não estava lá.
—Inoue, tudo bem? Onde está Sarumi?
A loira não sabia que resposta iria dar
—Ela saiu...foi dar uma volta, conhecer o palácio.
Ino se aproximou e se sentou ao lado da filha na cama.
A Yamanaka levou a mão aos fios tão loiros quanto os seus
—O fato de eu ter sido contra você vir não quer dizer que não esteja orgulhosa
Inoue endireitou-se na cama e olhou nos olhos da mãe
—Porque mamãe? Seja sincera comigo, porque nunca quis que eu estudasse medicina?
Ouviu o longo suspiro dado pela matriarca
—Eu queria que você se especializasse nas técnicas do nosso clã, por isso
—Isso por si só não me impediria de ser médica!
Ino segurou o rosto da filha e a mirou intensamente
—Eu te amo filha, tudo que faço sempre foi pensando em proteger você
—Proteger do quê?
—Da vida!
A mais jovem suspirou
—Não pode me proteger de tudo.
Então se afastou sutilmente e continuou
—Nem eu nem a Sarumi
—Eu sei.
Ino passou a mão pela perna esticada da filha e baixou os olhos
—Só me prometa que vai tomar cuidado e se focar no que é importante
—Tudo bem.
Ino sorriu e a mirou novamente
—Não há nada que eu não faria para poupar vocês de sofrer
—Até mesmo mentir?
A pergunta saiu a esmo, sem nem mesmo pensar
De onde havia surgido àquilo?! Não sabia, mas algo dentro si dizia que existia mais ali, e ela desejava saber, precisava!
Mas antes que a mais velha pudesse responder a porta foi aberta e a morena adentrou.
Estava sorridente
Ino se levantou e foi falar com Sarumi, então Inoue ponderou sobre a mãe.
Ela parecia tensa, diferente de todo o comportamento durante a viagem
—Se preparem para o jantar, quero vocês bem bonitas hoje.

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