Sopros de vida

877 62 3
                                    


Somente uma mãe sabe o que é sentir um filho nos braços
Somente uma mãe sabe o que é ter a respiração lenta e leve próxima a sua.
Somente uma mãe sabe o que ter aquele sentimento abrasador lhe dominar e tornar aquele ser o mais importante de toda sua vida.
E ela foi agraciada, com duas...

Não queria ser mãe antes, não estava preparada para aquilo, mas que mulher está?!
Principalmente nas circunstâncias em que seus bebes foram gerados, não foi por amor, mas por pura luxúria, por momentos insanos de entrega a um prazer mundano e carnal.
Metade dos seres do planeta foram gerados assim, mas os dela lhe custou caro, muito caro.
Lhe custou mais do que poderia imaginar.
Tudo que tinha agora eram suas duas meninas.
Não as queria a princípio, não queria olhar para a grande barriga que foi fruto de um mal tão implacável e devastador.
Tinha tantas falhas...tantas que era difícil se encarar
Aqueles bebes não a mereciam.
No fundo Sai tinha razão em a deixar, era vil, baixa, deformada...
Talvez ele tivesse visto isso nela.
Agora todos podiam ver também.
Mas quando os sopros de vida saíram de seu interior foi como se pudesse respirar novamente, e se apegar aqueles seres tão pequenos e frágeis lhe pareceu a única coisa bela que existiu dentro de si.
Elas eram a coisa mais bela que existiam.
Inoue e Sarumi.
Não havia sentimento mais aplacador que aquele, e ele o dominou como uma onda e a cada mergulho era nelas que se agarrava para continuar respirando.
Eram seu último suspiro.
Perdeu o homem de sua vida, seu grande amor.
Achou que encontraria o consolo em sua cópia, marido de sua melhor amiga, ledo engano...
Os momentos de prazer despertavam nela algo que foi embora quando Sai a deixou, e destruíam aquilo que tinha mais perto, sua irmã.
Nunca em toda a vida imaginou em fazer algo assim com ela, com Sakura, e nunca deixaria que alguém o fizesse.
Mas a verdade é que ninguém conhece os demônios que moram em seu interior e nem quando eles estão prontos para atacar.
Geralmente eles pegam quem está mais próximo.
Quem mais amamos.
E seu demônio pegou Sakura
E agora seu demônio tinha fome e estava a devorando, lentamente...lentamente
A primeira coisa que levou foi seu útero.
Agora levava sua sanidade.
Pedia aos céus todos os dias que ele não devorasse suas meninas.
Elas não.
Que a levasse no lugar delas.
Checar o pulso, a respiração, as pupilas, todos os sinais vitais, se tornou uma rotina e uma obsessão quando as levou para casa pela primeira vez.
Tinha tanto medo de perder mais um amor, de em um descuido simplesmente alguma delas parar de respirar, engasgar!
Ele ficou ali, todo o tempo e sabia o porquê.
Sasuke tinha medo de que algo acontecesse com suas filhas.
Tinha medo do estado em que ela se encontrava e no fundo ela também tinha.
Porque mais cedo ou mais tarde cometeria algum erro e algumas delas, ou as duas iriam partir.
Foi assim com Sai
Foi assim com Sakura.
E não tardou a acontecer.
Sarumi não acordou uma manhã.
Não abria os olhos.
A mais frágil das duas, a menor.
Fez de tudo pela filha, tudo que vinha a sua mente as mãos trêmulas e os olhos embaçados pelas lágrimas buscavam solucionar.
Mas Sasuke foi mais rápido, recolheu a criança e as pressas saiu pela janela com o pequeno pacote entre os braços.
Inoue não chorava, berrava.
Tudo que fez foi pegar a filha no berço e sair desesperadamente pela rua atrás do Uchiha.
Atrás de sua filha.
Quando chegou ao hospital teve medo de ser tarde demais
Todos a olhavam
Todos cochichavam e nada faziam para ajudar
Sasuke deu o berro para ajuda-lo e Shizune apareceu, pegou o bebe e correu para a emergência.
Ela foi atrás mas foi barrada na porta.
Inoue chorava em seus braços.
Tudo que viu ao fundo foi a médica de cabelos curtos fazendo a massagem no peito de sua menina.
Sua menininha.
Escorreu ao chão aos prantos.
Sentiu quando os braços a envolveram.
Ele estava ali, a auxiliando como disse que o faria.
Mesmo quando o mandou embora.
E mesmo assim, mesmo naquela situação de tanta angústia e dor podia ouvir julgamentos e acusações.
Ela não era uma mulher vil ali.
Era uma mãe chorando pela filha...ninguém podia enxergar isso?!
Sim, cada um tinha seus próprios demônios...e os deles os engoliriam da mesma forma inquisidora com que o faziam.
Ela sabia bem disso, já foi assim um dia.
Se pôs de pé com sua filha entre os braços e tentou limpar as lágrimas.
—Vamos rezar por nossa filha.
Disse ao moreno indo até os bancos pedindo pelo melhor.
Rogando pelo melhor.
E enquanto ninava Inoue implorava aos céus que cuidasse de Sarumi, para que ela pudesse ter uma vida boa e tranquila, como Sasuke tinha prometido que as filhas teriam, como ela faria que tivessem.
Seria uma boa mãe...
Seria!
E suas preces foram ouvidas.
A onda a abateu mas ao ver o pequeno bebe de olhos abertos mesmo respirando com aparelhos, foi como se aquele oxigênio estivesse conectado nela e não na criança.
—Ela tem um leve sopro no coração....
Shizune começou.
A morena foi a única que a travava da melhor forma possível ali dentro, e foi ela que lhe prometeu olhar qualquer uma das gêmeas quando fosse necessário.
A maior parte do que aprendeu sobre medicina foi graças aquela que mais feriu, era difícil usar as técnicas dela, então simplesmente se absteve e agradeceu por aquele gesto de Shizune.
E as lufadas de ar foram maiores dali em diante.
Pois foram suas meninas que a tiraram do buraco onde estava.
Era por elas!
Sarumi era frágil, Sasuke não mediu esforços em colocá-la no que seria o novo time 7, equipe essa onde ele mesmo seria o sensei.
Inoue, sua Inoue, tão parecida consigo mesma, no fundo desejava que fosse só na aparência...
Foi para o time 10, seu tão amado InoShikaChou. Teve tanto orgulho dela!

MaktubOnde histórias criam vida. Descubra agora