JEFFREY - O POETA (PARTE II)

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Vinte e cinco de Dezembro 2017 – Nostalgia.

O almoço de Natal é sempre uma festa em casa. Minha mãe faz muita comida, meus irmãos mais velhos aparecem com suas esposas e filhos, e é quase impossível de conversar, a não ser gritando.

— Venham comer. — Minha mãe diz.

Na mesa, eu contava meus seis irmãos, quatro esposas, cinco crianças, meu pai, minha mãe e meu avô. Mesmo com as risadas altas e a comida passando, eu sentia que faltava algo ali.

Alexander me cutucaria por baixo da mesa, e minha avó faria a autêntica Cassata Siciliana[1], contando a história de como este doce tinha conquistado o coração do meu avô. Apesar da alegria de todos, eu não conseguia participar tanto quanto antes.

— Como você está Jeff?! — Enzo, meu irmão mais velho, tentava alimentar Catarina, mas ela não era uma grande apreciadora de papinha de espinafre.

— Molto Bene. [2]— Digo, com o meu melhor sotaque italiano forçado. Minha mãe lança uma colher de pau em minha direção, e eu desvio no último instante.

— Non parlale cosí, Stronzo![3] — Ela grita.

— Desculpa mãe.

— Você não pode provoca-la assim. Sabe como ela fica irritada. — Enzo limpava a boca de Catarina com guardanapo. — Ela nunca erra.

— Eu deveria agradecer por não ter um traumatismo craniano?! Um dia essa mulher me mata!

— Levati dalle palle, Stronzo[4]. — Ela continua, e arranca risada de todos.

— E a escola? Soube que já liberaram as inscrições para as universidades.

— Sabemos que eu vou cursar administração, por causa da imobiliária do Vovô. E eu estou pronto para assumir o nosso reino e todos os vassalos!

Enzo ri.

— Você não tem mais nada em mente?! Na sua idade eu fiz um escândalo porque queria ser musico em Seattle. Me arrependo de não ter feito a faculdade.

— Não. Eu não tenho nada em mente. — Respondo e coloco uma almondega na boca para não continuar a conversa. Mesmo assim, falo de boca cheia: — E ainda bem que não deixaram você viver disso, morreria de fome com o seu talento.

— Você é um idiota. Mas falo sério. Todo mundo tem um sonho. — Ele tira Catarina da cadeirinha, e a coloca no colo. — E aposto que nossos pais deixariam você fazer o que quisesse.

Porque eu era exatamente igual ao Alexander. Por que eu era o gêmeo que tinha ficado para trás, completo a fala dele mentalmente.

Sou o primeiro a sair da mesa, e espero no canto mais distante da sala até que todos terminem de comer.

Resolvo ir para fora. A primeira coisa que sinto é o vento gelado queimando meu rosto. Sento na varanda, e pego um pouco de neve para amassar, sem as luvas. Largo assim que minha mão fica gelada demais.

Fecho os olhos, e a primeira imagem que me vem na cabeça é a de Valentina Harvey, batendo a porta na sala de aula. Não entendia porque ela estava tão irritada. Ela tinha tirado algo de mim, não ao contrário.

Nunca entenderia as mulheres. Nunca entenderia o que ela tinha de tão fascinante, porque pra mim, Valentina era a garota mais irritante do mundo.

— Você gosta dela. — As pegadas de Alexander não marcavam a neve. — Dá para sentir a tensão no ar entre vocês.

— Eu não gosto dela, seu idiota! — Rebato.

— Gosta sim, eu sei dessas coisas.

— Eu só espero encontrar alguém que não me faça atravessar o oceano por amor. — Digo, ríspido.

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