JULIAN - O INVISÍVEL (PARTE I)

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Primeiro de março de 2018 – Aula de Matemática.

Não, eu não me apaixonei por Valentina Harvey. Fui um mero expectador durante todo o ano letivo. Estava a margem de todos os grupos, não fiz amizades duradouras, não entrei em clubes. Era só eu. Imagino que quando sair o anuário, vão apontar para minha foto e se perguntar: Quem é esse Indiano? Ou Que citação engraçada! Mas a minha aposta é de que estes alunos passarão o dedo nas fotos do anuário daqui há vinte anos, procurando pelos amigos de quem sentem falta, e a palma da mão deles vai tampar a minha cara. Ninguém nem vai saber que eu estive aqui. Eu não me destaquei em nada.

Se os calouros do próximo ano por acaso ficarem curiosos sobre a turma do ano anterior, irão encontrar as fotos espalhadas nas paredes da Franklyn High e uma placa dourada embaixo, com os dizeres: FORMANDOS DA TURMA DE 2018. Eu estarei lá, no canto superior esquerdo, última fileira. Só que ninguém vai olhar para mim. Eu sou só mais um aluno.

Eu não fui Valentina Harvey, a garota mais popular da escola. Não fui Daniel Stone, o cara mais influente. Não fui o atleta do ano, igual ao Rick Shaw, nem a chefe das Líderes de Torcida, como Emma Smith, que ainda saiu nas fotos de casal mais fofo junto com Tony Redfield. Não era o aluno mais inteligente, esse era o Spencer Jong. Não era O Poeta Misterioso, esse era o Jeffrey Cianci. E até mesmo Manfrey Hóng era importante, ele me apresentou a escola, e foi o primeiro líder do Comitê de boas-vindas para alunos de intercâmbio.

O que eu quero dizer é que nem todos nós nascemos excepcionais. Nem todos nos destacamos. Algumas pessoas esperam a vida inteira pelo momento em que elas possam dizer: Foi para isso que eu nasci, esta é a minha hora de brilhar! Acontece que, em mais da metade do planeta Terra, as pessoas como você e eu nunca chegam a este momento.

Eu já me conformei. Sou uma pessoa comum, em um mundo de pessoas comuns. Só mais um na multidão. E não fico decepcionado, zangado e nem triste por ter constatado a verdade inexorável da vida. A maioria de nós nasce, cresce, tem filhos, trabalha e morre, sem alterar em nada o mundo.

E eu sou uma dessas pessoas.

— Julian. — Julie grita, enquanto coloco meus livros no armário. —Você fez o trabalho de matemática?

— Sim.

— Droga! — Ela bate a mão na testa, e apoia as costas na parede. — Eu não fiz o meu.

— É só pra semana que vem. — Respondo, e ajeito a gola da camiseta branca do uniforme que pinicava meu pescoço.

— Tá falando sério?! — Ela solta o ar, aliviada. — Eu vou fazer hoje.

— Não, você não vai. — Andamos pelo imenso corredor juntos até a sala para a aula de matemática. — Você vai esquecer.

— Quanto vale o trabalho?

— Trinta por cento da sua nota. — Abro a porta, e espero que Julie entre.

— Eu não queria reprovar em matemática. — Ela diz, sentando-se em seu lugar.

— Eu sei que não. Mas somos péssimos nessa matéria, então é melhor aceitar a derrota.

— Não. — Julie responde. — Precisamos lutar!

— Não. Se aceitarmos a derrota, isso vai nos poupar de um esforço grandioso e inútil.

Daniel entra na sala de aula, seguido por Valentina e Rick. Os três sentam nas cadeiras de sempre, e retomam a conversa.

— Você não sente nenhuma pontinha de inveja? — Julie aponta com o queixo para o grupo. — Eu gostaria de ser como eles. Devo ter sido a única garota da escola que não saiu com o Rick.

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