Doze de setembro de 2017 – Ensolarado, possibilidade de chuva.
Eu esperava no fim da fila da cafeteria quando notei que minha mãe já fazia o pedido.
— Um expresso, por favor. — Ela disse ao atendente.
— E um Frapuccino de caramelo, com base de café. — Eu completei.
Isso equivaleria a 20% das calorias que eu poderia comer por dia, baseado no meu peso e altura. Precisava acrescentar quarenta e sete minutos ao meu tempo de corrida.
O atendente anotou os pedidos e nos duas nos sentamos na mesa perto da janela.
Gostávamos de ver as pessoas andando apressadas na rua, e tentávamos adivinhar para onde elas iam. Se estavam com sacolas, acessórios da empresa onde trabalhavam, ou chaves com adereços nas mãos, era fácil. Quando era impossível adivinhar, inventávamos histórias.
— A moça de casaco azul parece perdida. — Digo, enquanto o atendente coloca os copos na mesa.
— Eu diria desolada. Está segurando um crachá na mão esquerda. — Minha mãe observa. — Talvez tenha sido demitida.
— E a caixa de papelão dela? — Questiono, e brinco com o chantilly da minha bebida. — E se o namorado dela terminou o relacionamento?
— É uma boa teoria. — Minha mãe assopra o café e toma um gole. — Por que você queria me ver?
Minha mãe é CEO de uma empresa de tecnologia, e trabalha o dia inteiro. Por isso, tem a liberdade de fazer pausas quando quer. Mas isso não quer dizer que ela pode sair por uma besteira qualquer.
— Eu magoei um amigo importante, e não sei como pedir desculpas. — Abaixo a cabeça, esperando a bronca. Ela estava envolvida em um grande projeto agora. Me arrependi de ter vindo. — Era só isso, desculpa interromper seu trabalho.
— É o Tony? Achei que você nunca iria falar com ele outra vez. — Ela tomou outro gole do café, e colocou a xicara na mesa. — Eu lembro de como você ficou desapontada na terceira série porque seu melhor amigo não estava lá para te apoiar. Eu não sou insensível aos seus sentimentos. Em que pé está história está?
Isso me dá coragem para continuar:
— Tem essa menina nova na escola, o nome dela é Valentina Harvey. Ela ficou amiga do Tony. Depois de tanto tempo longe, vendo essa aproximação dos dois, eu me sinto culpada por não ter retomado o contato antes.
Tomo um gole do copo e olho para fora. As gotas de chuva grudavam na janela, escorrendo lentamente. O céu estava muito azul e nuvens cinzas claras completavam a paisagem.
— Não culpe tanto a si mesma Emma. — Ela responde. — Garotos são muito mais sensíveis e nem sempre é possível agradá-los. Considere primeiro suas motivações para retomar essa amizade. Você está com ciúmes dele ou quer seu amigo de volta? Quando descobrir a resposta, poderá pedir desculpas sinceras. — Ela interrompe a conversa para atender o celular.
Voltei minha atenção para a janela. Um rapaz de casaco preto lutava com o guarda-chuva para abri-lo, e uma garota com uma capa de chuva amarela parou para ajudá-lo. O cabelo dela estava divido em duas tranças vermelhas, e seu rosto era cheio de sardas. Ela estava chorando. Ele desistiu do guarda-chuva e a abraçou. As pessoas continuaram passando do lado deles, sem nem se incomodar.
— Preciso ir querida. Seu pai irá fazer o jantar hoje. Provavelmente vou me atrasar, então avise-o por favor. Se precisar de mim, é só ligar. — Ela deu um beijo no meu rosto, colocou a bolsa no ombro e saiu apressada da cafeteria.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Todas as versões de você.
RomansaUma caloura que entra no último ano deixa todos na Franklin High curiosos. Afinal de contas, quem é Valentina Harvey? Cada um tem a sua versão para contar sobre quem ela é, mas não acredite tão facilmente em nenhum deles. Valentina também não vai di...