A queda de Líang

Capítulo 34

(Yáng Shun)

A noite agonizante esconde seu luar com densas nuvens, o vento parece com lâminas passando por meu rosto e a chuva contínua faz com que minha visão fique ainda mais limitada, porém nada disso se compara com a aflição em meu coração por mais uma vez ter falhado em protegê-la e em pensar que ele pode a machucar ainda mais ou tirar sua vida, tal dor seria insuportável, não existiria vida se não houvesse a esperança de poder rever o sorriso de Líang Mei, um sorriso capaz de iluminar uma manhã chuvosa e de desarmar exércitos.

Mas não entendo que informação ela poderia lhe oferecer para que ele antes a livrasse de assassinos, ou seria apenas uma vingança pessoal? Ele por certo não tem conhecimento de quem realmente ela é e de todo saber que adquiriu ou nem mesmo eu teria conseguido a resgatar, porém tento me convencer que ele queira algo além de vingança ou será tarde de mais e não posso acreditar nisso, enquanto eu ainda tiver um suspiro em meu corpo eu continuarei procurando.

Meu corpo treme com o vento gelado que passa pela roupa molhada, de longe escuto os passos de meus soldados andando na lama.

- Diànxià vai ficar doente se continuar na chuva, por favor volte e descanse quando amanhecer voltaremos a procurar.

Me viro para a voz e mesmo no escuro vejo a silhueta de meu general.

- Ela é importante para mim, não desistirei até que a encontre e a deixe a salvo.

Dou as costas e volto a caminhar tirando o excesso de água do rosto com uma mão.

- Diànxià essa não é nossa missão e minha missão pessoal é mantê-lo seguro e pela sua saúde peço que volte e se aqueça e se não for o bastante para convencê-lo pense em seus homens.

Paro de caminhar mas não me viro para ele, escuto algumas tosses ecoarem entre as árvores e alguns passos afundando na lama.

- Reúna todos os que estiverem se sentindo cansados ou doentes para continuar e leve de volta para o acampamento eu não desistirei, eu fiz uma promessa general e vou cumprí-la.

Sinto uma mão repousar em meu ombro mas me recuso a virar.

- Diànxià sua vida é mais valiosa, por que arriscá-la por ela? Sabe que não vai poder salvá-la..

Me viro rápido o interrompendo, não importa o que seja eu sempre vou fazer meu melhor para livrá-la e a proteger.

- Cuidado com suas palavras general, agora obedeça a ordem.

Ele volta a sua postura retirando sua mão de meu ombro.

- Sim diànxià.

Ele faz uma reverência e se vira em direção aos outros.

O vento parece uivar dentre os galhos mais altos, as árvores estalam como se sentissem o mesmo frio que faz meus ossos doerem, algumas mechas de cabelo grudarem em meu rosto, água escorre por elas e minha garganta arde assim como meu coração em angústia.

  A chuva para conforme as horas passam, chamo por seu nome por toda a noite e quando o sol mostra seus primeiros raios continuo a chamando, minha mente está vaga e sinto meu corpo cinco vezes mais fraco.

  Então um soldado jovem se aproxima correndo, penso que deve estar com seus treze anos, me pergunto por que alguém jovem e de aparência nobre estária no exército em tempos de paz, mas então lembro que não há tempos de paz. Dentre outras coisas que ele fala o título gōngzhǔ chama minha atenção e o sigo.

Sinto meu coração bater mais forte assim que a vejo, ela está viva, sinto meu coração se alegrar mas então me aproximando mais percebo preocupação e dor em seu rosto, assim como tristeza e raiva, vejo a mão do general apertar seu pulso, vejo ela tentar se soltar, nem percebo minhas lágrimas se misturarem  a água em meu rosto, então vejo sua outra mão sobre a espada, antes que eu perceba meu próprio movimento minha espada está encostada em seu pescoço sobre seu ombro.

- Solte ela general, se encostar um dedo sequer na gōngzhǔ novamente eu cortarei sua mão fora é meu último aviso.

Digo fazendo uma leve pressão com a lâmina deixando claro que não seria apenas a mão então vejo ele a soltar ainda me olhando como que desafiando mas no momento não me importo com sua insubordinação tudo me importa que que Líang Mei está segura agora, sorrio para ela tentando parecer melhor do que estou e a analiso procurando algum ferimento urgente então a puxo para meus braços sentindo aquecer meu coração com o dela próximo a ele, é como se o mundo não existisse e um milênio passasse em instantes.