ALPHA: OS INTRUSOS [LIVRO 2]

4 | Não foi uma causa natural?

[06 DE AGOSTO DE 2020 — QUINTA-FEIRA]

Na manhã seguinte, eu me encontrava na sala de Sandra. Já deveria ter passado uns dois minutos desde o momento em que entrei aqui com um único propósito: tentar dobrá-la sobre sua ideia de me deixar dividir o mesmo dormitório que Marcus.

— Diretora, por favor — reclamei para ela. — Eu vou morrer com tanta radiação no meu quarto.

Ela vincou sua testa na minha direção de um jeito divertido e fechou uma gaveta de sua mesa após pegar um lenço.

— O que quer dizer com isso?

Bufei. Sabia que ela jamais entenderia.

— Estou dizendo que, basicamente, seria muito bom que a senhora deixasse um mar de distância entre Marcus e eu, se puder. Para o bem dele.

Claro que eu não falaria "E para o meu também", pois não era eu quem estava correndo perigo.

— Alec — Sandra tirou seus óculos para limpá-los com o lenço —, não seja assim. Você é um aluno exemplar. Não seria produtivo começar a conviver com alguém tão inteligente quanto você? Ele me parece ser um garoto adorável, pelo que percebi.

Cruzei os braços e comecei a andar pela sala da diretora com um sorriso destinado a mim mesmo.

— Eu poderia lhe dar uma lista completa de todas as pessoas que aparentaram ser boas e, no fim, demonstraram ser tão bondosas quanto Lúcifer — murmurei, o rosto divertido. Diante de um pequeno mural, encarei uma das folhas só por encarar.

A diretora riu.

— Marcus não é como Lúcifer, Alec.

— Ele é próprio Lúcifer.

— Não diga bobagens. Para provar que está errado, posso te dizer que ele mesmo quis ir para seu dormitório, pois estava louco para te conhecer melhor. Isso não é uma atitude amigável?

Estreitei os olhos e virei a cabeça para Sandra.

— Pensei que tinha me dito que foi um sorteio — lembrei-a. — Não escolheu os quartos para hospedar os três alunos aleatoriamente?

Ela uniu as mãos acima da mesa.

— Sim, essa foi minha proposta inicial quando Marcus veio aqui comunicar sobre o problema em seu dormitório — explicou. — Anunciei a ele que escolheria os quartos onde ele e seus colegas fossem dormir, mas ele me perguntou se haveria algum problema em ficar no mesmo lugar que você. Ele parecia estar bem disposto a querer isso. Disse que poderia até a te ajudar com o seu problema Cálculo.

Fiquei ainda mais confuso.

— Quê?!

— Você não está com dificuldades em integrais triplas?