16 | Você tá ferrado

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[05 DE SETEMBRO DE 2020 — SÁBADO]

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[05 DE SETEMBRO DE 2020 — SÁBADO]

O projeto para o Setembro Amarelo teve sinal verde no começo da semana, na segunda-feira. Provavelmente este seria o mês das palestras: além da que teve ontem, haveria outras, mas agora elas seriam relacionadas às causas que levavam as pessoas ao suicídio (e, consequentemente, como ajudá-las a não embarcarem nesse caminho) e aos diversos tipos de preconceito também. Fiquei feliz com a decisão de Sandra em ter aceitado abordar temas que não tivessem somente a ver com suicídio.

A diretora permitiu que o jornal do ALPHA — sucesso entre os alunos, aliás — escrevesse em todos os dias notícias relacionadas a causas sociais. Dados estatísticos sobre pessoas que tiraram a própria vida, motivações para fazê-las buscar ajuda e como identificar quando alguém está cogitando efetuar tal ato cruel estavam constantemente sendo imprimidos nos jornais. Pensei que não daria tanto sucesso assim todo meu intuito de abrir os olhos daqueles que não viviam em situações difíceis como essas, mas, ao ver alunos lendo seus jornais na hora do almoço ou jantar, percebi que estava enganado.

Joshua e eu ficamos orgulhosos.

Na quarta-feira passada, duas alunas dos primeiros anos vieram falar comigo sobre o projeto. A primeira coisa que cogitei quando as vi foi que elas queriam participar dele também. No entanto, depois de um minuto de conversa, observei que elas estavam em busca de socorro para um problema que estavam passando em comum: depressão. Fiquei surpreso por ter recebido a atenção delas em um momento particular e chocado por saber que as duas garotas, por se sentirem tristes demais consigo mesmas, cogitavam o suicídio, e isso me chocou muito. Lembrei-me de que passei por essa experiência.

Embora eu tivesse conversado por um longo tempo com elas e falado que trilhei o caminho que elas queriam trilhar, não senti que tinha ajudado para valer — porque não entendia quase nada do assunto sobre depressão. Meus motivos para tirar a vida foram outros. Então me recorri a Sandra na manhã de quinta-feira e introduzi uma possibilidade do ALPHA contratar um psicólogo — que obviamente entendia dos problemas dos alunos melhor que eu. Além do mais, sabia que tinham outras pessoas aqui no colégio que passavam por dificuldades parecidas ou por outras situações tão delicadas quanto. Talvez elas fossem querer um profissional para compreendê-las perfeitamente.

Como poderia o ALPHA ter passado tantos anos sem ter pensado nesse detalhe?

Já com meu pedido de abrir um projeto para ajudar os adolescentes daqui, pensei que a diretora não fosse ceder a mais uma ideia minha, mas ela aceitou: teríamos um psicólogo ainda neste mês. Por fora, apenas agradeci, mas por dentro eu tinha soltado fogos. Ajudar os outros estranhamente me fazia mais feliz do que ajudar a mim mesmo.

Além das palestras que teríamos e das notícias nos jornais do colégio, alunos — incluindo eu — se voluntariaram para criar cartazes de apoio àqueles que, de alguma forma, eram considerados uma minoria (ou que não se encaixavam no padrão de ser humano esteticamente bonito). Decidimos separar as turmas que quiseram participar da criação dos cartazes de modo que cada uma abrangesse um tema do bullying. Minha turma ficou com gordofobia — assunto que fiz questão de escolher. Decidi chamar Paulo — o garoto do dormitório de Marcus — para me ajudar com alguns cartazes no meu quarto. Vanessa estava conosco ainda há pouco, mas saiu para comer alguma coisa no refeitório. Meus outros dois colegas do dormitório já tinham partido para a casa dos pais bem cedo. Como em todas as outras vezes, eu iria para a minha só lá pelo começo da tarde, quando o treino de Joshua terminasse.

ALPHA: OS INTRUSOS [LIVRO 2]Onde histórias criam vida. Descubra agora