[08 DE AGOSTO DE 2020 — SÁBADO]
Sentado na cama do meu quarto na manhã de sábado, sozinho, pluguei meu aparelho celular no computador e transferi o arquivo do áudio que eu salvei ontem — contendo a prova de que Marcus armou um plano para estragar a fiação do próprio dormitório. Assim que meus amigos saíram para tomar café, liguei meu Macbook e iniciei a transferência do arquivo. Enviei-o para meu Google Drive também.
Joshua estava na quadra por causa da bolsa de vôlei. Acordei cedo para tomar café com ele e, após isso, voltei para meu quarto. Decidi que contaria a ele sobre o áudio à noite, quando estivéssemos em casa. Depois que ele terminasse o jogo na quadra, iríamos para lá descansar um pouco e nos vestirmos para voltarmos aqui — hoje era a festa para a recepção dos calouros.
Já tendo passado o áudio para meu computador, desconectei o cabo USB. Um sorriso admirado se formou no meu semblante quando eu trouxe à tona a conversa que tive com Marcus e com seu namorado tão tóxico quanto ele, lembrando-me da sincronização que os dois carregavam ao tentar alcançar um objetivo em comum: causar minha destruição. Ambos eram bem mais unidos do que eu suspeitava. Embora eu tivesse brincado com Joshua sobre isso, não duvidaria que eles realmente fossem trabalhar juntos para matar e esconder um corpo de uma pessoa.
Estreitei meu olhar ao imaginar o poder que a dupla carregava.
Eles definitivamente não são como Matthew.
Fechei meu computador em meu colo, levei-o comigo ao sair da cama e o guardei entre minhas roupas no guarda-roupa. Assim que fechei as portas duplas de madeira moderna, meu olhar parou em meus dois braços — especificamente nas marcas brancas e finas que representavam minha tentativa de suicídio. Bastou que eu analisasse os cortes para erguer as sobrancelhas, virar meu corpo e, tocando as linhas na minha pele, deslizar minhas costas no guarda-roupa até me sentar no chão. As memórias foram para o dia em que me infiltrei na minha banheira.
Subi o rosto para o teto.
Recordei-me de como eu não tinha conseguido dormir no sábado em que Joshua foi jantar na minha casa, pois passei a noite inteira pensando profundamente se eu levaria minha decisão de me cortar adiante. Chorei muito nesse dia; meu cérebro não parava de lembrar das últimas palavras que falei ao meu namorado antes de ter certeza de que jamais o veria de novo. Ainda que eu já tivesse convencido a mim mesmo de que tiraria minha própria vida, parte da minha mente implorava pelo contrário. Não consegui não pensar no que resultaria minha morte. Saber que Joshua teria que viver sem mim era, claramente, o motivo principal pelo qual eu queria tanto voltar atrás. Fui egoísta de não imaginar seu sofrimento, mas não deixei de cogitar que, em todo caso, se eu realmente fosse para São Paulo, eu não o teria por perto da mesma forma.
Fechei minhas pálpebras ao trazer de volta o que era para ser meu último domingo vivo. Foi à noite desse dia que falei para mim mesmo: "Vou fazer isso". Recordei-me de como passei meu jantar inteiro encarando o prato de carne com o olhar mais vazio do mundo. Foi um milagre não ter chorado na frente dos meus pais — sinceramente, conhecendo-os bem, minhas lágrimas não teriam nenhum sentido. Eu estaria chorando pelo que, afinal, se, para eles, eu era um garoto que poderia ter todos os bens materiais que quisesse? Talvez fossem pensar que meu choro era relativo ao fato de que mudaríamos de cidade, porém, ainda assim, para meu pai e para minha mãe, não seria razão o bastante para liberar lágrimas.
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ALPHA: OS INTRUSOS [LIVRO 2]
RomanceO segundo e último semestre no ALPHA começa, e, com isso, vem a chegada de novos alunos e de novidades. Joshua e Alec, após os acontecimentos tristes que quase tiraram a vida de um deles, parecem enfim estar prontos para a volta às aulas, deixando t...