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4. (In)segurança

Eu tinha me esquecido do jantar com o Fábio. Caramba! Eu estava completamente alheia à minha vida. Quando foi que isso começou a acontecer? Encontrei minha sala com pétalas vermelhas, o apartamento era iluminado com velas e tinha uma mesa linda montada. Ok, isso era um pouco... brega? Fábio sempre foi romântico, mas tinha esses comportamentos sempre que brigávamos.

- Gostou, amor? – Fábio perguntou, segurando meu rosto e lançando um sorriso imenso.

- É... Nossa... Sim... – Eu estava mais assustada do que feliz com a surpresa. – Tá lindo, você preparou tudo sozinho? – Perguntei, tentando voltar ao meu estado normal.

- Hmmm, digamos que o google é um ótimo recurso. – Ele afirmou, rindo. – Eu só quis fazer algo diferente. Preparei o jantar e comprei um Cabernet Sauvignon, o vinho espanhol que você adora. – Respondeu, servindo duas taças.

Era a terceira vez em menos de dois meses que ele preparava uma surpresa do tipo, já tinha deixado de ser surpreendente ou romântico. Aliás, nosso relacionamento já não era o mesmo desde o noivado. Ele estava cada vez mais controlador, sempre falando sobre o casamento e sobre como a vida à dois seria perfeita, a vontade de ter filhos... Tudo isso estava me sufocando.

- Amor? Marcela? – Ele chamou, enquanto fazia um carinho no meu rosto. – Você está tão distante, problemas no hospital?

- Não... É, sim... Mais ou menos. Eu estou um pouco cansada, você sabe como é minha rotina. – Respondi, sem me animar muito com seus carinhos.

Fábio era um homem atraente, era alto, forte, inteligente e tinha boas ideias. Tinha me ajudado muito em diversos momentos, além de ser um bom companheiro. Aliás, eu já não sabia se ele continuava o mesmo de quando o conheci. Mas ele era o típico homem perfeito e que a minha família esperava que fosse pai dos meus filhos. Filhos nunca foram parte dos meus planos, confesso. Eu conheci o Fábio no hospital, ele estava acompanhando uma cliente que havia sido agredida, era muito atencioso e simpático, me chamou atenção. Começamos com conversas formais, que logo se transformou num relacionamento. Tudo sempre aconteceu muito rápido entre nós, nossas famílias cuidavam dos preparativos do casamento... meu casamento era daqui cinco meses e eu já não tinha tantas certezas. Só que eu precisava continuar com o Fábio, precisava do que ele me oferecia: um relacionamento e um status para minha família. Meus pais eram sócios do hospital, sempre tive tudo com muita facilidade devido ao fato de que minha família tinha uma condição financeira extremamente favorável, mas eu gostava de reverter tudo isso em aplicações nos meus projetos sociais. Era muito mais satisfatório ajudar o próximo, salvar vidas, ajudar crianças... Bem, essa sou eu e meu relacionamento.

Eu e o Fábio jantamos com calma, ele falava sobre o seu trabalho e seus últimos clientes. Chegou na minha vez de falar sobre o meu trabalho e sobre os meus estagiários. O ponto delicado do assunto.

- E quem era a moça com quem você estava ontem? – Fábio questionou.

- É uma das minhas estagiárias, ela teve problemas com a moto, tinha passado alguns problemas no hospital. Você sabe como eu sou, né? – Perguntei, forçando um sorriso. – Eu optei por levar ela para casa, era longe e já estava tarde. Você sabe como a cidade é perigosa.

- Claro que sei. Você é incrível, meu bem. Exatamente pelo fato de a cidade ser perigosa que eu fiquei preocupado, você entende, não é? Me perdoe pela grosseira, não vai se repetir. – Ele respondeu, segurando minha mão.

- Claro, tudo bem. – Me limitei a responder, tomando mais um gole do meu vinho.

Terminamos a garrafa de vinho e seguimos para o quarto. Foi a primeira vez que eu não estava envolvida no sexo com ele, a nossa relação sempre foi muito prazerosa, mas... dessa vez os meus pensamentos estavam tão distantes, eu não tinha tanta vontade de estar ali...