𝓬𝓱𝓾𝓿𝓪

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Kim Yeri

    As gotas da chuva caíam na água formando pequenos círculos antes de se juntarem com o resto do oceano. O mar estava forte,batendo contra as pilastras da ponte,e voltando. Estava tão escuro. Eu não conseguia ver nada além de escuridão. Águas escuras e sem vida.

      Eu não consigo parar de errar. Não importa o quanto eu tente,eu não consigo. Meu único desejo,era dar orgulho para minha mãe como minha irmã sempre fez. Eu ao menos queria,entrar na faculdade ou parar de beber. A bebida é meu maior ponto fraco. É nela que eu busco ajuda quando em dias como esses,eu não consigo encontrar outra solução.

     A garrafa de whisky já estava vazia em minhas mãos,mas mesmo assim,eu ainda insistia em tirar mais um gole. Percebendo que não adiantaria,eu a arremessei contra o chão,me assustando quando o vidro quebrou em milhares de pedaços.

    -Porque eu não consigo ser boa?

    Minha voz saiu em um sussurro. Minhas lágrimas se misturaram com as gotas de chuva que caíam por minha face. Blusa,calça,jaqueta,tudo estava molhado,e me fazendo sentir frio.

     Quando tudo isso vai acabar? Quando eu finalmente,vou conseguir me tornar um pessoa boa?

    Eu nunca me formarei na faculdade,eu não tenho talento em nada,e não consigo encontrar algo que me faça bem. Nunca vou arranjar um namorado, provável que ele não me ature por mais de uma semana. Nunca vou me casar,e nunca vou ter filhos. Eu não posso ter filhos. Mais um motivo,para ser tão odiada por minha mãe. Eu nunca,vou poder ter um filho.

    Morrerei nova,depois de tanta bebida,me surpreende que eu ainda não esteja com os dias contatos. Não vou ter dinheiro,sempre terei que roubar para poder comprar alguma coisa.

     Afinal,porque ainda estou viva?

    Minhas mãos apertaram as grades que impediam que eu caísse na água. Eu desejei que elas não estivessem ali, para que eu não precisasse pular. Apenas,caísse.

     Ninguém nunca,vai conseguir tirar a dor que eu sinto. Me sufoca,me mata aos poucos a cada dia e me deixa sem sentido,sem coragem para continuar.

     Sou um caso perdido,alguém que nunca deveria ter existido. Acho que sou um erro. Alguém que não deveria ter nascido,mas nasceu.

      A dor começava a me sufocar,a cada pensamento,era como se alguém estivesse apertando meu coração com as mãos,tentando-o arrancar de meu peito. Meus pulmões insistiam em trabalhar para em manter viva,mas eu não queria viver.

     Lentamente,me apoiei nos ferros da ponte, forçando meu corpo a subir no parapeito,minhas pernas estavam trêmulas e foi difícil ficar em pé sobre o mesmo. Mas eu consegui. Pelo menos isso,eu tinha feito certo.

     Ninguém passa por essa rua durante a madrugada. Então ninguém vai me salvar.

    Eu desejo morrer,desejo me livrar desse maldito sentimento. Quando eu fechar meus olhos está noite,eu não vou precisar me preocupar com mais nada. Tudo estará finalmente em paz.

    -Ei garota!

  Uma voz grave me fez quase perder o equilíbrio e cair de vez na água,precisei abaixar para recuperar-me. Me assustei quando vi um homem se aproximar correndo e parar a alguns metros de mim.

    Eu não conseguia ver muito bem seu rosto,mas sei que não o conheço. E que ele está me atrapalhando.

    -Senhor, pode ir embora? Eu vou resolver uma coisa aqui!

    -Uma coisa? Larga de ser imbecil menina! Quantos anos você tem? 15? A vida é uma merda mas nem por isso devemos nos matar na primeira oportunidade! -Ele se aproximou mais um pouco,e estendeu a mão.

     Ele acha que vou simplesmente sair daqui com palavras? Ele não entende minha dor,não sabe o quanto eu já tentei passar por isso,o quanto eu tento todos os dias ser alguém melhor e tirar todos esses sentimentos de mim,mas eu não consigo,e estou cansada de lutar por algo que eu não consigo vencer.

     -Se continuar aqui,vai arrumar muitos problemas com a polícia. Podem até achar que o senhor me matou,então por favor,pode só ir embora?

     Me levantei com cuidado para não cair de propósito. O homem suspirou irritado e passou a mão nos cabelos molhados.

    -Eu vou avisar apenas uma vez! Se não descer, daí,eu vou ser obrigado a te tirar!

    Então ele seria obrigado.

    Respirei fundo me virando de costas e encarando a água abaixo. Tão profundo,violenta e escura. Exatamente igual a minha vida.

     Fechei os olhos e deixei que meu corpo parasse de responder aos meus comandos. Lentamente,meu corpo começou a cair para frente.

     Eu acho que agora,minha mãe iria se orgulhar de mim.

    -Peguei você!

Learning to loveOnde histórias criam vida. Descubra agora