𝓝𝓪̃𝓸 𝓮𝓼𝓽𝓪𝓻𝓮𝓲 𝓼𝓸𝔃𝓲𝓷𝓱𝓪 𝓭𝓮𝓼𝓼𝓪 𝓿𝓮𝔃

3.2K 414 167
                                        


      Minha cabeça estava latejando, como se martelos fossem usados para me acordarem. A cada pequeno movimento, eu sentia como se meu corpo fosse cair, mesmo não estando em nenhum lugar alto. Demorei mais do que o esperado para abrir meus olhos, não consegui me acostumar com a claridade de início, meus olhos doeram quando olhei na direção da janela aberta. A brisa fria de inverno invadia o quarto, me trazendo recordações da noite passada. 

   Jungkook não estava ao meu lado na cama, mas os lençóis bagunçados me diziam que ele passou a noite aqui, de fato. Talvez tenha ido para a galeria, ou precisou passar em algum lugar e por isso não me acordou. Ele nunca me acordaria na verdade, sabendo do estado em que despertaria, ele se portou como meu marido gentil e me deixou acordar sozinha. Sei que a noite de ontem, o dia de ontem, deveria nunca ter existido. Não consegui controlar a mim mesma, o filho de JUngkook foi um gatilho pra Yeri escondida dentro de mim, e assim que viu  seu rostinho perfeito, decidiu que era a hora perfeita para trazer a tona assuntos do passado. 

  Me lembro vagamente de Jungkook me dando um banho rápido, me vestindo e me alimentando com algo salgado. Ele estava com uma feição preocupada a todo momento, no entanto, estava tentando não me culpar e sorria gentilmente. Me lembrar disso agora, é como um soco no estômago. Ele queria sim me culpar, queria gritar comigo e me fazer cair na real, mas não o fez. Apenas ficou ao meu lado, engolindo suas vontades e se preocupando em me ajudar. Não me surpreende, ele nunca faria diferente. Mas quem sabe, dessa vez, ele pudesse ser um pouco mais rígido. 

  Não estive lá quando ele precisou. Me lembro como estava aflito, e com medo de ver o filho, tentei dar meu apoio, fui a pessoa que ele precisava, seu porto seguro. O problema, foi quando eu vi o menino, ele era a cópia perfeita do meu marido, sem tirar nem pôr, era uma lembrança viva do meu fracasso, do meu desejo. Jungkook  nunca me pediu um filho, e nunca me culpou por não poder lhe dar. Mas eu me culpo. Me culpo não por não conceder esse desejo a ele, mas a mim mesma. Eu quero um filho. Eu desejo com cada parte suja e sombria do meu coração, um filho. Um pedaço de mim, que eu irei cuidar, amar, ensinar e alertar. Esse é meu maior desejo. 

   E quando vi aquela criança, aquele menino pequeno e saudável, eu não consegui suportar a ideia de que ele não era meu. Era dele, e não meu, nunca será meu. 

  Ninguém nunca vai bater em minha porta me dizendo sobre um filho perdido. Ninguém nunca vai me ligar no meio do dia me dizendo que meu filho precisa de mim. Meu filho nunca existirá, ele se foi a muito tempo sem uma forma de retorno. Me pergunto agora, porque nunca culpei minha mãe? Porque nunca descontei meu ódio nela? A resposta é simples, sempre estive destruída demais para me importar. O problema, é que agora me importo.  Agora, sinto como se isso fosse uma necessidade, como se meu corpo, exigisse isso de mim a cada mês quando me lembro de que não vou completar meu ciclo natural, já que meu útero está destruído demais, seco e infértil. Sou oca por dentro, vazia. Nada de bom vai nutrir ali, pois não existe o ali. 

  As vezes, quando fecho meus olhos para dormir, consigo visualizar seu rostinho. Ele não seria parecido comigo, nem um pouco. Puxaria cada detalhe de JUngkook, até mesmo os pequenos. Quando estou prestes a cair no sono, consigo ouvir seu chamado em minha direção, sua voz é sempre doce e suave, um "mamãe" carregado de amor e necessidade. Consigo imaginar seu choro, seu toque, seu cheiro e suas manias. Tenho a mente fértil, diferente do meu corpo. Consigo criar situações onde ele pula em meu colo ou me pede por comida. Ele também ama brincar no jardim, gosta de animais e ainda pequeno sente amor pela arte como eu e seu pai. Mas diferente de nós, seu talento é com a música. Minha criança imaginária cresce em um lugar distante, um lugar onde ela existe. 

   Me forcei a levantar, precisava de um banho, um copo de água, um remédio para dor de cabeça, e um copo de rum...

    Sobressaltei na cama, balancei a cabeça desesperadamente e refiz meus pensamentos. Banho, água, remédio e trabalhar. Nada de bebidas, nem mesmo imaginárias. Não preciso dela, não preciso do seu gosto cortando minha garganta e saciando minha sede, não preciso do cheiro forte do álcool misturado com limão ou maracujá, não preciso da sua tonalidade diferente e de como deixa minha mente. Me sinto feliz, leve e suave. Me sinto eu mesma. 

Learning to loveOnde histórias criam vida. Descubra agora