A Escolhida Da Profecia

09 - Perdida

Nix

Minha cabeça doía como a tempos não acontecia, abri os olhos vagamente me sentindo zonza e enjoada, tentei me mexer mas sem sucesso, minhas mãos estavam presas a correntes, assim como meus pés.

_ Aconteceu tanta coisa... E quando finalmente nós encontramos, isso acontece... - Uma voz diferente ecoava no imenso cômodo onde me encontrava.

_ Parece que a ruiva acordou. - Reconheci de imediato, era Connor, pisquei algumas vezes me acostumando a claridade do lugar quando luzes foram acesas bruscamente.

_ Ainda bem, mas você acha seguro tirar ela das correntes? - O homem que eu não conhecia caminhava junto ao albino, ambos ficaram em minha frente conversando como se eu não estivesse ali.

Ignorei suas palavras, me concentrei em me lembrar do que aconteceu antes de eu vir parar acorrentada, rápidas imagens do que havia acontecido naquela espécie de masmorra voltou a minha mente, lágrimas escorriam por meu rosto e o que acontece a não sei quando tempo voltou, ver e rever eu tirar a vida daqueles seres, tirar suas vidas como se fosse divertido.

Uma parte de mim queria chorar em arrependimento por ter feito aquelas coisas, mas a outra estava feliz e completamente satisfeita por fazer aquilo e faria de novo assim que pudesse. Quando ataquei Connor me senti perdendo total controle do meu corpo, como se eu tivesse sido desligada e outro alguém tivesse assumido o comando.

_ Ruiva? - A voz do albino se fez presente em minha mente me tirando do transe.

_ Então até o momento ela só tem duas almas operando no corpo? - Perguntou o garoto de cabelos castanhos me olhando de cima a baixo.

_ Uma ela parece controlar bem, agora a outra parece ser mais complicada. - Explicou o outro brevemente, ele se abaixou a minha frente colocando algumas mexas do meu cabelo atrás da orelha.

Senti minhas lágrimas serem limpas e em seguida ele afagou meus cabelos, me senti estranhamente bem, mas ao sentir uma presença diferente meu corpo reagiu sozinho fazendo com que minha expressão se tornasse mais séria tentando me soltar das correntes.

_ Ah então essa é nossa escolhida? - Era uma voz feminina, saía das sombras andando até onde estávamos, Connor e o outro se afastaram no mesmo instante.

_ Quem é você?! - Perguntei com uma certa raiva do sorriso cínico estampado em seus lábios.

_ Então nossa antiga rainha ainda reage a seus renegados. - Ela continua a sorrir o que me tirava do sério, mas acho que ela está certa, não a conheço mas meu corpo e meus instintos reagem sozinhos.

Não respondi, apenas fiquei lhe observando, percebi que Connor a encarava com desgosto embora não entendesse o motivo, mas o mesmo logo se retirou levando junto o moreno.

_ Não se preocupem, no máximo vocês reviveram uma das piores criaturas que já existiu. - Essas palavras saíram de sua boca de forma séria, o que pareceu assustar eles e até mesmo a mim.

_ O que vai fazer comigo? - Perguntei recuada, meus sentimentos estavam confusos e agindo sem ordem.

_ Oh minha pequena, vou te colocar em coma... - Diz abaixando as correntes que me prendiam, meus braços enfim pudiam descansar um pouco. - E deixar você cuidar da nossa querida e antiga rainha, que agora vive em seu corpo tentando tomar controle dele.

_ Lembre-se Kelly, ela precisa sobreviver. - Foi a última coisa que ouvi de Connor antes de sua presença desaparecer por completo.

_ Não se preocupe lobinho, vou cuidar bem da nossa escolhida. - A mulher loira me encarou com certo ódio. - Fique tranquila antiga rainha, sei que está ai, esse olho vermelho não engana ninguém. - Comentou ela ainda me encarando.

Iria responder mas deixei o silêncio tomar conta, eu apenas ouvia o barulho das correntes se soltando, percebi que a boca dela ainda se mexia, mas eu não conseguia escutar, minha visão foi se tornando turva e tudo escurecia, quando menos percebi sentia como se tivesse morrido.

Abri os olhos lentamente, me sentei sobre o nada a qual vagava, não existia começo, meio ou fim, era tudo um grande e enorme nada, era pouco visível algumas fendas brancas e delas saiam sons tranquilos, de alguns eram coisas mais perturbadoras, me levantei, não lembrando quem era, o que fazia ali e que lugar era esse.

Me pus a andar para qualquer direção, acho que não faz diferença, queria chegar a uma fenda branca e assim fiz, a curiosidade me atraia para aquele lugar quando toquei, o cenário mudou, tudo estava diferente de antes, agora era mansão, duas crianças brincavam no jardim enquanto um casal os olhava do segundo andar com sorrisos largos nos lábios.

Por algum motivo não via seus rostos, apenas seus corpos, bocas, as roupas que vestiam e seus cabelos, nada mais, seus olhos, sua pele, como eram não me foi mostrado, e acho que não seria nem tão cedo, sai de meus pensamentos ao ouvir um choro de dor, olhei para o lado e uma das crianças haviam acabado de cair, o outro lhe ajudava enquanto o que parecia ser uma empregada acabava de chegar com um kit de primeiros socorros.

Vi apenas um filete de sangue escorrer pela perna da criança, o casal já estava lá também e todos lhe davam carinho e atenção, enquanto seu choro ia embora aos poucos e apenas a dor parecia lhe incomodar. Senti uma lágrima escorrer por minha bochecha quando fui limpar percebi que estava do mesmo jeito que eles. Me assustei e fechei os olhos em reflexo querendo fazer as lágrimas pararem.

Os abri novamente sentindo que estava no colo de alguém, ouvia suas vozes pedindo para que eu me acalmasse e assim fiz, abraçando aquele que  me mantinha em seu colo, afagando meus cabelos e me passando ternura e proteção com apenas um único abraço. Ergui o rosto que até o momento estava escondido no ombro do homem que me segura, ao olhar para frente um espelho estava lá e estranhamente pude ver e lembrar...

Mãe! Dante!

Eram minha mãe e meu irmão, mas o homem não aparecia, continuava do mesmo jeito, mas algumas coisas voltaram e eu me sentia melhor por me lembrar deles, porém ainda sentia que uma parte de mim faltava. Voltei a chorar não sentindo mais ninguém ali, tinha voltado ao nada mas agora uma aura sinistra perturbava o lugar, limpei as lágrimas em minha bochecha e me forcei a lembrar o motivo de estar ali.

Nada vinha a mente, absolutamente nada, por mais que eu forçasse não conseguia lembrar, fui arracanda de meus pensamentos a força com uma corrente em meu pescoço fazendo meu corpo se arrastar até a uma outra presença que acaba de surgir. Gritei alto mas o som não tinha propagação pelo lugar, uma porta preta com rosas que sangravam se fechou em minha frente e o ar escapava de meus pulmões cada vez mais que essa corrente era puxada.

Mais um grito mudo saía do fundo de minha garganta ao sentir o que parecia ser uma lâmina atravessando meu ombro e ser pressionada ali.

_ Ora, ora, ora... Parece que finalmente a escolhida resolveu aparecer, aquela que fará Nêmesis tremer apenas ao ouvir seu nome. - Ela ri em um tom cínico enquanto um sorriso se mantinham em sua boca. - Patético, você é fraca demais para conseguir me controlar ou me fazer ceder, me de o controle do corpo de uma vez e morra garotinha infeliz!

Vi uma adaga de prata em sua mão e ela vinha em minha direção, era o meu fim, eu não sobreviveria aquilo e meu corpo não reage aos meus comandos...