A Escolhida Da Profecia

15 - Acordem

Nix

Meu corpo parecia uma bomba relógio prestes a explodir em milhões de pedaços, mas senti duas mãos em meus ombros fazendo com que eu me acalmasse. Olhei ao redor e não havia ninguém, aproveitei para olhar a paisagem e ver se encontrava alguém, a poucos metros de onde estou havia um lago cristalino, que dava conexão com a cachoeira que estava logo ali atrás.

Caminhei até o mesmo, a pessoa poderia ter entrado na água para se esconder. Assim que olhei vi Rebecca e Miguel no reflexo da água, ambos estavam com um sorriso gentil.

"Está tudo bem, eles são seus amigos e precisam de você." Ouvi o anjo em minha mente, me fazendo virar para o grupo que havia invadido minhas memórias mais cedo.

_ Mas o que aconteceu, eu só lembro de estar na floresta com o Connor, ai aquele demônio... E depois eu apaguei... - Me sentei sobre o gramado, tentando entender como sai de lá e agora estou aqui em um lugar que não tenho ideia de onde fica.

"Sua alma foi atordoada com uma 'magia'  muito forte, Miguel ficou encarregado de lhe salvar e eu assumi o corpo" Rebecca me contou sobre a luta e o que ocorreu até a parte do carro.

"Além deles estarem completamente chapados, seus corpos cheiravam a cadáver e terra, já estavam mortos a muito tempo, mas alguém estava manipulando seus corpos, como um pedido desesperado por ajuda, acabou que não pude me alimentar e quando deixei o veículo, o lobinho estava na minha frente, ele me deu uma carona para atendermos o pedido de ajuda, quando chegamos me deparei com seus amigos, os quatro haviam sido enterrados vivos, pareciam estar lá desde a época em que as almas foram colocadas em você a meses, por serem sobrenaturais conseguiram sobreviver, mas alguns estavam mais feridos que outros, após desenterrar seus corpos e quebrar o elo que os forçava a ficar apagados fui obrigada a deixar o controle do corpo, uma força fora do comum havia me obrigado a isso, por sorte Miguel havia conseguido te acordar e a partir desse ponto, acho que você sabe." Explicou da maneira mais breve o que conseguia, me deixando com mais preocupações.

"Olha Nix, você consegue saber quando estamos mentindo, então, acredite em mim quando digo que pode e deve confiar neles e agora é o momento que eles mais necessitam de sua ajuda." Miguel me alertou e realmente ele estava falando a verdade, pudia sentir.

Suspirei me levantando, senti o rombo em minha barriga me fazendo soltar um gemido de dor, como não me alimento e continuo utilizando meus poderes o buraco ainda não se fechou e voltei a sangrar, Rebecca comentou sobre o meu dom ser o mesmo que o dela, me recompus deixando um de meus olhos branco e o outro vermelho, assim consigo utilizar ambos os poderes de melhores formas.

Como anjos não precisam necessariamente de alimentos, me aproveitei disso para obter energia mais rapidamente e com o dom, fiz o sangramento parar novamente, deixando apenas o buraco ali. Analisei melhor o lugar, era calmo e tranquilo, as árvores estavam mais atrás deixando um enorme campo com um lago e a linda cachoeira, algumas flores podiam ser encontradas por ali. Era como se tudo fosse perfeito.

Olhei para meus amigos e com a ajuda de Connor os coloquei um do lado do outro, começando com a Mel, seu irmão, o ruivo e por último o de cabelos negros. Analisei melhor seus ferimentos, o gêmeo e o moreno estavam com machucados graves, fraturas expostas e muitos ossos quebrados.

Mel e o ruivo estavam em melhores condições, alguns arranhões e roxos espalhados pelo corpo. Parece que eles tiveram uma séria briga antes de serem enterrados vivos. Senti o cheiro de algumas frutas silvestres e sem pensar as trouxe em grande quantia para para perto, eram morangos e logo os comi, o sabor estava delicioso.

Comi até me sentir satisfeita e durante esse período reuni energia suficiente para curar as pessoas à minha frente. Porém estranhamente meu ferimento não queria se fechar, provavelmente por conta da maldita necessidade de sangue que a alma da Rebecca trazia.

Connor veio até onde eu estava me entregando seu braço, o olhei confusa e ele apontou para o rombo em minha barriga.

_ Por favor se alimente, não ironicamente consigo atravessar meu braço pelo seu corpo e isso está me incomodando. - Sorri de lado e concordei com a cabeça.

Bebi um pouco de seu sangue, sentindo o buraco em meu estômago se fechar gradualmente. Respirei fundo após o ferimento se fechar por completo e comecei a curar os dois mais fáceis, seus hematomas e arranhões desapareçam após alguns minutos seus corpos estavam completamente saudáveis, agora dependeria deles se recuperar do cansaço. Logo comecei com os outros dois, o que levou longas duas horas.

_ Obrigada por me salvar lá na casa da árvore... - A voz do albino soou em meus ouvidos e me virei para ele brevemente.

_ Fico feliz que esteja bem. - Nos olhamos por alguns segundos e ele desviou o olhar.

Após terminar, Mel havia se sentado, colocando a mão sobre a cabeça, demorou segundos até ela virar para mim e correr desesperada para me abraçar chorando. Senti meus olhos se encherem de lágrimas por algum motivo e a acompanhei na choradeira.

_ Me desculpa, eu queria ter te salvado antes. Estávamos os quatro e não fomos capazes de te proteger daqueles desgraçados! - Falou entre lágrimas se afastando um pouco me olhando nos olhos.

_ Eu não tenho memória do que aconteceu, de quem eu sou, do que eu sou... - Falei entre lágrimas, ouvindo os outros três se levantarem.

Todos correram para me abraçar, me senti amada, e aquecida com todo aquele carinho. Continuei a chorar e ao mesmo tempo sorria involuntariamente.

_ Não se preocupe, vamos lhe devolver toda a sua memória. A verdadeira. - O gêmeo comentou e todos se afastaram brevemente.

_ Obrigada. - Agradeci e pude perceber os quatro olhando para Connor, eles pareciam conformados com a presença dele ali.

_ O pai do Jackson, esqueci o nome do desgraçado agora, mas enfim, enquanto ele recolhia as almas, ele as enfeitiçou para que sua memória fosse deletada, assim seria mais fácil de te manipular. - Fiz uma expressão confusa enquanto o ruivo explicava.

_ Você já vai entender o que está acontecendo, não tem que se preocupar com nada. - Mel voltou a falar pegando na mão de seu irmão. - Andem, se afastem, vamos começar e não quero que ninguém atrapalhe.

Os dois ficaram a meu redor dando as mãos, me deixando em um círculo, recitaram antigas palavras em latim e uma latejante dor se instalou em minha mente, junto a ela flash's com memórias de toda a minha vida começou a vir à tona, tudo começava a finalmente fazer sentido...