A Escolhida Da Profecia

04 - Lembrança

Nix

Dou alguns passos para trás fechando meus olhos, a claridade que aquele circulo estranho emanava era avassaladora, me arrisco a dizer que qualquer humano ficaria cego, não demorou muito para que a luz fosse diminuindo e assim que feito senti uma enorme dor no estômago.

Assim que olhei para baixo, um tipo de feixe de luz que mais parecia uma faca extrema brilhante estava perfurando minha barriga, senti o sangue escorrendo tanto do corte quanto da minha boca, percebi que o garoto que fazia isso comigo estava com outra faca na mão e logo o objeto vinha na direção do meu rosto.

Por instinto coloquei a mão na frente e agora havia um furo na mesma, gritei alto e com muita dor, me afastei com um pulo para trás, as feridas começaram a se fechar de maneira lenta, o que me causou ainda mais preocupação, o menino se aproximou novamente com aquelas coisas de luz manchadas com o meu sangue.

Tentava desviar de seus ataques mas não estava dando certo, não pegavam em cheio mas ainda machucavam e muito, tentei me acalmar e procurei por Path como fiz antes, agora conseguia vê-lo em minha mente, estava amarrado com Jackson, Lilith e Connor ao seu lado do mesmo modo.

Acabei me distraindo demais, escorreguei no gramado caindo com tudo no chão, senti novamente aquela maldita lâmina atravessar minha coxa a prendendo no chão, o garoto se sentou em cima da minha primeira ferida que ainda estava aberta e tentou acertar meu rosto com a outra lâmina em sua mão, desviava com dificuldades, quase perdi a orelha e junto a ela minha audição.

Percebo que o mesmo se irritou, enfiou a faca em meu ombro direito e em seguida mais duas em meu braço direito o prendendo no chão assim como a perna, gritei mais uma vez de dor e logo recebi um soco no rosto, cuspi o sangue que se aglomerou em minha boca no garoto, que foi para trás um pouco para limpar o rosto, não pensei, apenas puxei o objeto que prendia meu ombro e com os restos de minha força o enfiei na onde deveria ser o coração daquela coisa.

Ele caiu para o lado e logo desapareceu sem deixar rastros, com as lâminas em meu corpo aconteceu o mesmo, suspirei aliviada por meros segundos até que senti uma mão apertando meu coração, senti minha vida acabar naquele momento.

_ Se isso fosse uma luta de verdade estaria morta. - Encarei a silhueta escura, reconhecendo a voz de Path, o ar voltou aos meus pulmões e meu coração foi solto.

_ O que foi isso?! - Falei irritada porém baixo, meu corpo estava totalmente dolorido.

_ Treinamento, não pode baixar sua guarda em momento nenhum, caso aconteça, está morta. - Em um certo ponto ele tem razão, por pouco não morri mas isso é um exagero para o primeiro dia.

Fiquei no mais puro silêncio, não tinha o que se falar no meu estado e estava exausta, imagino que isso é o pequeno efeito colateral por não ter comido, fechei meus olhos cansada, ouvia Path falar mas não entendia as palavras que saiam de sua boca, sem que eu percebesse tudo ficou pesado...

Encarei as duas crianças que corriam animadas pelo pequeno jardim da casa, um casal jovem observava os pequenos com certo receio e preocupação mas ao mesmo tempo estavam felizes, sentia isso.

Após um tempo, a mais jovem das crianças se machucou, tropeçou nas raízes de uma árvore de cerejeira, a mesma chorava alto com o joelho e o rosto ralado, os pais foram logo até a mesma, riram da situação por breves momentos, o mais velho olhou para a irmã com os olhinhos cheios de lágrimas e preocupação, parecia se importar muito com ela.

Depois que acalmaram a criança chorona com palavras doces que eu não conseguia ouvir, lavaram seu rosto, limparam seus machucados e por fim fizeram um curativo para que assim nenhum dos dois se preocupasse muito com aquilo.

Senti uma pequena dor no peito ao visualizar essa cena, parecia tão familiar e ao mesmo tempo parecia apenas uma família normal a qual não sou envolvida de forma alguma, coloquei a mãos sob os seios apertando o tecido da blusa em meu corpo, é horrível não me lembrar de nada.

Sou retirada de meus pensamentos, ouvindo apenas o vidro se estraçalhado no chão, virei bruscamente para trás, o cenário florido em uma tarde quente de primavera desapareceu, deixando lugar para um quarto escuro e sombrio, pareciam as mesmas crianças de alguns segundos atrás, pareciam apenas ter crescido.

Ambos pareciam discutir sobre algo, não sabia exatamente o que, pois não os ouvia, então o garoto ergueu sua mão como se estivesse pronto para bater na garota, aquela mão parou centímetros longe de seu rosto, lágrimas escorriam de ambos os olhos, em uma mistura intensa de raiva, magoa e tristeza.

O barulho de chuva ecoava em meus ouvidos, olhei pela janela do quarto vendo a tempestade que a tempos estava lá fora, caindo impiedosamente como um sinal de mau presságio, voltei meu olhar para os jovens, o mais velho saio estressado, pisando forte como se quisesse destruir o chão com apenas um passo.

A garota correu atrás do irmão com pressa, os segui, a preocupação estava correndo a solta em minhas veias mas eu não posso fazer nada, sou apenas um fantasma em um universo ilusório, chegamos a garagem rapidamente, o portão já estava aberto e o garoto em cima de uma moto saindo do terreno.

Vi os cabelos ruivos passando por mim como um raio, ela subiu em uma moto e seguiu o irmão como se sua vida dependesse disso, a pista estava escorregadia e havia uma enorme movimentação de carros, sentia que absolutamente tudo estava dando errado e em proporções catastróficas, algo irreparável estava para acontecer.

Acelerando ainda mais alcançou o irmão, mas ela não foi a única e infelizmente não se safou também, um caminhão que acaba de perder o controle na curva estreita, sai de sua pista indo a um encontro desagradável com eles.

Me senti sem chão, com medo, a tristeza tomava conta do meu corpo, lágrimas escorriam em minhas bochechas se misturando com a chuva caindo agora de maneira mais calma, mas aquilo não aliviava aquela enorme dor, apenas a aumentava.