Depois do almoço, Camden sumiu novamente, isso sempre me deixava apreensiva. Eu tinha medo de que, por qualquer motivo, ele não retornasse. Era estranho, mas eu já me sentia muito dependente dele, e quando ele saia sem dizer nada, eu não conseguia ficar parada.Tentei ocupar minha mente, haviam livros organizados em ordem alfabética numa estante. Eram todos bastante antigos e nenhum deles prendeu minha atenção por mais do que uma página. Depois, fui para a pequena despensa na cozinha e organizei seu conteúdo, mas o serviço pareceu acabar rápido e logo eu não tinha mais nada para fazer. Apesar de morar aparentemente sozinho, numa casa relativamente grande, Camden era um homem muito organizado, seus móveis não tinham sequer poeira.
Talvez ele fosse como eu no fundo, e quase não conseguia parar quieto quando sozinho.
Escureceu rapidamente e ouvi um tropel de cavalo, olhei pela janela da cozinha, mas não vi nada. Fui para a sala e tentei abrir a porta da frente, mas estava trancada e isso, pela primeira vez, não me causou uma boa impressão de Cam. Eu não gostava de ficar presa, principalmente num lugar que não conhecia bem. Ele disse que a campina onde me encontrou ficava a mais ou menos cinco quilômetros da sua casa, mas não me indicou em qual direção. Talvez fosse paranoia minha, mas as poucas informações que ele dava estavam começando a se tornar insuficientes para mim.
Demorou um pouco mais até que ouvi a porta ser destrancada por fora. Quando Camden entrou, estava carregando minha mochila num dos ombros. Eu fiquei tão surpresa e contente que esqueci os pensamentos que me afligiam.
– Ainda estava no mesmo lugar – disse, trancando a porta por dentro. – A chuva molhou um pouco. Você pode pendurar suas roupas em algum lugar aqui dentro, acho que amanhã choverá mais.
Peguei a mochila que ele estendia em minha direção e me sentei no sofá para avaliar seu conteúdo. Parecia fazer um ano que eu não a via, embora não passasse de dois dias.
– Obrigada, Cam.
Minha sina ia ser agradecer eternamente à ele, aparentemente.
Não havia nenhum tipo de alimento que eu pudesse oferecer à ele como forma de agradecimento. Tudo o que eu tinha era uma garrafa com água pela metade, duas mudas de roupas, peças íntimas, fotos e algumas cartuchos vazios da minha pistola, além de uma faca pequena e quase sem fio, uma lanterna sem pilhas, seis palitos de fósforos e um pedaço de corda.
As fotografias da minha família estavam ensopadas e muitas haviam estragado, isso fez meus olhos ficarem turvos de lágrimas.
Camden sumiu cozinha adentro e me deixou sozinha. Naquele momento não reclamei, eu me sentia sensível demais para estar na presença de qualquer outro ser humano sem querer me jogar em seus braços e chorar como uma criança.
Subi para o meu quarto improvisado e estendi minhas roupas na cadeira, esperando que pela manhã elas já estivessem secas. Deixei o resto dos meus pertences espalhados pelo quarto, inclusive as fotografias, embora eu soubesse muito bem que para elas não havia qualquer conserto.
Eu continuei no quarto, mesmo durante o jantar. Ouvi quando Cam subiu as escadas, acho que ele ia me chamar para comer, mas acabou desistindo. Em algum momento adormeci e tive pesadelos com minha família, eles estavam desfigurados e não me reconheciam, assim como nas fotografias danificadas pela chuva. Acordei com vontade de chorar, mas segurei as lágrimas tão fortemente que senti uma coisa doloroso no peito.
Na manhã seguinte eu me sentia melhor. Eu até preparei novamente o café, mas não esperei por Camden, eu estava com muita fome para isso.
Quando terminei de beber minha xícara de café, Camden entrou em casa. Ele parecia um pouco nervoso e correu para onde eu estava.
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Em Algum Lugar Lá Fora
General FictionUma praga assolou o mundo civilizado como o conhecemos e mesmo cinco anos depois, a jovem Kave de apenas 17 anos ainda têm de aprender a sobreviver num mundo novo, porém tão cruel quanto o antigo. Num fatídico dia, sua vida infeliz é salva por Camde...