Capítulo DEZESSETE - Ossos

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Enquanto Camden permanecia no chão, eu só conseguia pensar em uma coisa – infectado; e eu sabia que Kohl Vincent pensava a mesma coisa, pois sua arma estava apontada para a cabeça de Camden e ele tinha um olhar mortal de quem não se arrependeria se tivesse que puxar o gatilho.

Seja como ou o quê fosse, eu não poderia permitir que Camden morresse daquele jeito. Talvez ele estivesse apenas doente, isso não significava que ele tinha sido mordido e também não significava que Kohl Vincent tinha o direito de matá-lo.

– Abaixe sua arma – falei calmamente mesmo com meu coração disparando de forma desconfortável dentro do peito.

Kohl Vincent permaneceu na mesma posição até o momento em que sentiu o cano frio da minha pistola na sua nuca. Se ele pensava que matar Camden não o traria arrependimentos, eu tinha a mesma certeza quanto a matar ele.

– É bom você ter uma boa razão para fazer isso ou eu não terei piedade.

– Eu é que não terei piedade, Kohl Vincent, se por uma atitude precipitada você matar meu amigo. Camden está com hipotermia, ele não foi mordido. Isso eu posso garantir.

Ele virou em minha direção, ficando com minha arma apontada para seu rosto, tão próxima que ele provavelmente sentia o cheiro da pólvora que eu não hesitaria em usar contra ele.

– Se em dois dias ele não melhorar, eu atiro nele e depois em você.

Kohl Vincent se afastou e sumiu numa direção qualquer. Suas palavras ecoavam em minha mente como uma sinfonia macabra, aliás, tudo nele soava macabro o que me fez ficar ainda mais tensa. Eu não confiava e tinha plena consciência de que nunca confiaria nele, e agora haviam bons motivos para isso ao ver que ele nem mesmo hesitou ao apontar a arma para um Camden inconsciente e incapaz de se defender, e que além de tudo o havia ajudado.

Com muito esforço levei Cam para um dos quartos da casa, eu cuidei dele do melhor jeito que pude até ele ficar consciente de novo umas duas ou três horas depois do ocorrido. Kohl Vincent não se preocupou em vê-lo e eu tinha a impressão de que ele já estava abrindo uma cova para Camden em algum lugar lá fora.

Quando acordou, Camden estava confuso e sentia muito frio. Isso me lembrou algumas pessoas que conheci e que viraram mortos-vivos e me embrulhou o estômago pensar que isso poderia acontecer com ele também. Muitas coisas haviam acontecido ultimamente e eu não me julgava preparada para qualquer outra tragédia que poderia estar por vir.

– O que aconteceu? – perguntou olhando ao redor, tentando reconhecer o lugar. – Como eu vim parar aqui?

Fui direto ao ponto, a ansiedade me consumia por dentro e eu me indagava se precisaria me preparar para novamente sofrer a dor do luto.

– Você foi mordido?

– O quê? Não! É claro que não!

Ele parecia muito certo de suas palavras e talvez ofendido por eu ter perguntado.

– Você desmaiou antes de entrar na casa e está com febre. E você com certeza sabe os sintomas da infecção. Kohl Vincent estava pronto para atirar na sua cabeça e só não fez isso porque tive que ameaçá-lo.

– Estou te dizendo, Kave: Eu não estou infectado e definitivamente não vou morrer. Você acha que eu não saberia disso? Posso estar doente por qualquer motivo, menos por uma mordida.

– Então prove.

As palavras de Camden – por mais sinceras e diretas que fossem – não serviriam para me tranquilizar. Eu já havia visto pessoas demais morrendo sem nem ao menos saber do quê, eu previsava de uma prova real, concreta, para me manter firme, senão como poderíamos impedir o que Kohl Vincent com certeza já planejava fazer?

Em Algum Lugar Lá ForaOnde histórias criam vida. Descubra agora