Capítulo DEZESSEIS - Gelo

31 7 41
                                    


A primeira tempestade de neve chegou em novembro, era relativamente cedo e ainda não tínhamos chegado ao lugar que Camden havia se estabelecido. Mas ele não estava muito preocupado, enquanto viajávamos, ele me contou sobre o rapaz que resolveu dar abrigo por um tempo e que era ele quem estava cuidando dos seus animais e da casa. Ele se chamava Kohl Vincent e tinha dezesseis anos.

Eu não gostava da ideia de viver num lugar com um completo desconhecido, pelo o que percebi, nem Camden o conhecia direito, mas ele o encontrou numa situação difícil e decidiu ajudá-lo, agora Kohl retribuía cuidando das coisas enquanto Cam estava fora.

O que me preocupava era Kohl estar morto quando chegássemos ou ter ido embora com as coisas de Camden. Exatamente a preocupação que tive com Reid e Pauline no começo, quando eu não confiava neles de forma alguma. Mas Camden se mantinha calmo sobre isso e outras coisas, ele tinha um carro de modo que nossa viagem não seria tão demorada.

Mas a neve estragou nossos planos.

O carro de Camden estava completamente cheio. Pegamos tudo de comestível da fazenda e carregamos, minha despensa já não estava tão cheia e terminou de ficar vazia. Não foi tão difícil sair de lá, eu ainda não havia me apegado o suficiente aquele lugar, talvez porque eu sabia o quão temporário era minha estadia. E realmente, cinco meses não era grande coisa.

Camden era tão cuidadoso quanto eu me lembrava, mas isso não impediu que cruzássemos com o perigo algumas vezes durante nossa viagem.

Na primeira noite na estrada vários mortos cruzaram conosco e ficamos escondidos no banco de trás do carro em meio às nossas bagagens de mantimentos. Eles nos rondaram por mais de quatro horas e nesse tempo todo não pudemos nos comunicar, mal nos movíamos tamanho era o nosso medo, eram mais de quinze e não éramos tolos de acreditar que daríamos conta daquele número sozinhos e mesmo tentar seria desperdiçar nossos raros recursos.

Quando partiram seguimos viagem rapidamente, esquecemos nosso cansaço e a vontade de dormir. Mais acordados do que nunca, seguimos por mais duzentos quilômetros ao norte e me perguntei qual seria toda a distância que Camden percorreu para me encontrar. A solidão dele devia se parecer com a minha para que ele andasse tanto atrás de alguém que mal conhecia.

Então, faltando pouco mais de seiscentos quilômetros até seu esconderijo, passamos dois dias numa pousada perto da fronteira com o Canadá, estava aos pedaços e isso faria com que ninguém pensasse em vasculhar o lugar. Nós verificamos cada canto e todos os cadáveres que encontramos já estavam curiosamente mortos. Não era um bom sinal, mas não poderíamos prosseguir, segundo ele.

– Escondi uma van aqui por perto – Camden disse, explicando-me o porquê de não podermos sair da pousada, apesar de claramente ter havido humanos por ali antes de nós. – Tenho que terminar de consertá-la.

– Por quê? – questionei, preocupada. – Já temos o carro.

– Ela é maior, poderemos conseguir mais suprimentos pelo caminho.

Não protestei, mas talvez devesse, já tínhamos bastante comida e água também não era um problema, eu estava com medo que a ambição de Camden nos colocasse em perigo, apesar de todo o seu cuidado, não poderíamos prever todas as situações que enfrentaríamos naqueles últimos seiscentos quilômetros, principalmente porque Cam apenas se estabeleceu por ali, mas não teve tempo de olhar o lugar e seus arredores já que seguiu atrás de mim quase que imediatamente.

Os dois dias se tornaram quatro e apenas na última noite algo interrompeu nossa frágil paz.

– Por que você não quer falar sobre isso? – Camden perguntou suavemente, enquanto arrumávamos um lugar para dormir na pousada abandonada perto de um rio imenso e congelante. Há algum tempo ele vinha insistindo para que eu falasse sobre Reid, e sua curiosidade só crescia a cada negativa minha.

Em Algum Lugar Lá ForaOnde histórias criam vida. Descubra agora