No dia seguinte, Alice acordou cedo. Lembrar de onde iria, e porquê iria, lhe enchia de vontade de voltar a dormir, fingir que foi um pesadelo, mas ela precisava encarar a situação, precisava encarar a realidade.
Kovu estava deitado ao lado de sua cama e percebeu a movimentação, a jovem sorriu para o cão.
— Acho que vou te levar comigo, o Dan também vai precisar de um abraço.
O latido do cão foi firme o bastante para convencê-la de que estava certa.
Convenceu os pais e eles foram de carro para o cemitério. O boder collie passou a viagem inteira com a cabeça no colo da dona, enquanto ela tentava não chorar antes da hora.
Quando chegaram ao local, Alice viu que Daniel já estava lá com a família dele, todos estavam consolando a família de André. O amigo viu ela chegar com os pais e correu até ela.
Por um momento Alice pensou em fazê-lo parar, imaginou que Kovu poderia estranhar aquele avanço inesperado. No entanto, o jovem pulou nos braços dela aos prantos, e tudo o que o cachorro fez foi se sentar e olhar.
Daniel viu o cachorro e conseguiu dar um ligeiro sorriso.
— Ei, menino, como você está? Sentindo falta do Dan também?
Ele se abaixou e Kovu se aconchegou nele enquanto era acariciado.
Alice olhou para os pais e viu que os dois já estavam em meio as duas famílias. Depois de tantos anos de convivência da garota com o casal, as três famílias haviam se tornado amigas próximas.
Agora estavam desfalcadas.
A jovem também foi até os pais de André e chorou com eles. Logo depois a cerimônia começou e o caixão foi enterrado em meio a orações e choros.
Alice observou tudo abraçada ao amigo, até que um puxão a assustou, quase derrubando-a.
Olhou para trás e viu que Kovu corria em disparada até uma árvore mais distante. Pôde ver uma figura saindo de trás do tronco e se agachando para acariciar o cachorro, enquanto outra parecia emburrada, de braços cruzados e cachimbo na boca.
Ela segurou o riso, reconhecendo os dois com facilidade.
Isso chamou a atenção de Daniel, que olhou para ela e depois para onde o cão estava.
— Quem são eles? — perguntou baixinho, sem querer atrapalhar a cerimônia.
— Aquele cara que foi comigo na sua casa e um amigo dele.
— Uau, quer dizer que já está sério?
Alice demorou um tempo para entender a insinuação. Abriu a boca sem saber o que dizer, então apenas deu um tapa no braço do amigo.
— Não é nada disso, idiota!
— Ai, desculpa, amiga!
Os dois foram atrás do cão e Rupi se levantou para cumprimentá-los.
— Desculpa, Alice, sei que é um momento bem íntimo, mas tivemos que vir.
— Aconteceu algo? — A garota olhou preocupada para os dois, depois para seu amigo do lado, perdido com a situação.
— Segundo nosso detetive aqui — O professor apontou para o colega que já fumava o cachimbo de cara feia. — Temos que ficar de olho em você pois não dá para saber quando vão fazer algo de novo. E, apesar de eu não ser inteligente como ele, sinto que o nome disso é preocupação.
Sá deu uma baforada.
— Está distorcendo minhas palavras. A propósito — encarou Daniel —, meus pêsames, eu sinto muito mesmo pelo que aconteceu. Não tive oportunidade de dizer isso antes.
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SAN - Detetive Folclórico (Degustação)
FantasyAlice é uma jovem estudante de jornalismo da PUC Minas Gerais. Um dia, indo a uma boate com um casal amigo, acaba se envolvendo em uma investigação de um jovem misterioso, com uma touca vermelha e sempre de cachimbo na mão. Ele diz se chamar Sandro...