Três dias depois havia carros na minha rua. Os vizinhos, como sempre, não sabem cuidar de suas vidas. Deram falta da minha querida tia, e sentiram um odor forte vindo de algum lugar dali. Mas se bem que, se eles não ligassem, eu mesmo ligaria. Alguém tinha que vir buscá-la. Também sentia fome, e não havia ninguém para cozinhar pra mim.
Nos dois primeiros dias foi tudo ótimo. Fui até a gaveta do seu quarto e peguei sua bolsinha que guardava seus trocados. Comprei tudo que eu queria na padaria e passei o dia comendo besteiras; biscoitos, refrigerante, salgadinhos.... Mas há um momento em que você se cansa disso; por incrível que pareça. Senti falta de algo forte. Uma boa comida de panela. Daquelas que só a minha tia sabia fazer.
Ouço batidas na porta. Abro e me deparo com dois policias olhando para mim, um deles põe a mão no nariz de forma discreta. Eles perguntam se estou sozinho. Digo que não, minha tia também está aqui. Eles pedem que eu a chame, mas digo que ela não pode atender agora. Eles perguntam se podem entrar e digo para ficarem à vontade. Sempre disseram que eu era um garoto bem-educado.
Poucos instantes depois, o apartamento ganha mais visitas. Homens com luvas, mais policiais e uma moça com uma prancheta na mão, e de um traseiro enorme, fazendo parecer minha professora do jardim de infância... a lembrança me faz ficar estranhamente excitado.
De alguma forma, as respostas que dei a polícia pareceu não agradá-los. Minha primeira versão foi dizer que pensei que minha tia estava dormindo. Mas depois de insistentemente continuaram com as perguntas, decerto não convencidos, disse que estava desesperado e não sabia o que fazer.
Então a moça lá identificou-se como Marta. Disse que era minha amiga e eu podia contar com ela. Primeira vez que alguém me disse isso em toda a minha vida. Depois da minha tia.
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Antimoral
HorrorVocê acha que as pessoas podem nascer boas ou más? Ou simplesmente vão se transformando durante o tempo?