6 - Passado

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Dizem que você tem que recuar um passo para avançar dois. Por isso para que eu continue falando sobre o que me aconteceu, voltarei um pouco antes. Acho que a morte do Yan me fez relembrar coisas antigas...

Abril de 2003. Era noite. Eu tinha 9 anos. Minha mãe mandou que eu fosse dormir. Protestei, dizendo que estava cedo demais, mas ela disse para eu não reclamar e subir para o meu quarto. Eu a odiei naquele momento. Pensamentos ruins passaram em minha cabeça, mas obedeci e deitei, por mais que o sono não viesse. Logo em seguida ouvi vozes, algumas risadas. Achei estranho, pois o meu pai estava no trabalho, e não costumava chegar naquele horário. Às vezes só aparecia em casa de madrugada, quando eu já estava dormindo de verdade. Ele trabalhava como vigilante.

Mas naquela noite, depois de algum tempo, ouvi também sua voz. Ele falava alto. Ouvi minha mãe chorar e decidi sair da cama e espiar o que estava acontecendo. Minhas mãos nas paredes em apoio, eu olhava lá de cima. Meu pai tinha o seu revólver em mãos, sacudindo freneticamente.

– Quem era aquele cara, Susana? – ele perguntava.

Minha mãe apenas chorava e pedia calma, dizendo que não era nada daquilo que ele pensava. Ele estava a menos de um metro da minha mãe quando atirou a primeira vez. Eu a vi colocar as mãos à frente, estupidamente, como se aquilo fosse impedir a bala. Depois que o seu corpo caiu no chão num baque surdo, houveram mais disparos. O corpo se moveu em cada um deles. Por último, vi meu pai posicionar o revólver abaixo de seu queixo e também puxar o gatilho. Coisas saíram de seu crânio. A sala era um espetáculo vermelho.

A polícia chegou lá magicamente. Depois dali fui morar com a irmã da minha mãe em seu apartamento. Minha querida tia Helga. Naquela noite, foi a primeira vez que vi a morte de perto. Mas como você deve saber, não a última.

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