Nessa vida, você precisa de organização para chegar em algum lugar. Precisa ser meticuloso, pensar sempre no próximo passo. Já cometi erros que não estou disposto a repeti-los. Prometi a mim mesmo que não voltaria àquele reformatório, se bem que é uma promessa bem fácil de ser cumprida, pois ele destina-se a apenas menores infratores. Caso eu fizesse alguma merda agora, eu iria para um lugar muito pior.
Logo no meu primeiro dia liberto, voltei para o apartamento da minha falecida tia Helga. Uma amiga dela, a Fátima, que já era velha, estava mais velha ainda. Ela não me reconheceu quando cheguei lá. Mas assim que forcei a porta do apartamento, na tentativa de entrar, ela olhou para mim incrédula e deixou escapar um "Não pode ser". Depois que me identifiquei e ela teve certeza, quase caiu para trás. "Todos aqui falavam coisas de você, Samuel – sim, eu me chamava Samuel –, mas eu sempre o defendi. Sei que era um bom garoto. Um jovem muito educado. O que aconteceu com você foi a maior injustiça de todas! Oh, pobre Samuel..." ela também disse que guardava uma cópia da chave, sabendo que um dia eu voltaria. E que mensalmente fazia uma faxina no apartamento, para que não acumulasse tanta poeira.
Tá vendo? Isso se chama organização, planejamento.
Como um rapaz bom educado, agradeci e peguei a chave. O apartamento não havia mudado em nada, mas de certa forma, parecia ser de outra realidade. Como se eu tivesse vivido nele há séculos. Nostalgia.
E ainda sobre planejamento, eu tinha que pensar como eu iria executar o meu plano. O plano de amenizar os pensamentos que me atormentavam todas as noites quando ia dormir. Pensamentos de coisas que aconteceram enquanto eu estava recluso. E a origem desses pensamentos tinham um nome, um rosto, um endereço...
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Antimoral
HorrorVocê acha que as pessoas podem nascer boas ou más? Ou simplesmente vão se transformando durante o tempo?