22 - Sistema

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Os gritos dela ainda ressoavam em minha cabeça. "Oh, o que está fazendo, Samuel? Por favor, pare!" E eu lembro que eu batia enquanto dizia para ela: Eu aceito ser chamado de qualquer coisa, menos daquilo!". E ela olhava para mim, sem saber do que se tratava. Apenas recebia os meus golpes.

Depois que já se encontrava desfalecida, eu carreguei seu pesado corpo para o seu apartamento. Não imagino uma boa explicação, caso encontrassem uma velha espancada no chão da minha sala.

Mesmo assim, eu sabia que já era hora de mudar de ares. Há tempos eu devia ter feito isso. Aquele lugar parecia me trazer má sorte. Peguei tudo de necessário ali no apartamento. Limpei o máximo possível do sangue de Fátima no chão e saí, batendo aquela porta, na esperança de nunca mais voltar para aquela maldita cidade.

A polícia queria achar um criminoso que não existia. Se pelo menos Kyara pudesse falar... Mas esse nosso sistema é uma verdadeira merda. Se ele decidir que você é o culpado, você terá que pagar pelos seus "supostos crimes". Infelizmente, é uma causa perdida. E não havia nada que eu pudesse fazer, a não ser aceitar aquilo e fugir, para enfim recomeçar novamente.

Eu cheguei numa nova cidade. Mudei de identidade. Meu dinheiro já havia praticamente acabado. Passei a morar num abrigo para sem tetos no começo, mas não me contentei com aquilo. Me inscrevi em todos concursos possíveis da cidade e comecei a estudar para eles. Quem diria que eu ia virar um concurseiro? Passei a mentir para mim mesmo. Passei a tentar agradar as pessoas à minha volta. Que merda de vida era aquela? Eu pensava. Para onde eu estava indo?

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