19 - After

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Transamos a noite toda em seu apartamento. A cama rangia enquanto ela pulava violentamente em cima de mim. Ela gritava sem nem um pudor. Era como se não fizesse questão que os seus vizinhos escutassem. Eu gostava daquilo.

Ela ainda conseguia ser mais bela sem roupa. Seu corpo era todo marcado por tatuagens. Algumas indecifráveis. Outras eram caveiras, espirais, chifres, armas e mais caveiras.

Pude perceber que não era apenas desenhos que marcavam o seu corpo. Haviam cortes. Principalmente em seus pulsos. Marcas de como se uma lâmina tivesse passeado por ali. Beijei cada uma dessas cicatrizes.

Assim que atingi o meu ápice, ela também pareceu chegar no dela, conseguindo gritar mais ainda, antes de sair de cima de mim, tatear o criado mudo ao lado da cama e acender um cigarro. Ela tragou e me passou também. A fumaça invadiu minha garganta e eu tossi. Ela roncou numa risada.

Ambos encarávamos o teto. Eu queria ficar para sempre ali.

Instantes depois ela se levantou e disse:

"Vamos fazer uma brincadeira" e abriu a gaveta puxando um revólver.

"Opa, calma aí" eu falei. "Onde conseguiu isso?"

"Era do meu avô" respondeu.

Ela parecia saber usar a coisa. Abriu o tambor, olhou dentro, girou e voltou a fechá-lo. Ela encostou o cano na têmpora e pressionou o gatilho. "Clic". Nada aconteceu. "Sua vez", ela disse. Há como você se apaixonar cada vez mais por uma pessoa? Acho que era isso que estava acontecendo.

Era fascinante a sensação de brincar com aquele poder. Eu pus perto da minha cabeça e puxei o gatilho, sem hesitar. Outro "clic". Ela aplaudiu, excitada. Tirou a arma das minhas mãos e apontou novamente para si, mas eu mandei ela parar. Eu estava tendo uma ideia melhor.

Na noite do dia seguinte, eu a esperava novamente na saída do bar. Agora mais afastado, fora da visão de qualquer pessoa dali. Depois de algum momento, eu coloquei um capuz sobre a cabeça, puxei o revólver detrás da cintura e invadi aquela espelunca, onde só estava Kyara e o seu chefe.

Ela se fingiu surpresa. Já o seu chefe, não precisou de fingimento nenhum. O covarde se borrou todo. Pediu por favor. Disse que eu podia levar tudo. "Odeio quando me julgam. Quem disse que eu estava lá para assaltar?". Tratei de deixar isso bem claro para ele, que eu não queria porra nenhuma dali. Arrastei uma prateleira de bebidas que foram de uma em uma espatifando-se no chão. E cada garrafa que caía, o homem soltava um gemido diferente enquanto implorava que eu parasse.

Houve um momento em que eu ouvi o "roinc" de Kyara. Ela não conseguia mais se conter. Estava gargalhando ao ver a reação do chefe e ele perguntou sobre o que aquilo se tratava.

E eu mostrei. Botei meu pau para fora e mijei no chão. Kyara removeu meu capuz com a mão e me beijou, sem tirar os olhos do seu chefe. "Seus marginais" ele urrou. "Agora eu sei quem você é! Não devia ter me mostrado o rosto rapaz". E eu respondi: "Tem razão. Eu não devia". Cheguei perto com o cano da arma em sua cabeça e atirei. Dessa vez não ouve "clic". Mas sim um barulho ensurdecedor. O buraco que entrou na testa dele mostrou-se até comedido, mas atrás de sua cabeça, o rombo que fez era algo admirável.

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