[05] gegenschein

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Há duas coisas estranhas a respeito da vida na Terra.

A primeira delas é que os seres humanos são capazes de sentir.

Existe uma diferença absurda entre o sentir de um ser mortal e o sentir de um ser celestial, isso porque os seres mortais possuem portas de entrada para determinadas sensações — pele, nariz, língua — e coisas como "os cinco sentidos" são totalmente insignificantes para energias grandiosas como anjos e demônios, porque por não terem corpos, não há diferenciação entre as sensações.

As energias possuem tremores.

Existe uma infinidade de tremores que possibilita as energias celestiais de identificarem sensações humanas, e esses tremores funcionam de maneiras diferentes para cada criatura espiritual, dependendo de qual é a especificidade de seu poder. Por exemplo, no caso de Asmodeus, o demônio da luxúria e da sexualidade, há tremores específicos que sente ao se aproximar de amantes recentes — um tremor similar ao ronronar de um gato, confortável, contínuo, caloroso. Um tremor de quem está sendo alimentado pela paixão eufórica de um casal recém-formado. Entretanto, quando se aproxima de pessoas afundadas na tristeza, apatia ou com falta de libido, os tremores são mais apressados e incômodos por se tratarem de energias antagônicas à de Asmodeus.

Há milhares de variedades de tremores, alguns tão comuns que todos os demônios já foram capazes de sentir e outros tão raros que muitos não saberiam identificar o significado. Tremores capazes de fazer um demônio fugir para o círculo mais profundo do Inferno e escolher viver trancafiado em Criptas de tortura — alguns acreditam que esse é o motivo de nunca se falar a respeito de tais tremores, porque é uma afronta aos demônios afirmar a existência de algo capaz de fazê-los escolher se esconder pela eternidade.

Mas eles estão aí, em algum lugar quase nunca frequentado pelos seres infernais.

Tremores que consomem e machucam e destroem.

Para Belial, todavia, a maior tortura que poderia enfrentar nesse momento estava bem diante de seus olhos, explodida em várias criaturinhas nojentas.

— Ah, como eu amo crianças! — Taehyung gritou, correndo atrás de um garotinho escandaloso. — Olha só, mestre, fica olhando! Fica olhando!

Jungkook, fumando um cigarro na sombra de uma árvore, olhou com tédio para seu demônio de estimação preferido. Colocou o cigarro entre os lábios e observou Taehyung ultrapassar o menino; assoprou a fumaça no momento exato em que o demônio parou de correr e colocou o pé na frente do moleque, que tropeçou e rolou pela grama. Taehyung começou a gargalhar. Jungkook sorriu com o canto da boca.

— Adorável — aprovou ele.

Taehyung sorriu em sua direção e acenou.

— Vem brincar com a gente! Mestre, essas crianças são incríveis! — o demônio riu novamente, enquanto segurava o garoto pela cabeça com uma mão, evitando ser atingido por vários soquinhos desajeitados. — Seguinte, moleque, eu vou te ensinar um golpe bem legal e depois quero ver se você conseguiu aprender direitinho, ok? Se você fizer aquele outro garoto ali chorar, eu te dou uma bala.

— Não podemos bater em ninguém — disse o garoto, ainda fazendo os pequenos punhos voarem pelo ar. — O professor Jimin disse que é feio bater.

— Se você não bater nele, eu falo para o professor Jimin que você estava tentando me bater agora mesmo. Você quer ficar sem comer por dois dias inteiros por tentar bater no professor mais bonito desse lugar?

Eu não estou fazendo nada!

Todo mundo está vendo isso aqui. Ninguém vai ficar do lado de um mentiroso igual a você. — O garoto parou de tentar avançar em Taehyung e fez um bico. — Ei, não chora! Vem aqui, eu vou te ensinar o golpe legal, lembra? Agora para de chorar. Mestre, vem com a gente! Vai ser legal!

PROTECTED • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora