[08] novaya zemlya

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⩝⩝

Há duas coisas estranhas a respeito da vida na Terra.

A primeira delas é que os seres humanos são capazes de sentir.

A segunda é que eles também são capazes de sonhar.


Quando Jungkook abre os olhos, a primeira coisa que vê não é a parte inferior de uma segunda cama flutuando sobre a sua, da mesma forma que acontece nos amanheceres rotineiros no orfanato em que agora vive, com um Taehyung agarrado em seu corpo por se recusar diariamente a dormir na parte de cima do beliche. O primeiro detalhe captado é a escuridão atípica do ambiente, sempre um pouco iluminado por conta da falta de cortinas grossas nas janelas, e, em seguida, o corpo livre de abraços.

As sinapses do cérebro parecem levar mais tempo do que é considerado normal para deixarem o pseudo-humano ciente de onde está e, com espanto visível ao tremular o corpo involuntariamente, perceber que não é nenhum local onde já esteve anteriormente. Sequer estava deitado, apesar de isso ser indiscutivelmente impossível diante das últimas circunstâncias recordadas com clareza: despediu-se de Jimin em frente aos quartos dispostos lado a lado e, por fim, foi de encontro aos braços de Taehyung sobre sua cama estreita demais para dois homens adultos se deitarem confortavelmente.

Não era uma alternativa racional esta situação em que agora, por algum motivo, se reconhecia; de pé em meio a um quarto com móveis de madeira avermelhada, usando roupas que antes não vestia, com uma escuridão inabitual caminhando simultaneamente a um silêncio infundado, Jungkook sentiu-se enlouquecer.

E como se o delírio não fosse suficiente para lhe causar a maior das estranhezas, suas palavras saíram com fragilidade, arranhando dolorosamente a garganta e alcançando os ouvidos de forma a mostrar que as coisas estavam, de fato, fora dos eixos naturais, quando demonstrou ter em primeiro lugar nos pensamentos o nome que deveria lhe causar apenas incômodo.

— Park Jimin?

Nada.

O silêncio insistente reverberou a própria voz que deveria, para todos os efeitos, ser demoníaca.

Entretanto, a melodia suave não era de sua natureza; sequer parecia ter saído de seu corpo.

Então, pela segunda vez, mais como um teste do que qualquer outra coisa, voltou a falar:

— Onde eu estou?

Sentiu a garganta arder novamente. Uma ardência acentuada nas cordas vocais que o fez engasgar, tossir e resfolegar em busca de oxigênio, agarrando a própria garganta como se pudesse, em um ato desesperado, abrir a traqueia com os próprios dedos.

Tropeçou pela primeira vez. E com o desequilíbrio do próprio corpo, em vez de encontrar apoio sob os próprios pés, encontrou o nada.

Flutuou ou, ao menos, sentiu-se flutuar, antes de atingir o chão com um baque doloroso que feriu as mãos e os joelhos.

— Mas o quê... — as palavras se perderam na desconfiguração de toda a realidade.

Ergueu a cabeça e, por um momento, pensou que a incapacidade de ver com clareza estava no fato dos fios compridos e ondulados obstruírem a visão. Entretanto, entre um piscar e outro, a cena foi se desenrolando como o desabrochar de uma flor. Ainda no chão, apoiando o corpo sobre mãos e joelhos trêmulos, Jungkook viu pela primeira vez uma imagem que não havia nada de assustador em absoluto, mas, por algum motivo, foi capaz de fazê-lo querer fugir.

PROTECTED • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora