Um Gamer em Outro Mundo

Capítulo 129: Pecado Inocente

  Sou um demônio, um ser entre os dois planos, invisível, intocado, sozinho. Vago através de anos, décadas, séculos, Eras, sem objetivo algum. Sem destino para chegar. Eternamente apenas observando, torturada pela solidão.

Fazia um lindo dia de sol quando pela primeira vez, alguém me viu. Ele era lindo, de olhos tão verdes quanto os bosques e cabelos negros quanto a noite sem luar. Por quanto tempo trocamos um olhar? Segundos? Minutos? Para mim, pareceu horas.

Seu sorriso. O sorriso direcionado a mim. A primeira coisa direcionada a mim, e só para mim. Foi como um brilho de luz em meio a escuridão de minha existência. Nunca esqueci aquele lindo sorriso.

Observá-lo passou a ser minha fixação, minha diversão, que nunca conheci antes de o encontrar. Ele estava sempre sorrindo junto com seus amigos, duas criaturinhas Onis. Seu sorriso faz parecer que toda a eternidade que vivi, foi esperando para encontrá-lo. Aquele lindo sorriso.

Meu corpo sentiu a dor que ele sentia ao perder um de seus amigos, um dos Onis. Ele parou de sorrir. Toda noite, chorava baixinho após a garota que sobrou, dormir. Não queria preocupá-la. Lutava para se recompor, mas era como se tivesse sido gravemente ferido.

Eu sentia sua dor em todo meu corpo, mas não tinha nada que eu podia fazer para ajudá-lo.

Que bom, ele encontrou uma nova amiga! Ele parece estar decidido a superar seu sofrimento. Mesmo esse mundo sendo imperfeito, cruel e tendo o machucado, ele empunha suas espadas todo dia para salvá-lo, se esforçando para amar este mundo.

Tudo que posso fazer, é torcer. Eu, que nunca me importei com o mundo físico, agora, pela primeira vez, absorvo almas para me fortalecer. Se eu conseguir me materializar e tocar seu rosto ao menos uma única vez, minha existência já terá valido a pena.

Suas lutas se intensificaram, assim como suas perdas. Seu sorriso está cada vez mais raro e seus olhos cada vez mais cheios de fúria. Seu coração foi despedaçado. Agora, ele derrama seu ódio contra todos que o ameaçam.

Suas espadas se banham em sangue em guerras que não são delas, enfrentam perigos e monstros que não estavam em seu caminho, fatiam e perfuram, partem e fraturam, tudo e todos em que ele coloca os olhos. Não importa onde esteja a luta e o perigo, ele persegue os dois, como se fosse a razão de sua existência.

Sussurro palavras em seu ouvido, mas ainda não tenho energia o bastante para fazê-lo me ouvir. Deito ao seu lado toda noite, mas ele ainda não pode me sentir. Tudo que quero, é vê-lo mais uma vez sorrir. Ver, aquele lindo sorriso.

Como ele conseguiu me ver, aquele dia de sol? Por que sorriu para mim? Por que não sentiu medo? Qual será seu segredo?

Seu coração dilacerado por este mundo imperfeito, cruel, o fez buscar paz momentânea em prazeres. Se perde agora em bebida, se embebeda em adrenalina quando em luta, e se deita com toda mulher que tem a chance, quando descansa.

Seus olhos continuam tão lindos, mas seu olhar é assombroso. Seu sorriso continua o mais gentil, mas esconde punhais por trás dele. Suas palavras carregam força, peso, influência. Suas espadas carregam vidas, temor e maldição. Maldição jogada por todos cuja perderam alguém para tais espadas.

Ele decidiu se acalmar, ficar um tempo em paz consigo. Guerras acontecem ao longe, onde mortes fornecem almas a serem absorvidas. Por um tempo terei que ficar longe dele, me fortalecendo, me preparando.

Quando voltar, pronta para tocá-lo, o que direi? Como direi? O que farei? Ele me temerá? Me odiará? Ou mais uma vez me dará, aquele lindo sorriso?