Mistura de Cores

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Elas saíram da mesa. Eu e Aquaria ficamos sozinhas, eu senti sua perna batendo na minha e um choque percorreu meu corpo.

—Você já viu Hotel Transilvânia 3?

—Sim, eu amei.

—Então, eu nunca vi. Eu tô lendo aquele quadro por uma hora e não tô entendo, traduz?

Eu li: Se chama tchan e toca como uma canção
-Hotel Transylvania.

Eu corei absurdamente. Como explicar a ela?

—Pode-se dizer que é como o amor age. Eu não sei explicar.

Comecei a me lembrar da música do filme. E o trecho que mais me marcou foi esse.

Quando rola o tchan não dá pra esconder
Porque se é o tchan é pra valer
O tchan no seu olhar me fez apaixonar
Essa vai ser nossa celebração
Você é meu tchan

Rolou o tchan com a Aquaria? Pelo menos da minha parte; sim. Mas no filme os dois se gostam.

—Cracker, tá tudo bem?

—Claro, por quê?

—Sua cara não tá muito boa.

—Eu tô feia? –Falei zuando.

—Isso é impossível. –Ela respondeu rápido e logo corou.

—Você quer fazer fazer uma mistura de cores?

Ela me olhou confusa.

—Rosa e vermelho.

Mais confusão no seu olhar. Eu me aproximei.

—Meu batom é rosa, e o seu é vermelho. Sei lá.

Ela corou.

—Seria uma boa.

Nós nos aproximamos até os nossos lábios se tocarem, uma onda de choque invadiu meu corpo, a boca dela encaixava como nenhuma outra.

Seu hálito por mais estranho que pareça, estava fresco. Ela segurou em minha nuca e eu me arrepiei ainda mais, sua mão envolveu minha cintura, e eu sentia um rio na minha calcinha.

Me separei dela, por ouvir pratos sendo quebrados, eu e ela olhamos, um garçom havia derrubado do outro lado do restaurante, dezenas de pratos.

—Tadinho. –Dissemos em coro.

Ela me olhou e mordeu o lábio inferior. Eu me arrepiei, droga de passiva que sou.

—Foi uma bela mistura de cores. Não sabia que era uma artista.

Eu ri.

—Eu sou formada em Harvard.

Ela riu.

—Harvard tem arte? –Perguntei.

—Ué, não foi você quem se formou?

—Eu estava sendo humilde, eu criei o curso.

—Para. Você construiu a faculdade.

—Tem razão.

Ela riu novamente, música pros meus ouvidos.

—Cadê aquelas piranhas?

—Será que elas realmente estão passando mal no banheiro?

—Espero que não.

Vanjie voltou alguns minutos depois. Eu e Aquaria estávamos rindo muito.

—Cracker, você precisa ajudar a Monet no banheiro.

—Ai meu Deus, o que houve?

—Vai lá.

Eu fui.

—Monet?

Abri a porta e me deparei com 6 cabines separadas. O banheiro era temático com personagens femininas e não-binárixs. Na porta havia escrito; sinta-se a vontade.

—VOCÊ BEIJOU A AQUARIA DE NOVO?

—Que susto garota, achei que estava morrendo!

—Morrendo de curiosidade. Me fala, o que tá rolando entre vocês.

—Sei lá, rolou um clima e eu a beijei.

—Como assim "clima"?

Você quer fazer uma mistura de cores?

—Uma conversa sobre tchan do Hotel Transilvânia.

—Eu sei o que é tchan, eu fui a roterista daquela bagaça.

Nós rimos.

—Ela vai dormir na sua casa?

—Não, a mãe dela vai buscá-la depois do jantar.

—Você beijou ela de novo.

Ela bateu em mim.

—Eu sei.

Uma mulher entrou no banheiro.

—Então, o menu desse restaurante é tão diverso.

—Eu sei, e a decoração?

Ela lavou as mãos e saiu.

—Eu tô muito feliz. Só não quero pensar na nossa relação por enquanto.















A Few Notes (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora