ou "Do Maniqueísmo Moral e da Moral da Aceitação"
I. Você já se perguntou porquê certas coisas que nos fazem mal são consideradas boas coisas ou coisas morais enquanto certas coisas que nos fazem bem são consideradas coisas más ou imorais?
A moral é um construto social, e antecede o indivíduo. É uma realidade pré-existente e um dos principais componentes da consciência coletiva, antes mesmo que nasça o dito indivíduo a moral já existe e está lá para moldar certas características do indivíduo. Dizem que a ética é um construto individual, que o indivíduo cria a sua própria ética enquanto a moral é coletiva. A ética na verdade é um subproduto da moral, algo que acaba tornando-se próprio da cultura da sociedade e dificilmente um indivíduo irá contra os preceitos éticos e morais de sua sociedade visto que a maioria das pessoas aceita esses preceitos sem titubear. O dito indivíduo que questiona a moral de sua sociedade muitas vezes é o que chamam de "imoral" ou "anti-ético" aquele que não atende ou não corresponde às exigências morais que a sociedade tem para com o indivíduo, e claro, estando a moral associada aos conceitos de bem e mal, o indivíduo moral(ou ético) — aquele que atende aos preceitos morais da sociedade — é visto como bom, e o indivíduo imoral(ou anti-ético), do qual eu já falei, é considerado como mal. E a pergunta que este ensaio procura levantar é: O que a sociedade considerada como imoral é realmente algo ruim? O que a mesma considera como moral é realmente bom? Por que as pessoas não questionam a moral? O que é uma moral ideal e uma moral prática?
Pois bem, não é necessária nenhuma análise profunda na moral de nossa sociedade para que percebamos que muitas coisas constituintes daquilo o que consideramos certo ou errado é simplesmente infundado, um preconceito desnecessário, mantida pela moral do rebanho. Este que simplesmente aceita o conceito de bem que lhe antecede como bem(ou moral) e o conceito de mal que lhe antecede como mal(ou imoral). É comum chamarmos estas coisas de tabus, como o sexo por exemplo, que para muitos, das mais diversas idades é um tabu. Existem diversas coisas que são tabus em nossa sociedade, o gênero, o sexo, as drogas, o corpo, a falta de religião, a opção sexual... A sociedade tem um molde moral que quer que sigamos, e qualquer desvio desse padrão moral é considerado uma imoralidade, algo ruim, feio, que a sociedade em sua maioria vai desprezar, estranhar, ter preconceito, e muitas vezes esse desprezo, esse preconceito é algo, como eu já disse, infundado. Por que, por exemplo, as pessoas agem com preconceito, desprezo e estranhamento quando uma garota faz sexo, quando ela corta o cabelo curto ou não se importa muito em depilar as pernas? A nossa cultura apresenta uma moral patriarcal e judaico-cristã, a santificação da mulher e os ideais "transcendentes" de beleza fizeram da mulher esse construto que conhecemos agora, e qualquer coisa que fuja à regra desse conceito de mulher que construímos é, para a consciência coletiva, imoral. Mas, como aponta Lacan, a mulher não existe. Isso é, essa mulher não existe. Nós(a sociedade) construímos e mantemos esse conceito, nós criamos essa mulher. A mulher não criou a si mesma, a mulher não decidiu chamar-se mulher, o conceito de mulher antecede a mulher, e o indivíduo do sexo feminino é vítima do construto social a que chamamos Mulher, e viverá uma vida agindo como esse conceito que lhe antecede. Como aponta Simone de Beauvoir: Não se nasce mulher, torna-se mulher.
Esse é um exemplo claro e perceptível de que existem conceitos infundados em nossa moral, e que devemos questionar aquilo o que a sociedade tem como moral, pois, assim como o conceito de mulher, todos os conceitos de certo e errado que englobam a moral nos antecedem, de modo que é o indivíduo deveria dizer para si mesmo o que lhe é certo ou errado.
II. Como vimos em ensaios anteriores, sabemos que o Homem tem uma volição ao prazer, uma tendência a buscar aquilo o que lhe satisfaz. O Homem quer o máximo de prazer no menor lapso de tempo, e se o Homem tem alguma Natureza então esta Natureza é a natureza do prazer. Em nossa sociedade existem prazeres considerados imorais, porém acabam tornando-se prazeres inevitáveis.
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Aurora do Pensamento
Non-Fiction"Máximas e considerações que constituem prolegômenos para uma filosofia posterior". Aurora do Pensamento reune uma diversidade de ensaios de cunho filosófico, que tratam dos mais diversos assuntos dentre estes o conhecimento, a literatura, a socieda...