Uma Introdução Posterior

2 1 0
                                    

Talvez não seja assim, tão comum, uma introdução de um livro estar justamente no fim do mesmo, é até contraditório: introduções não deveriam introduzir? Ora pois, se esse texto se encontra no final do livro não faria mais sentido chamá-lo "pósfácio"?

"Aurora do Pensamento" foi escrito em quatro anos. Sim, é um trabalho que demandou tempo, e nele não estão contidos apenas ensaios e pensamentos avulsos, mas sim uma coletânea da evolução de um pensamento e da aventura de uma alma neste universo chamado "filosofia". Desde que comecei meus estudos em filosofia sempre tive em mente — pois sempre me pareceu óbvio — que aprender filosofia implica diretamente em fazer filosofia, ora pois, não é isso mesmo que diz Mário Ferreira dos Santos?

Não podia deixar as coisas que aprendia e aprendo esvairem-se, precisava externar ou concretizar esses pensamentos em algo que não os pensamentos mesmos, então me pus a escrever. Hoje, lendo meus primeiros ensaios, eles me parecem vergonhosos. Envolvem um pensamento e uma lógica um tanto quanto equivocados — E não há nada melhor que isso! — Quantas vezes já não me refutei? Quantas vezes já não me corrigi? — Inúmeras! E inúmeras também foram as vezes em que complementei a mim mesmo e disse a mim mesmo "não consigo enxergar nenhum equívoco nessas palavras"!

O regozijo maior sempre esteve em aprender. É quase que como uma massagem no cérebro quando consegue-se absorver e abstrair os conceitos de determinada obra, que por sua vez te levam a um entendimento maior e mais completo do mundo! Ora! Não é essa a graça da filosofia? E nessas leituras — pasme — eu me deparava com meus pensamentos! Muitas vezes algo que eu havia pensado, alguma conclusão que eu havia tirado, eu a encontrava posteriormente em livros de autores que não eu, e isso era um júbilo! Saber que eu havia chegado às mesmas conclusões de outros pensadores sem ter conhecimento prévio destas obras fazia-me ver que eu estava indo no caminho certo!

Tive uma porção de mestres, mas tentei não me ater a eles. Gosto de pensar que uma das principais funções de uma produção filosófica é a de ser superada. Na história da filosofia ocidental foram poucas as construções filosóficas cujas quais as bases não se abalaram em nenhum momento, sempre é preciso que uma outra pessoa venha e reforce essas estruturas, ou destrua e construa por cima algo completamente novo! Não é isso o que chamamos "dialética"?!

Sobre este entendimento foi que concebi este livro. Certa vez me disseram: "tudo o que você pensou já foi dito mais vezes por alguém e melhor por alguém, dificilmente qualquer ideia consegue ser verdadeiramente original". Isso deveria ser desencorajador, mas não foi, tirou de minhas costas o peso de qualquer ambição e me fez conceber essa obra de forma natural, onde as ideias vinheram e também se foram no momento certo e sob a forma certa, rios fluiram por essas páginas, de tal forma que devem ser entendidas como um devém de um devir para sempre inacabado, e não como algo que se encerra em si mesmo.

Na verdade o livro nem sequer começa em si mesmo, ele é um livro infinito! Não teve começo em si, nem fim em si mesmo. E por ser justamente assim é que a introdução se encontra no limite das páginas do livro, na verdade, ela poderia estar em qualquer parte do livro! No meio, na capa ou quem sabe na lombada!

Sendo este livro necessariamente um devém isso implica dizer que algo está a porvir. Que é essa coisa? Ora, tudo o que está nesse livro é o embrião de uma ideia a ser amadurecida, esse livro não mostra conceitos encerrados em si mesmos, mas prolegômenos à conceitos que serão fomentados em ensaios conseguintes! Toda essa obra se trata disso, e é esse o teor desse livro: não se trata de um sistema fechado, mas sim de uma propedêutica para toda criação minha que for posterior a este livro, ora pois, tudo o que vinher, a partir daqui, virá da aceitação e manutenção dessas ideias, ou de sua total negação! Não é isso o que chamamos "dialética"?!

É por isso que chamo este livro de "Aurora", aqui está o berçário de todos os meus estudos até então e o embrião de todos os meus estudos a porvir, foram três anos escrevendo e refutando ensaios, mais um para revisá-los e corrigi-los, como estará meu pensamento em quatro anos a partir daqui? Quanto disso manterei comigo? E quanto disso superarei? Espero que tudo!

Conseguinte, convido você a um exercício que eu acho mister na filosofia: a discórdia. A filosofia é a ciência dos teimosos, pegue tudo o que está escrito aqui e discorde o máximo possível, questione o máximo possível, reduza ao absurdo! É isso o que farei, é isso o que venho fazendo e é isso o que continuarei a fazer: discordar, questionar, ser teimoso para com tudo! Só assim pode-se conhecer verdadeiramente qualquer coisa. Não é essa a essência da filosofia? A tensão das ideias e a vivência tensionada em questionamento? Devires, devéns e dialéticas que por excelência não se encerram?! Com que finalidade? Ora, finalidade das coisas mesmas! E assim, o alívio da alma!

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 30, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Aurora do PensamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora