ou "Breve ensaio sobre a existência a partir de reflexões próprias sobre o nada"
Certa vez me perguntaram como que eu posso provar a minha existência. E dessa pergunta se espera muitas vezes uma resposta empirista ou racionalista, posso dizer que existo porque sinto e posso dizer que penso, logo existo. Tanto os sentidos quanto a razão são formas válidas de apreensão da realidade. Mas como posso provar que a realidade existe? Isto é, como posso provar que a totalidade da realidade a qual estou inserido é, de fato, real. "Como posso provar a minha existência" desdobra-se pois na seguinte questão: Como posso provar que a realidade na qual estou inserido existe?
Pois bem, para tal pergunta são concebíveis quatro afirmações lógicas, sendo elas:
(i) Eu existo e algo existe;
(ii) Eu existo e algo inexiste;
(iii) Eu inexisto e algo existe;
(iv) Eu inexisto e algo Inexiste.
Porém estas possibilidades, por sua vez, desdobram-se em somente duas, pois, a opção (i) serve como resoluto para a opção (ii): Se eu existo, logo, algo existe, sendo eu este algo, e minha existência não é, e não pode ser, independente de minha realidade, pois, sou um Dasein(Ser-no-Mundo) e estou inserido na existência que me antecede, deste modo, se eu existo, e se eu sou algo, logo algo existe, e se algo existe e sua existência não é independente de si mesma, então há algo além do algo(Eu) logo, eu ,e portanto, a realidade em que estou inserido, existem. A opção (iii) por sua vez não tem fundamento lógico, pois algo existe, e se algo existe logo há uma realidade e uma existência apreensível, isto é, há um Objeto e mesmo este objeto existindo independente de um Sujeito que o apreenda o simples fato de eu conseguir apreender a realidade à minha volta prova que algo, em algum nível de realidade, existe, e se algo existe e eu apreendo este algo através dos sentidos e da razão logo Eu existo.
Deste modo restam duas opções:
(i) Eu existo e algo existe;
(ii) Eu inexisto e algo inexiste.
E a afirmação de uma dessas questões é portanto a negação da outra.
O resoluto para a opção (iii) poderia ainda ser o resoluto da opção (ii), porém, ao analisarmos a opção (ii) podemos levantar questões importantes que sustentam a opção (i) e fomentam o debate proposto no título deste ensaio, como: O nada é possível? O nada existe?
Pois bem, a existência de qualquer coisa é limitada, não podemos dizer que TUDO existe, pois existem coisas que são simplesmente inconcebíveis, e sendo as coisas existentes(ou a totalidade de nossa realidade) limitadas em si mesmas, chama-lo-emos de Tudo. Sabemos que o Tudo existe e podemos apreendê-lo enquanto contingência de Objeto. Sendo o Tudo existente: o Nada existe? O Nada está contido no Tudo? Ora, se o Tudo é a contingência de tudo o que existe e é apreensível, isto é, se o tudo é a nossa realidade e o que temos por real, o nada seria a contingência de tudo o que inexiste, e nossa realidade apreensível limitada por nossa Forma Intrínseca que por sua vez limita nossa Consciência Reflexiva que volta-se a si mesma. Logo se o Tudo é a contingência de tudo o que existe e é apreensível o nada por sua vez é a contingência de tudo o que inexiste, e se a consciência volta-se á realidade de si mesma e portanto a tudo o que existe logo o nada inexiste e é inconcebível. Ele não existe conceitualmente e tampouco fisicamente.
Provemos: pense no nada. Imagino que a imagem que sua cabeça criou de "Nada" seria um preto, um espaço vazio, o conceito que concebemos de Nada ainda é um algo, visto que "vazio" e a cor "preto" são coisas que apreendemos da realidade existente, logo qualquer concepção que façamos do nada provém de uma apreensão de um algo, e portanto para nós, o nada é inconcebível e toda a sua concepção possível é um algo. Logo o nada inexiste e é inconcebível pela razão.
Agora, adentrando no campo da física, o nada inexiste, mesmo as infinitas distâncias entre os planetas contém algo: Espaço Vazio, perceba, o vazio não corresponde ao nada, pois o vazio é o Espaço que não foi preenchido por algo. Se apagássemos todas as estrelas, planetas e galáxias, em suma, se apagássemos TUDO o que compõe o universo, o que sobraria? O nada? O que sobraria na verdade seria Espaço Vazio, isto é, o que Newton chamou de Espaço Absoluto, e o Espaço, como sabemos, existe, e o Nada Absoluto corresponde à inexistência, e na contingência de sua inexistência o nada inexiste. Logo até mesmo na física o nada(o nada absoluto) é inconcebível, pois o universo e sua contingência é Tudo o que existe, e para além da existência do Tudo nada existe, e sendo Tudo tudo o que existe logo o nada inexiste.
Recapitulando as opções decorrentes da pergunta inicial temos a negação da opção (ii) e portanto a afirmação da opção (i).
O exercício deste ensaio foi importante para rever o conceito de existência e inexistência, como tais conceitos se relacionam e como a Estética está envolvida em tais conceitos. E concluímos pois que o nada inexiste e é inconcebível visto que algo existe, e portanto a metafísica do Nada é a afirmação da existência de algo do mesmo modo que a existência de algo é a total negação da existência do Nada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Aurora do Pensamento
Non-Fiction"Máximas e considerações que constituem prolegômenos para uma filosofia posterior". Aurora do Pensamento reune uma diversidade de ensaios de cunho filosófico, que tratam dos mais diversos assuntos dentre estes o conhecimento, a literatura, a socieda...