Da Tirania da Beleza

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I. Ao reler o ensaio que diz respeito à beleza eu disse que "Pretendo desenvolver melhor meus pensamentos sobre a sociologia e a tirania da beleza em ensaios posteriores." e aqui estou para fazer isso.

Com esse ensaio pretendo responder a perguntas como: "Por que eu posso chamar a Beleza de uma tirania?" "E se a beleza é uma tirania, ela é danosa?" "Por quê?". Falemos pois da beleza e de como ela se manifesta socialmente, vale ressaltar que aqui não discorro sobre a metafísica da beleza ou a beleza "estética" como pode-se ler em Kant, Tomás e Burke, não pretendo adentrar nesse assunto, não é algo que me interesse ou que me convenha tanto. Aqui irei falar, como eu disse, da beleza em sociedade, aquilo o que chamei de Beleza Sujeito-Sujeito no ensaio anterior sobre o assunto. Antes de responder as perguntas supracitadas precisamos antes entender, ou ao menos refletir em como se dá a beleza em sociedade e como esse conceito age no psiquismo das pessoas. Vale lembrar que para uma melhor compreensão do que está escrito aqui, é importante ler os ensaios "Considerações sobre a Beleza", "A (aparente) Metafísica do Belo" e "Dos Tipos de Satisfação"

Como de praxe tentemos observar esse assunto pelo seu início. Quando foi que o homem começou a achar o mesmo de sua espécie bonito? E imagino eu, que só possa responder que a beleza se dá pelo prazer. Perceba, o homem primitivo, no coito com a sua parceira alcançava o êxtase, e sua mente associava o sentimento de prazer à parceira que o proporcionava e daí surgia um interesse primevo, um conceito embrionário do que viria a ser a beleza, como visto no ensaio A (aparente) Metafísica do Belo, a beleza está intimamente ligada ao prazer, e o conceito da Beleza Sujeito-Sujeito tem sua gênese no âmbito sexual. Pode ser um tanto estranho e até soar um pouco "freudiano" dizer que o conceito de Beleza tem haver com o sexo, mas a verdade é esta. Achamos um outro indivíduo bonito não por nenhum outro motivo além do desejo da cópula, quando vemos "beleza" em alguém não estamos diante de nada que é metafísico ou inexplicável, a beleza, nos sujeitos, nos atrai porque vemos nisso um prazer em potencial, a beleza é a nossa(ou uma das nossas) medidas de prazer. Voltando à ilustração que estávamos construindo, podemos perceber que até mesmo na arte a Beleza apresenta um certo apelo sexual, a beleza sempre esteve ligada à idealização do corpo, e a beleza é isso, um ideal. A beleza não existe em si e não é um conceito que antecede o Ser, a beleza só existe através da apreensão. Os gregos apresentavam os deuses não pela forma de homens quaisquer, mas sim apresentados através de corpos esbeltos, que provavelmente eram o ápice do corpo naquela sociedade, os romanos representavam seus imperadores não como homens quaisqueres, mas como ideais de homens, sempre em posições que remetem à reflexão e temperança, sempre trajando armaduras e vestimentas de batalha, e corpos sempre esbeltos. Mais tardiamente, os europeus, como italianos e franceses por exemplo, passaram também a representar a beleza e com o advento do cristianismo, a beleza agora tinha um apelo não necessariamente ao corpo, mas sim ao santo. As mulheres eram extremamente idealizadas, quando personagens bíblicas, sempre tinham uma tez branca e corada, olhavam para cima ou não fitavam diretamente o observador, a posição das mãos representava uma apelo ao divino ou ainda representava temperança, e quando não eram personagens bíblicas, apresentavam corpos esbeltos, de seios fartos e redondos, poucos pelos, longos e volumosos cabelos... Ao nos depararmos com a história da arte podemos notar esses ideais citados, a objetificação do corpo acompanha a história das sociedades, e é algo assim tão presente pois é justamente no corpo e no prazer em potencial do mesmo que o indivíduo enxerga a beleza, então consciente ou inconscientemente busca-se o prazer, e sempre um prazer maior no que diz respeito à Imagem do corpo e é aí que nasce a sua objetificação. Tornar o corpo um Objeto é um acalanto ao desejo e à pulsão do prazer. E nisso podemos ver outro viés da beleza, que é o da idealização.

Como observado, a beleza tem sua gênese no prazer e na idealização, no prazer pois a intenção do indivíduo no julgamento do belo se define pelo desejo do corpo e portanto pelo prazer em potencial de realizar esse desejo, e na idealização pois o indivíduo tende a objetificar o corpo já que inconscientemente o deseja, e a consciência coletiva tende a criar seu ideal próprio de beleza, que muitas vezes tende a ser a do indivíduo já que este está sujeito à consciência do coletivo.

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