O Indivíduo, a Sociedade e o Devir

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I. Sabe-se que: Tudo ocorre mediante uma ação, tudo é actio tudo é um fluxo perpétuo de acontecimentos e mudanças, panta rhei disse Heráclito, e ele estava certo, a Forma do todo permanece inalterada em seu existir, mas sua Matéria está em constante mudança, e cada uma das contingências do todo, do Cosmos muda conforme correm os fluxos e refluxos do rio. As coisas mudam e acontecem. Claro, pois se não mudassem e não acontecessem não "aconteceria" o existir do todo, a existência ocorreu mediante uma ação a priori, uma Vontade intrínseca ao tudo, a essência da essência. Uma ação primeira.

Chamem os religiosos e também os ateus de o que quiserem, sabe-se que a ação é a essência e o acontecer de todas as coisas e todo o Ser somente é mediante uma ação, seja dele como causa ou nele como efeito, e no homem(esse é foco do meu pensamento aqui) não é diferente, ele atua, tem ações, e executa suas ações mediante uma Vontade, um desejo, uma pulsão. E essa pulsão é a pulsão do prazer, o homem é hedonista por excelência, faz e deseja aquilo o que lhe regozija, claro, pois ninguém quer aquilo o que lhe faz mal. Como mostra Mário Ferreira dos Santos e também Ouspensky: em seu estado natural, o homem deseja aquilo o que lhe faz bem(lhe dá prazer) e rejeita aquilo o que lhe faz mal(não lhe dá prazer ou lhe dá desprazer). Porém o homem não atua individualmente, não atua em função somente da sua própria existência e de seu próprio prazer, por natureza, o homem se vê em sociedade, pois o homem tende à sociedade. E em sociedade ele está dividido entre as paixões e os deveres, como aponta Kant. Ele está dividido entre o seu prazer individual e a ordem dos prazeres do todo de sua sociedade. O homem é o Ser do Prazer, mas o homem também é, e atua na sociedade, ele influencia a sociedade e também é influenciado por ela. Ele constrói a sociedade e também é construído por ela, como nos mostra Hegel. O homem é um construto social e também um construtor social, fruto e semente da sociedade, e essa Dialética do Ser-em-sociedade só pode ser considerada em sociedade. O homem só pode ser dito como homem se estiver em sociedade, pois é a sociedade que constrói o conceito de homem, de Ser e de qualquer outra coisa; as coisas São, porque são em sociedade, e toda ideia veio de um Ser-Social.

O homem só É em sociedade. Portanto: Ser é Ser-em-sociedade.

II. Foi através da leitura de Schopenhauer e posteriormente através das leituras de outros filósofos como Nietszche e Spinoza que eu pude perceber que a plena liberdade, o livre-arbítrio a priori não existe; nossas escolhas, ações, vontades e Vontades são limitadas à algo que nos é extrínseco; em Cioran temos que as ideias e portanto, as ações são indiferentes em sí, no livre e aleatório agir das ações não há intencionalidade e portanto as ações por sí mesmas não carregam significados intrínsecos, mas significados extrínsecos, relativos à subjetividade do sujeito da ação. Mais tarde a leitura ou o conhecer de outros filósofos reforçou minhas ideias, Heiddeger, Lacan, Freud... desde que comecei essa viagem à filosofia já criei e destruí muitas ideias, mas esta que agora escrevo permanece inalterada em sua essência, apenas desenvolvendo-se conforme eu desenvolvo a minha cultura filosófica.

Desde cedo eu soube que o homem não atua sob plena liberdade, mas decerto é que: atua. E se não atua mediante a sí mesmo, isso é, se não atua mediante a própria liberdade, a própria Vontade e às próprias pulsões então atua mediante a algo que lhe é externo. E esse externo não pode ser metafísico transcendente pois implicaria na existência de um Ente extremamente pessoal, que brinca de ventriloquismo com suas criaturas. portanto esse "Externo" deveria ser metafísico e imanente ou metafísico aparente; e ao pensar sobre o que pode ser esse Externo mediador de ações descobre que ele atua bivariantemente como metafísico imanente e também/ás vezes como um metafísico aparente.

Na tensão entre paixão e dever, entre o próprio prazer e o prazer do todo há no homem a síntese entre o seu querer pessoal e o seu dever social, um querer social. Um prazer guiado pelo ser-em-sociedade(isso é, estar em sociedade), um agir que não vem propriamente do indivíduo mas da sociedade onde ele se encontra. Um querer que lhe parece próprio a sí mesmo, mas lhe é Externo. E como as ações atuam mediante uma Vontade, uma pulsão do prazer, e o homem deve equilibrar-se entre o seu individualismo e a sua atuação em sociedade, temos que a maioria, senão, todas as ações do homem são guiadas pelo seu Eu-social, pela sua ação de ser em sociedade. O homem não é livre em sí e por sí, pois é um Ser-em-sociedade, um indivíduo em Todo com os demais indivíduo desses Todo.

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