Dia 10
Hoje minha mãe acordou vomitando, semana passada ela raspou o restante do cabelo que perdeu aos poucos por causa da quimioterapia, mandamos o Lucas para casa do irmão da minha mãe, esses dias estão turbulentos, os médicos deram um mês para minha mãe.
Não sei exatamente o que tenho sentido esses dias, parece que eu estou anestesiada, tentando ser forte, mas volta e meia eu me tranco no banheiro e choro de forma compulsiva, perdi muito peso, e me sinto sem vida.
meu mundo está desmoronando.Dia 45
Cinco dias que enterramos mamãe, estou em choque, não derrubei uma lágrima ainda, Lucas permanece na casa dos meus tios em outra cidade.
Dia 50
Estou indo morar com o Marcelo não vou mais estudar na escola estadual, vou estudar numa municipal, vovó Margarida fechou a nossa casa, e me ajudou com as malas, infelizmente não posso ficar com vovó porque ela está muito idosa e minhas tias moram com ela, a casa está cheia, e ainda tenho o Lucas.
Ontem eu fui tomar banho, me joguei no banheiro, eu não sei mais o que fazer, de repente eu perdi tudo.
eu me perdi.
eu perdi o pouco
que eu tinha
de mim.Mudança
O Marcelo meu pai mora numa casa pequena, tem dois quartos, o dele e o meu e do Lucas, decidimos que o melhor seria colocá-lo numa creche escola integral, porque eu vou estudar a tarde e o Marcelo trabalha o dia inteiro. Trouxe o que eu pude para cá, estou tentando me adaptar ao espaço, é estranho, não consigo chamar ele de pai, faz duas semanas que estou aqui e nos esbarramos na cozinha, e as vezes ele pergunta o que quero do supermercado, ele é carinhoso com o Lucas, eles se adoram. Amanhã é o meu primeiro dia de aula na escola nova. Eu estou apavorada.
Sinto falta da minha vida, sinto falta de quando tudo estava no lugar e eu não sabia, sinto falta da minha mãe me acordando de manhã, sinto falta da comida, do cheiro e da casa velha. Sinto falta de mim, sinto um vazio enorme que cresce e grita.12:30 é a hora que vou à escola, a aula começa 13:00 e termina 18:00, vou andando, na cidade não tem ônibus público, e tudo é bem perto. Demoro uns 10 ou 12 minutos para chegar, o uniforme é menos ridículo que o da escola antiga, esse é branco e preto, e não pareceu um balão em mim, as vezes eu esqueço que meu cabelo está tão longo, e que demora bastante para arrumar...
18:17
Cheguei em casa, conheci um menino, o nome dele é Tomas, ele me emprestou o caderno dele para eu anotar algumas coisas que perdi, o caderno é absurdamente organizado, algumas páginas tem uns desenhos aleatórios de personagens de alguma coisa que nunca assisti, na matéria de biologia eu encontrei um bilhete escrito: "EU NÃO AGUENTO MAIS!!!"
e alguns números com quantidades:
2x essa semana.
5x hoje.
2x hoje.
Isso me deixou curiosa sobre o Tomas, ele mora duas ruas depois da minha casa, ele é alto mais ou menos 1,74 parece divertido, e super amigo de todos, inclusive dos professores. Amanhã pela manhã eu vou na casa dele devolver o caderno.Terça-feira 9:35
- Não precisava devolver com tanta pressa Aiko, anotou tudo?
- Sim, passei a madrugada nisso, odeio pendências, obrigada pela ajuda.
O Tomas estava segurando a porta para que eu não olhasse para dentro da casa.
- até mais tarde Aiko, nos vemos na escola.
- tchau Tomas!
Quando escutei a porta fechando, fui pra janela que ficava do lado da casa rodeada de arbustos e algumas folhas grudentas e salientes, vi o que parecia ser o pai do Tomas quebrando várias coisas e xingando a mãe dele, que chorava jogando uma pilha de roupas numa mala, eles gritavam simultaneamente. Fiquei tão nervosa que disparei para casa.
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PONTO E VÍRGULA
Подростковая литератураAiko é uma adolescente de 16 anos, que tinha uma vida tranquila e estável. Como um vendaval, sua tão pacata vida foi tomada por uma série de acontecimentos, o que ela pensava ser estabilidade, era o silêncio de memórias e sentimentos reprimidos. Es...