PONTO E VÍRGULA

XI GRITO

Plantei as sementes que Elisa me deu, são flores, sempre - vivas.
Alguns brotos já estão prestes a desabrochar, estou empolgada, estou pensando em comprar mais sementes, aqui tem bastante espaço para plantar. 

A borboleta laranja acabou de pousar nos brotos das minhas flores, tenho certeza de que é a mesma borboleta que vi outro dia. E novamente, ela parece saber o que eu penso.

Fui no quarto peguei o meu notebook e comecei a pesquisar sobre borboletas, descobri que quando elas saem do casulo sentem bastante dor, porque estão usando suas asas pela primeira vez.

Desde de segunda-feira, a borboleta tem vindo pousar sobre minhas flores, hoje vieram duas borboletas. Isso é muito engraçado. 

- Oi

- Oi filha.

- Você pode comprar algo?

- O que você está precisando?

- Sementes para plantar no quintal.

- Quer ir comprar agora?

- Quero.

Entramos no carro, coloquei o Lucas na cadeirinha, e o Marcelo colocou uma musica de The Lumeneers - Stubborn Love.
Eu não conhecia a banda, e comecei a viajar com aquela música, com o vento no rosto, encostei a minha cabeça na janela, e o sol estava quase indo embora, e parecia querer demorar mais um pouco, lembrei do Marcelo dizendo que me amava semana passada, e depois eu corri para o quarto sem saber como agir. Eu realmente acho, que ele nunca deixou de me amar, e estar ausente por anos, talvez doeu nele, assim como doeu em mim.

- Marcelo?

- Oi

- Pai.

- Sempre filha.

- Sempre pai.

Percebi que os olhos dele marejaram, e ele estava fazendo um esforço para não desatar num choro, estávamos quase chegando na loja de agricultura.

Eu nunca vi tanta coisa para jardinagem, compramos um pá pequena e amarela, luvas, tesoura, e um regador, e muitas sementes e vasos.

O Lucas pediu sementes de tomates e disse que seria o maior pé de tomates do mundo.

Voltamos para casa, e ainda havia sol, resolvemos plantar alguns legumes e vegetais, o Marcelo me ajudou, depois reguei com o regador e senti uma pontada de alegria e novamente aquela onda quente dentro de mim, era a terceira vez. Eu estava sozinha no quintal quando bateu um vento forte entre os meus cabelos, eu poderia jurar que era uma mão. O vento me envolveu no que parecia ser um abraço. A sensação era de estar submersa no ar.

Quando fui saindo do quintal, eu vi a borboleta novamente, eu sorri para ele e disse:

- Você é muito metida sabia? e eu gosto disso.