VII QUEM

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nasa.gov

Hoje eu descobri que existe a possibilidade de eu ver alguma fotografia de algo do espaço que foi tirada no dia do meu aniversário.

03 de julho.

Star Cluster 47 Tucanae.

"Esta imagem mostra o núcleo do aglomerado de estrelas globulares 47 Tucanae

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"Esta imagem mostra o núcleo do aglomerado de estrelas globulares 47 Tucanae.  Todo o aglomerado contém cerca de um milhão de estrelas, com muitas agrupadas firmemente no núcleo."

Demorei algum tempo olhando essa imagem, fiquei absorta do quanto ela tem semelhança comigo, uma bagunça, brilhante. Que pode ser observada de uma forma bem arquitetada, apesar de tudo que sou, eu ainda tenho tentado me descobrir. O que realmente faz da Aiko, um ser particular no mundo, e como eu posso contribuir de alguma forma nele.

Peguei todas as revistas mais velhas sobre planetas e astrologia e comecei a recortar, grudei tudo na parede em frente a mesinha que coloquei meu notebook, peguei um post-it e escrevi.

"Quem eu sou?"

Marcos deixou um livro semana passada na minha porta,  "Quatro Estações" - Stephen King. Ainda não sei o que fazer com ele, estou seriamente pensando em devolver hoje, não sei se falo para ele que não quero nada, não tenho nada, ou se simplesmente deixo lá.

Amanhã é aniversário do Lucas, 5 anos.
Marcelo disse que pediria uma pizza e compraria um bolinho, e perguntou se gostaria de chamar algum amigo. Eu disse que talvez.

Convidei o Tomas e a Elisa.

19:30

Escutei batidas na porta e era o Marcos, não entendi exatamente o que ele estava fazendo.
Segurava um presente na mão com um embrulho de Toy Story.

- Boa noite, senhorita vácuo.
Quantos vácuos são necessários para conseguir uma conversa com você?

- Oi Mar, Marc, Ma Ma, Marcos!
desculpa, mas, o que você faz aqui?

- Seu pai, um cara muito educado me convidou quando eu estava caminhado em frente a padaria com a Elisa e o Tomas, ele estava saindo com um bolo, e convidou nós três.

- Ué, mas como ele saberia que conheço vocês?

- Acho que pelo uniforme da escola, e pelo Tomas...

- Hum...
Entra, vai...

Marcos esta usando uma camisa verde escrito "i don't know" ele é meio que musculoso, ele faz natação, e alguma arte marcial que não sei qual é, o cabelo dele é liso e ele tem a pele mais escura que a minha, quando o vi pela primeira vez pensei que estava vendo o Taylor Lautner, em 2009.

A porta bateu novamente.

- Aikooooo!

- Oi, gente!!!
Estava esperando vocês. Olha como um banho te fez bem Tomas.

- Hahahaha! engraçadinha.

O Lucas ficou muito feliz com a festinha, ele pulava e tagarelava muito, dormiu depois de um tempo e ficamos conversando com o Marcelo, depois que tudo acabou. Fui levar o pessoal até a porta.

- Aiko, seu pai é maneiro, e o Lucas é um amor!

- O Lucas é um amor mesmo, você tem irmãos Eliza?

- Infelizmente não, mas tenho o Albert, meu cachorro.

- haha! queria um cachorro!

O Marcos esperou todo mundo ir, e me chamou para sentarmos na calçada, eu fui.

- Obrigada pelo livro, Marcos.

- Eu espero que você leia, senhorita vácuo.

- ...

- Você tem uns traços meio que coreanos, sei lá, você é linda!

- meu avô era japonês, e não coreano.

- E onde está o seu avô japonês e não coreano?

- morto.

- desculpa.

- tudo bem.
Preciso entrar agora...

- Por que você é assim? Por que se fecha e se esconde a cada vez que tento conhecer você?

- Eu não sei, nem eu mesma me conheço, não haveria muito para olhar.

- Aiko, eu sem ao menos ter tido um passe livre para te conhecer mais, já vi o deslumbre de algo extraordinário.

minhas pernas começaram a tremer, e senti um embrulho na barriga. O que raios está acontecendo?

- Amanhã é sábado, quer ir lá em casa?

- Não sei. Vou ver...
Tenho que entrar, tchau.

Sai quase correndo, quem ele pensa que sou?
"vem na minha casa?" eu mal converso com ele, e ele já vem me chamando para ir na casa dele.

Tomei banho, coloquei um pijama que a vovó Margarida fez, o que me fez chorar quando vesti, deitei na cama e chorei muito, com saudade da minha mãe, ela saberia como resolver isso. Saudade do meu avô, e das nossas tardes tocando piano, saudade da minha vida.

Chorei, até dormir.

8:45 de sábado

Eu já havia tomado café, e estava nervosa e pensando no Marcos, me troquei peguei o livro que ele me deu e resolvi devolver e dizer para ele parar.

Fui me aproximando da casa dele, e mais uma vez eu fui procurar uma janela para observar antes de entrar na casa. Encontrei uma aberta que dava para o que parecia ser uma sala, procurei alguma coisa e vi um enorme cavalete, e o Marcos pintando. A casa estava com cheiro de legumes, ou sopa. Não sei.

Bati na porta.

- Oi senhorita vácuo, pelo que vejo, veio me devolver o livro.

- Desculp...

- Oi querida, entra, vem comer!

Fui puxada por uma senhora um pouco mais velha que minha mãe, me mostrou a casa e perguntou se eu gostaria de comer alguma coisa. Depois de tanta insistência eu comi o que parecia ser uma salada de legumes.
Me recusei a comer da carne assada, e falei que era vegetariana. Ela ficou admirada e começou a perguntar os motivos e desatamos num diálogo.

O Marcos terminava a pintura, sorria de canto enquanto olhava a conversa. E de repente eu realmente participei do momento, sem fingir, sem me obrigar a estar, simplesmente, pertenci.

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